sábado, 22 de dezembro de 2012

O paradoxo ianque


Foi com estupefação e imensa preocupação, que ouvi as declarações  do embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) na Guiné-Bissau com residência em Dakar, Sr Lewis Lukens numa conferência de imprensa realizada aquando da sua recente e curta visita de algumas horas à Bissau. Intrigado e surpreso  também fiquei, por essa visita e a conferência de imprensa que se lhe seguiu, tenha ocorrido cronometricamente antes do inicio dos trabalhos da Comissão conjunta para a averiguação da situação politica militar na Guiné-Bissau, composta por peritos das NU/UA/UE/CEDEAO/CPLP.

Contudo, todos nós sabemos, que essa visita relâmpago não tem nada de inocente, pois ela visava deliberadamente criar uma impressão de um cenário de normalidade e estabilidade no pais apos o golpe de estado de 12 de abril. Pretendia-se com esse show-off diplomático criar na mente dos elementos da missão internacional conjunta, uma imagem de estabilidade de fachada a fim de tentar influenciar as suas conclusões, querendo inculca-los erroneamente com esse ato de hipocrisia, de que «efetivamente existem progressos assinaláveis no processo de transição em curso na Guiné-Bissau». Essa visita, não passa de um lobbyng desavergonhado e desesperado do diplomata americano a favor do presidente imposto pela CEDEAO na Guiné-Bissau, o Sr Manuel Serifo Nhamadjo.

Pode-se compreender perfeitamente esse cenário, se se tomar em conta os compromissos que se dizem assumidos entre Serifo Nhamadjo e o governo americano em troca do lobbyng americano ao regime golpista. Um compromisso, que segundo fontes diplomáticas bem informadas, implicam nomeadamente, entre elas, a autorização já dada aos drones americanos para realizar voos de reconhecimento do espaço aéreo guineense com vista a recolherem dados sobre zonas referenciadas com operações ligadas ao narcotráfico e um confirmado interesse da Africom nas Ilhas do Poilão, tendo em vista o estacionamento de um posto avançado de um corpo de elite do exercito americano especializado no combate ao narcotráfico... etc.

Tudo isso podemos perfeitamente aceitar, pois todos nos sabemos, que os norte americanos quando os seus interesses estão em causa, não olham a meios nem escolhem métodos para atingir os seus fins, e tal postura leva-os a firmarem muitas vezes pactos até com o diabo. Contudo, é bom que o potentado americano saiba que, os compromissos assumidos com Nhamadjo enquanto presidente de transição ilegalmente imposto, exercendo poderes ilegitimamente outorgados, só a eles engajam, porquanto nem ele, nem o seu governo fantoche têm quaisquer poderes ou legitimidade para engajarem o pais em qualquer acordo que seja, senão os que sejam e venham a ser rubricadas pelas instâncias legitimamente constituídas e que representam soberanamente o Povo da Guiné-Bissau.

A parte as derivas e a falta de respeito do embaixador Lukens para com o povo da Guiné-Bissau com essa sua intervenção grosseira e não equilibrada na avaliação da crise guineense, é bom que ele entenda no entanto, que os guineenses atentos não lhe permitirão toma-los por lorpas ou otários não reagindo as suas manobras lobbystas. Senão vejamos,

A atitude do embaixador Lukens, de realizar essa visita maliciosamente programada em guisa de antecipação do inicio dos trabalhos da missão conjunta (quiçá concertadamente retardada por um dia pela CEDEAO, devido atraso da sua delegação), constitui uma ingerência grosseira e vergonhosa de um pais que se quer respeitada nos assuntos internos de um pais pobre mas soberano, porquanto o seu ato deliberado e oportunista representa uma atitude de manifesta parcialidade e de clara tomada de posição à favor da fação golpista e do regime anticonstitucional e ilegal instalado na Guiné-Bissau.

Para os guineenses, esperava-se e exigia-se, que num processo dessa sensibilidade, que o governo estado-unidense estive à altura de uma nação de bem e dignar e honrar os guineenses com a tradição e grandeza de um pais dito defensor do ideal democrático dos povos, e não apunhalar o seu Povo pelas costas, juntando-se e fazendo lobbyng a favor de um regime ilegítimo constituído de golpistas e narcotraficantes imposto aos guineenses de forma grosseira e coerciva pela CEDEAO através de um método antidemocrático que causaria inveja às maiores e piores ditaduras africanas.

