sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Hanks, Russel Hanks


Russel Hanks, o representante norte-americano em Bissau – tem um ar pouco convencional quando comparado com um típico e bem composto diplomata norte-americano – mesmo os mais novos, apesar de ele, já ter provavelmente atingido a década dos 50. O rabo-de-cavalo, espécie de tufo exibido numa cabeça de couro cabeludo já raro, é um dos traços do seu “desconvencionalismo”; outro, é a sua exuberância pessoal, manifestada em coisas como a forma calorosa como cumprimenta na rua os altos funcionários e militares com que se cruza.

Os adversários internos do golpe de Estado de 12 de abril detestavam as públicas efusividades do representante com a gente do poder; considerava-as manifestações de adulação em relação a “simples golpistas”, impróprias na conduta de alguém que representa um país com o gabarito dos EUA e os padrões morais a que as suas políticas devem estar sujeitas. As autoridades “provenientes” do golpe do Estado, essas, por sua vez, compraziam-se com os actos e até com as palavras do representante, vendo nelas compreensão dos EUA onde no caso da restante comunidade internacional só viam condenações. Eram por demais notórias as extremas mesuras com que as mais altas autoridades do regime pós golpe recebiam em audiência o representante norte-americano, para as quais cuidavam sempre de convocar os media, sabendo, como sabiam, da sua disposição em falar.

A exuberância do representante norte-americano tem, afinal, uma razão de ser – que por isso passou a ser objecto da compreensão dos que a detestavam. Não é propriamente diplomacia, na pura acepção da palavra, aquilo que ele faz em Bissau; ocupa-se disso, mas porventura acessoriamente. O seu verdadeiro “job”, para o qual apresenta um apreciável currículo, é quase de certeza o de acompanhar, com o seu olhar e os seus saberes de “expert” na matéria, fenómenos como o do narcotráfico e correlativos que se desenvolvem em toda a região, com ramificações na Guiné-Bissau. E, para isso, é de toda a conveniência um bom círculo de contactos e acessos, que a sua exuberância aparentemente inata facilita – nas circunstâncias em que é exercida. AM