quinta-feira, 26 de julho de 2012

NENHUM PAÍS VIVE A GLÓRIA DO PRESENTE SEM VALORIZAR O SEU PASSADO


O passado a que faço referência neste modesto artigo não é tão longe assim, até porque, algumas figuras ilustres que participaram no seu alicerce ainda estão vivas, apesar de “perdidos” nos labirintos do esquecimento, correndo risco de suas glórias serem apagadas da nossa memória coletiva. Estou a aqui a referir-me aos combatentes da liberdade da pátria.

Causou-me espécie, há poucos dias, ao ler noticias sobre a nossa Guiné, deparar-me com uma informação que dava conta que o conselho de ministros do atual governo de “transição” aprovou uma pensão por morte, em benefício da viúva do patrono da nossa independência e fundador das nacionalidades da Guiné e Cabo Verde, o Amílcar Cabral. A viúva é Dona Ana Maria Cabral.

Ao ler a noticia ocorreu-me um misto de alegaria e tristeza ao mesmo tempo. Alegria porque, com isso, estaríamos a corrigir uma das maiores injustiças para com a nossa própria história. Não se trata de uma omissão desrespeitosa apenas à memória do Amílcar Cabral, mas, também a de todos aqueles que como ele tombaram na trincheira do ideal libertador. Estou a falar aqui de uma pessoa que correu todos os riscos inerentes ao estatuto de cônjuge de um líder revolucionário. Viveu um drama pessoal com a morte de seu marido, pelo que é repugnante vê-la esquecida pela nossa classe politica. Ela em si é uma combatente de liberdade da pátria. É uma vergonha esquecê-la.

Apesar da minha discordância com os ditos governos de transição derivados de golpes de Estado, dentre os quais o que está em exercício atualmente no país, devo reconhecer que se for verdade que a viúva do Amílcar Cabral não recebia pensão por morte e só vai passar a recebe-la a partir agora, vai desde já a minha saudação ao “executivo”, por este gesto de inteira justiça. Aproveita ainda para exortar as mesmas “autoridades” que o gesto em questão seja para valer e não para servir de um puro marketing do regime.
Na mesma via, aproveita para dizer que se as informações acima corresponderem à verdade, ou seja, se a tal pensão só foi atribuída agora, peço à Dona Ana Maria Cabral, que queira aceitar desculpas do povo guineense, mesmo que essas desculpas venham de um humilde cidadão feito eu. Desculpe-nos, Senhora.

De igual forma, tive a grata surpresa de saber que o lendário combatente da liberdade da pátria, M´bana Cabra, graças a Deus ainda está vivo. A tal surpresa vem do fato de ser relegado ao anonimato e recebendo uma mísera pensão por reforma, o que foi até alvo de embate politico recentemente. Não se ouvia falar de um homem que ganhou fama nos campos de batalhas pela nossa independência. O homem que o inimigo aprendeu a respeitar pela sua coragem, bravura e determinação em lutar pela liberdade do seu povo.
Deixar de cuidar dos nossos heróis vivos é desprezar a nossa memória histórica.

É aviltar igualmente o esforço e espírito patriótico daqueles que já se foram. Pergunto até quando vamos continuar a desperdiçar a oportunidade de aprender com os exemplos de abnegação destes ilustres cidadãos. Caro M´bana Cabra, aproveito esta oportunidade para em seu nome render homenagem a tantos outros M´banas, solenemente esquecidos, enfrentando dificuldades de todas as ordens, agravadas pela exiguidade dos subsídios de reformas que recebem.

É absurdo, um país como o nosso, que escreveu com letras de ouro no livro da história dos povos que lutaram pelos seus justos sonhos de liberdade, tratarmos com descaso a memória politica do nosso povo. Sem nenhum demérito aos outros povos no tocante ao assunto, mas, nós tivemos um passado brilhante que precisa ser protegido com todo zelo necessário. Talvez seja a falta dessa memória que esteja a nos levar a perder o rumo de desenvolvimento e de paz social. Nenhum país vive a glória do presente sem valorizar o seu passado.
 
Alberto Indequi
Advogado e Empresário