quinta-feira, 19 de julho de 2012
Nhamadjo pede "diálogo" com a CPLP
O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, apelou à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) para que dialogue com as novas autoridades do país e "todos juntos" resolvam os problemas no país. "Para resolver os problemas temos de estar todos do mesmo lado, para juntos combatermos os males de que a Guiné-Bissau vem padecendo. Não é de costas voltadas que os podemos resolver", disse Serifo Nhamadjo em entrevista à Agência Lusa.
Na véspera da cimeira da CPLP em Maputo, Moçambique, que excluiu as autoridades de transição da Guiné-Bissau criadas na sequência do golpe de Estado de 12 de abril, Serifo Nhamadjo defendeu que a CPLP deve fazer parte da solução do país e lamentou "sinceramente" a falta de diálogo por parte da organização.
"Estando nós ou alguém, a transição teria de ser gerida e é importante que todos os esforços convirjam na solução desta crise. Até hoje não consegui entender o porquê da posição da CPLP em não fazer deslocar uma delegação a Bissau, tal como fez a CEDEAO (Comunidade Económica dos Países da África Ocidental), para, com todas as autoridades, resolver-se o problema", disse o Presidente de transição.
Primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional Popular antes do golpe de Estado, Serifo Nhamadjo disse que está na Presidência por "inerência de funções", por "imperativos legais", e por isso não concorda "com a atitude dos responsáveis da CPLP", que terá na cimeira de chefes de estado e de governo, em Maputo na sexta-feira, a presença de Raimundo Pereira, Presidente interino do país até 12 de abril.
Serifo Nhamadjo disse também que a atitude da CPLP é surpreendente, porque, quando o ex-Presidente guineense foi assassinado, em Março de 2009, as autoridades da organização tiveram outra atitude. "Precipitaram-se para que nós tomássemos providências" para a substituição. "No caso da Assembleia fomos pressionados para fazer alguma coisa, que até por lei nem era necessário".
O problema, na leitura do Presidente de transição, é que se liga o golpe de Estado à contestação das eleições presidenciais. O golpe deu-se na véspera do início da segunda volta, que tinha como candidato mais votado o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior. Serifo Nhamadjo e outros quatro candidatos contestaram os resultados da primeira volta. No entanto, lembrou na entrevista à Lusa, já se tinha registado "um levantamento no dia 01 de abril" de 2010, "e não havia eleições", bem como não havia eleições no golpe de 26 de dezembro de 2011. "Essa tentativa de colar (o golpe e a contestação às eleições) é tentar escamotear outras razões. Porque o problema da Guiné-Bissau não é de hoje, vem do passado", sustentou,
"Há um acumular de vários problemas que são problemas mal resolvidos. Há vários mortos, vários recalcamentos. É preciso que todos juntos possamos equacionar os problemas e tentar dar uma solução definitiva", afirmou. É por tudo isto que, considerou, a posição da CPLP, de não reconhecer o Governo de transição, "não está a ser muito realista". "Porque o povo da Guiné-Bissau não tem culpa, a Guiné-Bissau como Estado não tem culpa. E se existem problemas com certas pessoas, então que se organizem para que juntos possamos identificar os problemas e identificar as soluções". LUSA