Não se compreende, como uma nação que se diz a mais poderosa do mundo, quer militarmente, quer economicamente e também, propalado paladino da liberdade e da democracia no mundo, tenha a ousadia de apoiar um regime saído de um golpe de estado levado a cabo por militares e políticos comprovadamente referenciados e acusados pelos EUA, como pessoas ligados à praticas do crime organizado e do trafico de droga à escala internacional. Portanto os EUA estão a apoiar um regime catalogados por eles mesmos, como sendo narcotraficantes internacionais.

A posição do embaixador Lukens, relativamente aos militares é de tal forma incompreensível que chegou a ser hilariante, pois com um ar paternal a roçar o patético, foi ao extremo da condescendia paternal e aconselhar pedagogicamente os militares para se absterem dessas praticas nocivas (conselho, que estou certo, entrou nos seus ouvidos a 100km e saiu a 300km). Uma atitude ridícula e preocupante, pois é certo, que este tipo de atitudes provavelmente, nunca se tinha verificado nos anais da politica diplomática norte americana relativamente a uma matéria tão sensível como é, o combate ao trafico da droga, questão em, que costumam ser intransigentes e implacáveis com quem quer que seja.

Não se compreende, também, a colagem obsessiva do governo dos EUA ao regime vigente em Bissau, em particular ao presidente de transição imposto pela CEDEAO na Guiné-Bissau, sabendo de antemão das fortes e estreitas ligações que este mantêm tanto com o regime iraniano, assim como o do Sudão de El Bachir (países que apoiaram financeiramente a campanha de Nhamadjo e que continuam a apoia-lo até hoje), tendo em conta, que o governo norte americano devido as fortes ligações desses países com o extremismo islâmico e o financiamento do terrorismo, mantém com eles relações tensas e com sérias medidas seguimento e de retenção.

Também, não se compreende a colagem do governo dos EUA a Serifo Nhamadjo, sabendo que grande parte da sua entourage politica e militar que também contribuíram financeiramente para a sua campanha com dinheiro e meios de proveniência duvidosa e, que hoje, muitos deles foram por ele colocados, ora no governo, ora nas empresas publicas (casos da APGB ou a Guiné-Telecom etc...) ora, como seus conselheiros ou assessores, são também pessoas identificadas pelo governo estado-unidense como pessoas altamente comprometidas com o trafico de droga e o branqueamento de capitais.

Por fim, não se compreende, o que faz com que, os EUA, rejeitem posicionar-se a favor de um candidato presidencial potencialmente vencedor de uma eleição democrática, dita pela Comunidade Internacional, justa e transparente, que foi abruptamente interrompida pelos militares, e na qual o candidato presidencial Carlos Gomes Jr, hoje estranhamente ostracizado pelos EUA, sairia seguramente vencedor. Posicionar-se ao lado desse candidato, seria o posicionamento  natural dos EUA, pois seria de acordo com os princípios que alegadamente defendem que, é de apoiar a legalidade democrática em coerência com a defesa da verdade, da liberdade democracia e da legitimidade do poder. Porém, paradoxal e surpreendentemente, os EUA surgem no terreiro diplomático estranhamente a defender um presidente impostor e fantoche, pois forjado através de um golpe de estado claramente sustentado por interesses tribais e do narcotráfico... é certo, que custa a acreditar, mas é essa a pura e incrível realidade da posição norte americana com a qual os guineenses estão a ser confrontados e surpreendidos neste processo de capital importância para os guineense.

São muitas as interrogações e incompreensões que dilaceram a alma do Povo martirizado da Guiné-Bissau devido a esta atitude dúbia dos EUA e, para a qual, infelizmente, a nação mais poderosa do mundo, não possui hoje em dia, nem honorabilidade, nem argumentos de coerência moral e ética, para lhe dar uma resposta convincente e justa. Porém, se compreendermos, que infelizmente, no seio dessa nação considerada a mais poderosa do mundo em quase todos os domínios do desenvolvimento social e económico, continua a haver comportamentos primitivamente retrógrados encarnados por cowboys esquizofrénicos e tresloucados, como se de um Pais Far-West se trata-se..., então,  o paradoxo ianque deixa de ser um mundo de incompreensões e interrogações e tudo se torna normal e paradoxal.nInfelizmente, essa é a realidade de um mundo particularmente bizarro, que afinal de contas, é os Estados Unidos da América.

Poseidon