quinta-feira, 12 de julho de 2012

A CEDEAO provou ser uma ilusão





CEDEAO: Reputação na mediação de conflitos na sub-região, vai de mal a pior - os ecos dessa contestação na imprensa francófona escrita e online.

1 - Fonte Maliweb (02/07/12)

41ª cimeira da CEDEAO, o Comunicado da discórdia.

A ultima cimeira da CEDEAO foi fértil em decisões que se ilustram pela incoerênia e inutilidade. Em vez de restabelecer a hiérarquia de responsabilidades no seio do executivo da transição, onde a noção de Primeiro Ministro com plenos poderes desaparece e o termo de Presidente por interino se substitui a de um Presidente de Transição, a CEDEAO continua a repetir as mesmas decisões baseadas na incoerência, tal como fez desde o inicio da crise maliana. Allassane Ouattara, esta a transferir « as reuniõezinhas » da BCEAO para o seio da CEDEAO onde se reune para dizer sempre as mesmas ladainhas e produzir invaravelmente comunicados atras de comunicados, porém quase sempre inuteis.

Tratando-se do caso de Presidente por Interino, a CEDEAO pede ao Governo maliano, para tomar todas as medidas para facilitar o regresso de Dioncounda Traoré ao Mali. Este pedido, deixa implicitamente compreender de que, não são efectivamente as razões medicais frequentemente invocadas em publico que, na verdade tem retido o Pi em Paris. Constata-se de que, são sim razões de segurança.

Allassane Ouattara, actual Presidente da CEDEAO sente-se agastado pelo facto da sua estratégia de manter Dioncounda no posto de PI para além dos 40 dias constitucionais que quase lhe custava a vida esta sendo um rotundo fracasso, sendo certo que, Dioncounda um legalista por excelência, não pretendia a prorrogação do seu mandato de forma unilateral como foi feito, sem o aval das forças vivas do mali, conhecendo sem duvidas melhor a psicologia dos seus compatriotas quanto a uma imposição unilateral vindo de fora.

Foi para esconjurar um novo ataque contra a integridade fisica de Dioncounda que Allassane Ouattara vem arrastando os outros Chefes de Estado para uma fuga em frente. A insistência em enviar ao Mali tropas para securizar os orgãos de transição e igualmente tentar mobilisar a ONU para autorizar o envio de uma força de intervenção internacional é exemplo disso, mesmo sabendo-se que, o Mali não pretende o envio dessa força, tendo em conta as experiências traumatizantes que as tropas da CEDEAO inflingem aos povos que eles alegadamente vêm «libertar».

A CEDEAO não tem meios de se lançar numa outra aventura de guerra e as NU, por seu lado, priviligia as negociações. As NU não mete nunca a charrua à frente dos bois e sabe que, acima de quaisquer resolução de conflito termina à volta de uma mesa de negociações (…).

Um dado importante, os EUA desaprovam claramente o envio de tropas ao Mali, desaconselhando fortemente o uso da força no Norte do Mali sem préviamente preparar as forças estacionadas no Sul no plano logistico e no plano do treinamento dos soldados quanto ao manejamento de equipamentos modernos de combate. O Capitão Sanogo, apesar de tudo, dissera em tempos exactamente a mesma coisa.

No decurso das precedentes cimeiras da CEDEAO, foi claramente indicada que nenhuma força seria destacada ao Mali sem o acordo das autoridades nacionais. O capitão Sanogo por nacionalismo opôs-se a uma decisão unilateral da CEDEAO quanto ao envio de tropas para o Mali. Esta tomada de posição, aliado à rejeição da solução Dioncounda para a Presidência da Transição fomentada por Allassane Outtara esta na origem da sua ira contra o capitão. Em represalia, Allasane Ouattara convence a organizasão a retirar ao capitão Sanogo o estatuto de antigo chefe de estado que a CEDEAO lhe havia outorgado como «prémio» de sedução e, para amansar o agitado capitão Sanogo. Retirando-lhe esse estatuto e, revogando ao mesmo tempo uma decisão capital para o processo de retoma da normalidade no Mali, Allassane Ouattara, mostra uma incoerência e um volte face caprichoso destinado a humilhiar a junta militar e o seu chefe...

Segundo os humores de Allassane Ouattara, hoje Sanogo é considerado como antigo chefe de estado reconhecido pela CEDEAO e no dia seguinte ja não é reconhecido como tal. Por estas tomadas de posições incoerentes e caprichosas, Allassane Ouattara enfraquece o prestigio da organizasão reduzindo-o ao nivel de um simples instrumento que serve simplesmente os seus interesses pessoais. Ele esta a procura da honra e da gloria..., o nectar de todos os chefes de estado africanos.

Allassane Ouattara vem-se vangloriando do retorno à ordem constitucional no Mali e na Guiné-Bissau sob a sua presidência da CEDEAO, diz ele, «com firmeza»..., porém, fazendo o balanço desses dois cenarios de conflito sub-regional, a realidade é bem diferente.

