terça-feira, 27 de novembro de 2012

OS PERIGOS DE UM PRETENSO PODER TRIBAL


A Guiné-Bissau apesar de ser um pais de pequena dimensão é constituído por um mosaico étnico-cultural variado de mais de duas dezenas de etnias, os quais, felizmente sempre conseguiram coabitar e conviver em perfeita harmonia e comunhão de pertença, facilitando e promovendo e resultando muita miscigenação entre eles.

Embora possa haver um sentimento natural de avaliação quantitativa, propicio a uma teoria da existência de uma maioria entre as etnias da Guiné-Bissau (normalmente disputada entre as duas teoricamente mais numerosas, os Fulas e os Balantas), é bom entender, que mais do que alimentar essa teoria de uma pretensa maioria étnica sobre as demais, é melhor as pessoas cultivarem em primazia, o sentimento do equilíbrio e da coabitação pacifica que sempre pautaram as relações interétnicas da Nação Guineense que se espelha no sentimento de pertença comum que foi força motriz da nossa gloriosa Luta de Libertação Nacional. E bom que se compreenda que, quaisquer tentativa de fazer prevalecer uma eventual teoria da divisão, ela será mitigada pela miscigenação interétnicas que diluiria qualquer pretensa hegemonia de um dos grupos étnico supracitados em relação ao conjunto das restantes etnias conjuntamente consideradas.

Em suma, a Guiné-Bissau, não sendo por natureza um estado tribal não pode rever-se na mera contagem dos seres que compõem o seu mosaico social e humano. Assim, quaisquer grupo étnico que se quiser considerar de per si maioritária no conjunto dos demais, tornar-se-á minoritária, pois serão isoladamente consideradas fora do conjunto das demais agregadamente consideradas no sentido uno da Nação Guineense.

Desprovido de outros meios, foi esse equilíbrio étnico-cultural que edificou a consciencialização nacionalista evidenciada na épica Luta de Libertação Nacional levada a cabo pelo PAIGC, permitindo a independência sem condições das Nações Guineense e Cabo-verdiana. Nessa gloriosa Luta de Libertação Nacional, participaram todos os guineenses sem distinção de etnia, pertença religiosa, cor da pele ou outra. Todos participaram de forma nacionalista, equitativa consoante o valor e a capacidade de cada um, sem se considerar a participação de cada um, como um valor isolado, ao ponto, de tal como hoje se pretender, fazendo valorizar um determinado grupo étnico, como sendo, o mais numeroso, o mais predominante, o mais preponderante, o mais sacrificado, o detentor de maior "matchundadi di luta"..., pois todos estavam unidos a um ideal único que era libertar o pais do jogo colonial.

Assim é bom lembrar àqueles que hoje apregoam créditos dessa luta, outrora comum a todos os guineenses, que se alguns entre eles incutem neles o retorno desse pretenso "crédito de Luta" arrogando terem participado em maior numero, outros poderão em contrapartida arrogar-lhes, serem os mais esclarecidos, os mais ousados, os mais aptos para dirigir, os mais dotados para comandar, os mais capazes para decidir, os mais organizados e muito mais..., visto que, a abrangência desses pretensos créditos se encontra ao alcance dos argumentos de cada um, podendo com eles cada um, argumentar como bem entender, pois para ser MAIS há teorias e factos que chega e sobra.

E bom lembrar aos guineenses de que, este estado de coisas foi sendo falaciosamente argumentadas e engendradas, tendo por base a mera causalidade geográfica onde se deu inicio a Luta de Libertação Nacional que conduziu a independência da Guiné e Cabo Verde. Por razões evidentes, que não quaisquer outras que se possa pretender, é normal que nessas circunstâncias, o grupo étnico maioritário da zona geográfica onde se deu esse acontecimento quase de adesão nacional que é o inicio da Luta de Libertação do pais do jugo colonial, venha a contar com a adesão de todos os nacionalistas, e claro, maioritariamente com a adesão do grupo étnico naturalmente maioritário nessa zona geográfica onde se deu esse acontecimento... porém, nada que lhes confira qualquer exclusividade ou que, sejam por isso o elemento determinante do resultado dessa Luta de Libertação Nacional.

