segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Que futuro para o PAIGC?


No PAIGC, os Congressos servem essencialmente para radicalizar as os antagonismos, acentuar as contradições entre os grupos de interesses que vão surgindo por estas alturas, evidenciando manifesta incapacidade de dialogar e arrumar a casa. Numa altura em que está a ser montado um cenário fraudulento para relegar o PAIGC à oposição, seria lógico a tomada de consciência dos seus Dirigentes, quanto aos imperativos de se aglutinarem em torno de um único Projecto (reconciliador, inclusivo, realista e credível).
 
Entretanto, são nove (9) os candidatos que se perfilam à liderança do Partido, arrastando consigo os respectivos apoiantes, aflitos e desesperados, que encaram cada Congresso como uma oportunidade de vida ou morte para chegarem ao Comité Central, ou mesmo a Ministros.
 
A fatídica tradição de organizar os seus Congressos nas vésperas das eleições, sem se preocupar em posteriormente organizar, pelo menos uma Conferência, antes das eleições, para reconciliar os vencedores e os vencidos no Congresso e definir uma estratégia eleitoral inclusiva (partidária), faz com que o PAIGC se apresenta às eleições sempre fragmentado, com os excluídos e naturalmente descontentes, a constituírem uma forte oposição interna à direcção eleita no Congresso, acabando sempre por prejudicar os interesses do Partido, como aconteceu em 2005, com o regresso de Nino Vieira e mais recentemente com o Golpe de Estado perpetrado por Serifo Nhamadjo.
 
Apesar de existirem nove supostos candidatos à liderança do PAIGC, fala-se mais da candidatura de Braima Camará, que, em virtude de estar no terreno e da humildade com que se relaciona com os Militantes do Partido, leva uma vantagem confortável sobre as demais candidaturas. Quanto à Domingos Simões Pereira, parece ter dificuldades em compreender e dialogar com a complexa malha social que compõe o mundo do PAIGC. E o facto de ter afirmado que Braima Camará não tem condições para dirigir o PAIGC e posteriormente dirigir o País na qualidade de Primeiro-ministro, demonstra falta de humildade e constitui uma enorme desilusão para mim, enquanto seu admirador incondicional e que gostaria de ouvi-lo a falar das suas virtudes e não dos defeitos dos outros candidatos.

Acontece que Domingos Simões Pereira teve oportunidades que soube abraçar e se realizar na vida. E o seu percurso como secretário executivo da CPLP foi brilhante e constitui um orgulho para todos os guineenses de boa fé. Por sua vez, Braima Camará teve o mérito de chegar sozinho onde chegou, sem tios, nem padrinhos. E, tendo em conta a sua idade (muito novo), o seu património pessoal, o seu brilhante desempenho na Câmara do Comércio e no Grupo Malaika, o seu percurso político no PAIGC, do qual é membro do Bureau Político, seria injusto retirar-lhe o devido mérito, só por uma questão de concorrência, que neste caso, devia ser leal, por se tratar de uma eleição interna do Partido.
 
A desvantagem de Domingos Simões Pereira em relação à Braima Camará deve ser encarado com toda a naturalidade, porque tem uma explicação lógica: A DISTÂNCIA (que tanta angústia e tanto sofrimento já provocou, tanto sentimento destroçou, separando até mesmo o inseparável). Basta lembrarmos que, depois de dois mandatos á frente da Organização das Nações Unidas, Javier Perez de Cuellar não conseguiu ganhar eleições presidenciais no seu País; tanto El Baradei (director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica), como Amr Moussa (Ministro dos Negócios estrangeiros do Egipto, entre 1991 à 2001 e secretário-geral da Liga Árabe desde Junho de 2001 até Junho de 2011),  foram derrotados nas últimas eleições presidenciais no Egipto, por um desconhecido chamado Mohamed Morsi. A tendência mostra que, prestar serviço longe de casa não compensa.
 
Ainda na sequência disto, gostaria de deixar bem evidente que seria insensato da nossa parte, estabelecer qualquer comparação entre estes dois candidatos, porque apesar de ambos terem tido um percurso de vida profissional simplesmente invejável, cada um deles tem as suas especificidades, suas experiências de vida e suas valências e, nenhum deles chegou a dirigir um Partido ou um Governo, portanto seria uma experiência completamente nova, tanto para um, como para o outro. E neste caso, a formação académica não deve ser um factor relevante, na medida em que, são funções que pressupõem trabalho de equipa e em que a capacidade e a experiência de gestão de Recursos humanos e financeiros acabam por ser determinantes. Basta recordarmos que os melhores governantes do Século XX (Luís Inácio Lula da silva, Pedro Pires, etc. não têm formação superior).

Reitero as minhas preocupações pelo futuro do PAIGC e do nosso País, a julgar pela manifesta indisponibilidade e incapacidade de fazer cedências em nome da estabilidade e da coesão nacional, revelando falta de humildade e ausência de patriotismo e de sentido de Estado, num contexto que deixa bem evidente que, qualquer candidato que for eleito no Congresso, terá que lidar com um Partido fragmentado, fazendo ressuscitar o fantasma de um passado recente que resultou na actual situação que se vive no País.
 
O mais alarmante em toda esta dança de cadeiras, é o facto de o PAIGC ter estado a subestimar as eleições presidenciais, como se de nada servissem, quando todos sabem que delas depende a estabilidade governativa. O mais lógico nesta altura do campeonato, era a Direcção do Partido envidar esforços para convencer Braima Camará, Simões Pereira e Aristides Ocante silva á fundirem as respectivas candidaturas, criando o posto de Vice-Primeiro Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros para Domingos Simões Pereira e de Ministro da Economia e Desenvolvimento Regional para Aristides. E, se por ventura não forem criadas as necessárias condições para a participação de Carlos Gomes Júnior nas eleições presidenciais, o Partido comprometia-se a apoiar a candidatura de Domingos Simões Pereira para a Presidência da república e Aristides passava para a política externa. Seria maravilhosa ver um grupo de jovens realizados à reivindicar a gestão do País, num momento tão delicado como este.
 
Considerando as reais possibilidades desta fusão, antes ou depois do Congresso, com o vencedor a reconhecer a pertinência de incluir os vencidos no seu projecto, para garantir unidade e coesão no Partido e por reconhecer neles tributos imprescindíveis à uma boa implementação desse mesmo projecto, os candidatos devem pautar pela contenção, moderação, tolerância e respeito mútuo, como forma de erradicar o extremismo e manter aberta as portas do diálogo.
 
Nhu Preocupado.
 
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012.