No Mali, a sua solução ia custando a vida à Dioncounda que se refugiou até hoje em França e, na Guiné-Bissau, o partido maioritario, o PAIGC de Amilcar Cabral, fundador da nação esta descartado do governo de transição e a CPLP rejeita liminarmente a solução imposta a este pequeno pais seu afilhado. As NU não aprovaram a solução bissau-guineense. Entretanto, a CEDEAO conseguiu correr com Angola da Africa Ocidental, isto é, raciocinando em termos de zona de influência pré-estabelecido.

Comprova-se assim, que Allassane Ouattara é um bom economista, mas um péssimo politico como todos os tecnocratas vindos à politica por portas travessas. Eles vêm com soluções que não têm em conta as aspirações dos povos, mas sim, o desejo e o jogo de interesses do sindicato dos chefes de estado (...

2 - Fonte Xinhuanet (06/07/2012): A Mini-Cimeira de Ouagadougou divide a classe politica e a sociedade civil maliana.

O mediador da CEDEAO na crise intitucional e securitaria no Mali, o presidente do Burkina-Faso, Blaise Campaoré, e alguns dos seus homologos tiveram sabado, dia 6 de julho, um encontro com as partes envolvidas malianas, tendo em vista, realizar «consultas e proceder ao alargamento da equipa governamental de transição aos actores politicos e à sociedade civil».

A realização desse encontro na capital burkina-bé divide radicalmente os actores politicos e a sociedade civil maliana e os seus resultados mitigados.

Efectivamente o Professor Younouss Hamayé Dicko, presidente da Aliança para a Democracia e a Republica (ADR), organização politica pro-golpe, indicou que, relativamente a esta mini cimeira: «da nossa parte não ha qualquer acordo para a sua realização. Nos pensamos, que o encontro de Ouagadougou não devia ter lugar e que não devem tentar resolver o problema do Mali fora do pais. Foi através dos medias que nos tomamos conhecimento da realização desse encontro. Ninguém nos informara antes da realização desse encontro. De todas as formas, não nos parece judicioso que sejam estrangeiros e governos estrangeiros a orientar-nos sobre o que devemos fazer ou não em prol do nosso pais».

Essa mesma posição de repulsa foi assumida pelos proximos do PM de transição do Mali, Dr Cheick Modibo Diarra reunidos no seio da «Frente para Restauração do Mali». Do ponto de vista dessa organização a «roupa suja deve ser lavada em familia, esta fora de questão ir a Ouaga, para falar do nosso pais». Os reponsaveis dessa frente vão até ao ponto de pôr em causa o mediador desse conflito, o presidente Blaise Campaore do Burkina Faso que nada tem contribuido para a evolução favoravel desse conflito, segundo eles. Efectivamente, eles questionam se não seria mais sensato e oportuno confiar a gestão da crise maliana a uma personalidade que respeite mais a honra e a soberania do Mali ? Não sera altura de pôr fim a uma mediação que ja demostrou sobejamente os seus limites? Interrogam os frentistas malianos.

Por outro lado, os responsaveis do Forum da Organização da Sociedade Civil (OSC) maliana, exprimiram toda a sua desprovação pela escolha anunciada de organisar este segundo encontro das partes envolvidas malianas em Ouagadougou. O Forum estima inoportuno essa segunda deslocação à Ouaga e convida todas as partes envolvidas a priviligiar o espaço nacional na procura de toda e qualquer solução para que possa ter a adesão e a aprovação dos cidadãos, sublinhou o Senhor Adama Diakité.

Nota : estes dois artigos (I e II), embora  a sua analise não nos diga directamente respeito em termos de conteudos aplica-se perfeitamente a nossa crise, onde a CEDEAo vem tomando e impondo decisões aberrantes, prepotentes, caprichosas e desrespeitosas da nossa soberania. Essas posições devem, à semelhança do que se passa na Guiné-Bissau, interpelar os politicos e a sociedade civil guineense quanto ao assumir das suas responsabilidades sobre a resolução da crise no nosso pais, pois devemos estar cientes de que, não sera a CEDEAO e tão pouco supostos iluminados mediadores (no caso da Guiné-Bissau, o presidente nigeriano Godluck Jonathan) que irão resolver os nossos problemas. A CEDEAO é mais um problema do que solução para a Guiné-Bissau.

A solução que estão a impôr à crise guineense (mercê da cumplicidade de um grupo de politicos e da cupula militar narcotraficante), não é mais do que, a consumação de interesses e de revanchismos primarios e obscuros de alguns paises dessa organização, nomeadamente do Burkina-Faso, Senegal, Costa do Marfim e a Nigéria, contra as aspirações emergentes de desenvolvimento do nosso pais encetado pelo governo deposto. A estratégia desses paises, em particular o Senegal, é manter o nosso pais no estado permanente de instabilidade social e politica e assim melhor continuarem, a manter-nos sob a sua alçada de influência politico regional, por um lado, e continuarem tranquilamente a delapidar e a explorar os nossos recursos e a aproveitar das nossas riquezas naturais, por outro lado.