terça-feira, 31 de julho de 2012

OS VELHOS “DEMÓNIOS” DA GUINÉ(*)


Excelências,

1. Presidente da República, Senhor Manuel Serifo Nhamadjo;
2. Ministro da Educação, Dr. Vicente Pungura;

Estimados finalistas, pais, amigos e convidados,
 
Momentos como estes são importantes e revestem particular importância para um país como a Guiné-Bissau e o momento em que acontecem, hoje, numa situação em que o país tem tido poucas boas notícias. Momentos de grandes carências, de desafios, mas também de esperanças para vocês. Esperanças de um emprego e uma profissão qualificada. Esperanças de uma vida melhor mas também esperanças para o país que passa a dispor de mais uns 250 quadros qualificados postos a sua disposição.
 
Esta promoção é mais uma contribuição inestimável da Universidade Lusófona para a Guiné-Bissau. No ano transacto foram diplomados 349 quadros a maioria dos quais estão dando a sua contribuição nos mais diversos sectores da administração pública, do sector privado, das organizações não-governamentais enquanto outros continuam os estudos de pós-graduação ou de segundo siclo em várias universidades particularmente portuguesas.
O projecto educativo da Lusófona na Guiné-Bissau já formou cerca de 600 quadros, sendo de longe a maior contribuição na qualificação dos recursos humanos formados localmente, quer em termos de diversidade de áreas de formação, quer em número de estudantes formados por promoção.

Pela sua implantação em quase todos os países de língua portuguesa e pelo número de estudantes africanos nas diferentes instituições do Grupo, a importância e o impacto do projecto educativo do Grupo Lusófona transcende de longe as fronteiras de Portugal. Os seus resultados em qualidade e quantidade assim como a variedade da sua oferta educativa falam por si, colocando o projecto fora de alcance de toda e qualquer tentativa de ataque à sua imagem.
 
Excelência Senhor Presidente, caros convidados,

A nossa determinação e engajamento na formação prende-se com a nossa íntima convicção de que a riqueza de uma nação não se resume aos seus poços petróleo, minas de ouro, diamante, fosfato ou bauxite, mas sim na sua gente. Mas esta gente deve ser educada e devidamente formada para estar a altura de dar toda a contribuição que dela se espera.
Por isso esperamos que o país saberá aproveitar melhor essas competências, transformando o que no início era um projecto individual e familiar para o benefício do país e da sociedade no seu todo. Estamos esperançados de que no futuro este país deixará de ser predador dos seus recursos humanos, de ser repelente dos seus quadros e que saberá valorizar esta sua preciosa riqueza.
 
Excelência Senhor Presidente, caros convidados,

Permitam-me nesta ocasião lembrar que o nosso país não se libertou ainda dos seus velhos demónios que são:

1/. A ignorância que continua mergulhar o país no atraso, na pobreza e por consequência no subdesenvolvimento;

2/. As ganâncias, as ambições desmedidas, os sentimentos de prepotência, a aposta no dinheiro fácil que induzem à corrupção e ao envolvimento em actividades ilícitas minando assim os alicerces do poder político e os fundamentos da nossa sociedade.
3/ As invejas, as intrigas, a intolerância e a violência que continuam destruir vidas de muitos dos nossos concidadãos.

São estes demónios é que continuam nos impedir até hoje (quase 38 anos após a conquista da nossa independência) de encontrarmos um consenso mínimo permitindo pôr de parte os nossos diferendos e diferenças para colocarmos os do país em cima de tudo e de todos.
 
Excelência Senhor Presidente e caros convidados,

Estas palavras são de um guineense profundamente magoado, como todos os guineenses, magoados por constatarem a nossa incapacidade até hoje, de nos entendermos sobre o essencial para organizarmos o nosso país, garantindo o mínimo a este maravilhoso povo, ou seja a segurança, o bem-estar e a tranquilidade.

Segurança no sistema educativo dando garantias a cada pai de que na escola o filho está a aprender um ensino de qualidade.