Certo porém, é que, devemos reconhecer que a sociedade no seu todo falhou ao minimizar esse fenómeno que foi sendo apregoada e doutrinada em surdina há muito tempo na Guiné-Bissau e que, hoje infelizmente esta a desestruturar e a destruir por completo o nosso pais. Partindo-se da teoria da vitimização e marginalização fortemente incutida e enraizada em mentes pré-formatas a essa teoria, acrescido de acontecimentos marcantes que conduziram a processos de fuzilamentos mal explicados, um grupo étnico sente-se assim permitido a conceptualizar de forma elementar uma suposta sobreavaliação étnica de sua participação na Luta de Libertação Nacional, para assim legitimar e reclamar os ditos "Créditos de Luta" da forma mais brutal e destrutiva que se possa imaginar.

Para tudo isso contribui fortemente a guerra civil de 7 de Junho. Essa guerra, foi o pontapé de saída para se instalar este estado de coisas na Guiné-Bissau. Como sempre, argutos e pacientes, porém traiçoeiros por natureza, os ditos "matchus" deixaram às expensas dos militares mais capazes e habilitados dirigirem e ganhar a guerra que motivou a adesão popular do lado dos insurretos a partir da intervenção das tropas senegalesas e da Guiné-Conacri no conflito. Dessa fase beligerante seguiu-se a tomada do poder civil pela "tribo elitista" através de eleições em que a sociedade civil, ainda abalada pela violência da guerra e a procura cega de um culpado dos males que vivera com a guerra acabou por escolher amarga experiência cujo resultado todos nós conhecemos. Dessas eleições resultou a instituição de um Estado Palhaço que foi o cumulo da vergonha para todos os guineenses durante 3 longos anos,... até 2003. De permeio nesse mandato, foram sendo eliminados os maiores e mais destacados lideres militares da revolta de 7 de Junho e, posteriormente, como uma saga de tomada de poder premeditado, um a um até assumirem o poder militar com a eliminação do insubstituível Veríssimo Correia Seabra.

Cereja sobre o bolo, Nino Vieira, levado pela sua ganância, caiu no engodo e entregou-se infantilmente a fúria de uma sanha de vingança cruelmente barbara onde as suas anteriores "vitimas" tiveram o privilégio de saborearam o prazer de lhe dispensarem uma morte atroz sem honra nem gloria.

Palmo a palmo, de cadáver em cadáver, aqueles que outrora se auto-intitulavam "vitimas" e "marginalizados" do poder, foram construindo paulatinamente o seu império do medo que hoje se exerce impunemente em Bissau. Hoje, eles sentem-se e agem como senhores absolutos do poder em todo o pais, e tudo isso, mercê apenas das armas que detém quase em exclusivo, facto que lhes confere a propalada "matchundadi" para, em absoluta impunidade semearem a destruição no pais praticando a tortura, a matança seletiva sem dó nem piedade. Enfim, o exercício do poder do terror para se eternizarem no poder usando e abusando do poder que essas armas contra políticos e cidadãos indefesos.

Infelizmente, o que se pode constatar, é que essa teoria passou hoje à pratica e esta perigosa e imparavelmente em execução, semeando o mal e a divisão entre os guineenses. E certo porém, que essa atitude criminosa e irracional criara inevitavelmente na mente dos guineenses que hoje estão vitimas dessas atrocidades, o gérmen do odio e da intolerância, cujo principio da sua germinação estamos a assistir no dia a dia..., mas cujo fim ninguém pode imaginar.

Pergunto até quando meus irmãos?

Até quando tomarmos a consciência seguindo o lema postado no blog do nosso Aly universal, parafraseando Stuart Mill, "Uma pessoa com convicção tem a força equivalente a 100 mil que tenham interesses apenas".

Alberto Kasimo Mané