sexta-feira, 13 de julho de 2012

O QUE TINHAMOS A APRENDER E A GANHAR COM ANGOLA


A parceria entre o povo da Guiné-Bissau e da Angola, remonta ao período em que o Amílcar Cabral e o Agostinho Neto conviviam na casa dos estudantes do império, em Lisboa, na década de quarenta do século passado. Ou seja, todas as confabulações e riscos inerentes aos pensamentos independentistas que os dois jovens estudantes corriam, já desenhavam o futuro dos dois países e dos seus respectivos povos. Isso é parceria. Existem relatos históricos que asseguram a participação do Amílcar Cabral na fundação do MPLA-Movimento Popular de Libertação de Angola.

Com o desencadeamento da luta na então Guiné Portuguesa e em Angola, o Cabral foi o grande interlocutor para angariação do apoio que o movimento libertador daquele país recebia do bloco comunista. Quando o PAIGC foi alçado à condição de porta voz dos povos em luta em África, os nossos combatentes de liberdade da pátria falaram em diversos fóruns internacionais, não só em nome dos povos da Guiné e Cabo-Verde, mas também em nome dos demais povos em África, que lutavam contra o regime de Salazar e Marcelo Caetano, dentre os quis o povo angolano.

Quando em 1970, o Papa Paulo VI recebeu em audiência privada, o Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos, foi o patrono da nossa independência quem falou em nome da delegação e inteirou ao sumo pontífice do andamento das lutas contra o regime colonial português em África, o que foi avaliado pelos analistas de então como uma grande vitória diplomática a favor da descolonização dos nossos países.

Outro dado histórico que ilustra a pareceria entre o povo da Guiné-Bissau e Angola, ocorreu em 1975, quando na sequencia do impasse politico que se instalou após acordo de Alvor,-Portugal, em que se previa a partilha do poder entre os três grupos políticos que reivindicavam a independência daquele país africano, MPLA-Movimento Popular de Libertação de Angola, UNITA-União Nacional para a Independência Total de Angola e a FNLA-Frente Nacional de Libertação de Angola, o governo da Guiné-Bissau, através das nossas gloriosas forças armadas interviu no conflito, a favor do MPLA, enquanto não chegavam as forças cubanas, que depois passaram a ajudar na sustentação militar do novo regime. O apoio dispensado pelo governo guineense foi fundamental para a definição do dia 11 de Novembro de 1975, como data da independência de Angola.

Como se pode perceber, de alguma forma, o nosso povo já deu seus préstimos ao povo angolano, e, nem por isso os angolanos se sentiram humilhados. Muito pelo contrário, entenderam com humildade as circunstâncias históricas que determinaram a nossa liderança nos episódios acima apontados.

O país está a conseguir e com sucesso, reconciliar e integrar os militares que lutaram em trincheiras diferentes, ao longo da guerra civil. Unificou as FAPLAS –Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, afetas ao governo e FALA- Forças Armadas de Libertação de Angola, afetas à UNITA, criando as FAA-Forças Armadas de Angola. O desafio de unificação e integração das FAA deveria servir de exemplo para a Guiné-Bissau. O processo de guerra civil foi traumático e a despeito de tudo isso consegue fazer uma reforma exemplar do setor de defesa, sem sobressaltos.

O berço político de cada militar integrado às FAA, não tem causado nenhum transtorno ao bom andamento das instituições civis e militares daquele país. Não tem ocorrido nenhum tipo de quebra de disciplina hierárquica e nem intromissões da classe castrense nas questões politicas e partidárias.

A proliferação de movimentos aramados que reivindicavam a independência daquele país, aliada ao fato de a base social e politica de cada um deles refletir a origem étnica dos seus fundadores, fez acentuar as clivagens políticas e ajudou a moldar os seus respectivos braços armados. Os quimbundos sentiam-se obrigados a alinhar com o MPLA, partido fundado pelo Agostinho Neto, e, ovimbundos faziam o mesmo com a UNITA, o movimento politico fundado pelo Jonas Malheiro Savimbi.

Em matéria de gestão de conflito-politico militar e sectarismo étnico, a Angola tem muito a nos ensinar. Aquele país teve a humildade de cooperar com Portugal, na reforma do setor de defesa, com ênfase na formação de oficiais superiores. Encarou o desafio de aprender com os portugueses, pondo lado qualquer complexo colonial. Tem sabido utilizar o seu poderio econômico para alavancar a sua projeção politica e militar no continente.

Alberto Indequi
Advogado e Empresário