Segurança no sistema de saúde proporcionando a cada doente cuidados e tratamentos dignos. Bem-estar nos seus lares podendo beneficiar de energia regular e de saneamento básico.
 
Após 37 anos de independência, os guineenses estão em direito de esperar estas condições básicas, diria elementares para qualquer país.

Este fracasso é de todos nós, estejamos onde estivermos, façamos o que fizermos, nenhum guineense sai ileso da condição em que se encontra o nosso país. Este fracasso não deve ser órfão, contrariando assim o provérbio cubano segundo o qual “se o fracasso é órfão, sucesso tem muitos padrinhos”. Este fracasso do nosso país tem de ser assumido por cada, humildemente mas sem conformismo, a fim de mobilizarmos todas as forças e energias disponíveis para contrariar este rumo que, doutra maneira nos conduzirá inexoravelmente ao abismo.

Peço desculpas por qualquer incómodo que este discurso possa provocar porque podia-se esperar em circunstâncias como estas um discurso de carris mais académico. Mas infelizmente os problemas do país são reais, de natureza existencial e não de meras hipóteses e teorias académicas. Por essa razão a academia não pode ou não deve estar alheia aos desafios sociais e societais do seu meio e do seu tempo.

Mas tudo neste país não é assim tão negativo porque há algo de importante a não perder, é o facto de o guineense gostar profundamente da sua terra e que ninguém o obriga a fazer o que não quer fazer. Encontra-se enraizado no mais profundo do guineense o que José Reis dizia “só sei que por este não vou”. Este sentimento de resistência e de aversão à injustiça que simboliza a nossa alma deve ser preservado a todo o custo. Preservado e utilizado no sentido positivo e construtivo.

Temos valores, temos recursos humanos e naturais, temos determinação e vontade, falta-nos apenas o entendimento entre todos nós, o reconhecimento e valorização de cada um, uma atitude de inclusão para pormos este país a andar, para o transformarmos num oásis invejável. Este sonho é possível e está ao nosso alcance.

Às vezes dá-me vontade de gritar basta, basta, basta de desperdícios de preciosas vidas, o desperdício do precioso tempo e de preciosas energias. Basta, vamos ao essencial!
 
Caros finalistas, a partir de hoje jamais poderão dizer não posso, não sei, não estou preparado. A partir deste momento têm o dever e a obrigação de procurarem ser os melhores nas vossas actividades profissionais, serem exemplares na vossa família, comunidade e na sociedade. Procurarem dar o vosso melhor ao nosso país. Lembro vos que a licenciatura é o primeiro grau do ensino superior. Continuem sempre a alimentar a vossa inteligência, a cultivar o vosso jardim interno. Nunca parar porque tudo para onde pararmos, parafraseando assim a minha querida mãe.

Para terminar, resta-me desejar todos vocês, sucessos profissionais e académicos e felicidades pessoais e familiais.

Saudar um antigo Reitor aqui presente, o Professor Doutor Idrissa Embaló.
Uma palavra de apreço muito particular à direcção da Universidade, aos nossos valiosos professores, aos funcionários, sem a corajosa dedicação dos quais esta tarefa teria sido impossível.

Os nossos agradecimentos ao Governo, parceiro e primeiro interessado nesta colaboração por prepararmos um produto final que pertence ao país. Trata-se de cidadãos Guineenses formados para servir o seu país.

O nosso profundo reconhecimento à S.E. o Presidente de República por aceitar o nosso convite marcando a sua presença neste acto demostrando desta maneira a importância que acorda à educação apesar de todos os desafios que pesam sobre os seus ombros.
 
Que Deus ou Allah abençoe e proteja a Guiné e ilumine os Guineenses para encontrarem o caminho certo.

Muito obrigados e Bem haja.

(*) - DISCURSO, CERIMÓNIA DE ENTREGA DE DIPLOMAS
BISSAU, ULG, 28 DE JULHO DE 2012
Professor Doutor Tcherno Djaló
(tcherno.djalo@ulusofona.pt)
Coordenador Geral da Universidade Lusófona da Guiné