terça-feira, 27 de novembro de 2012

Carlos Gomes Jr e PAIGC em afastamento; candidatura de Braima Camará posiciona-se


1 . Estalaram tensões entre Carlos Gomes Jr e a direcção do PAIGC, devido a desinteligências mútuas em relação à posição do partido face a aspectos da presente situação política. A situação tende a comprometer definitivamente o cenário, de per se já considerado distante, de uma reeleição de C Gomes Jr no cogresso de Jan.2013.

A mais recente discórdia foi em relação a um entendimento parlamentar alargado relativamente à presidência da ANP-Assembleia Nacional Popular, ao qual o PAIGC aderiu, por decisão da direcção presente em Bissau, mas contra vontade de C Gomes Jr e dirigentes que com ele se mantêm no exterior – Portugal, em particular.

A saber:

- A direcção local do partido, nos termos do entendimento, aceitou que Ibraima Sory Djaló, do PRS, fosse designado presidente da ANP e, implicitamente, prescindiu do direito de indicar o presidente, como partido com maior representação parlamentar; a título de compensação, coube-lhe preencher os 2 lugares de vice-presidente – Isabel Buscardini e Augusto Olivais foram os escolhidos.

- C Gomes Jr pressionou a direcção no sentido de não aceitar a nomeação de Ibraima Sory Djaló e de não renunciar à faculdade de designar o presidente da ANP; pretendia que Raimundo Pereira fosse reconhecido como titular legítimo do cargo.

À data do golpe de Estado, 12.Abr, Raimundo Pereira exercia interinamente as funções de Presidente da República – por imperativo constitucional decorrente da morte de Malam Bacai Sanhá. O seu cargo original de de presidente da ANP, de que não se demitira, passara interinamente a ser exercido pelo 1º vice-presidente I Sory Djaló.

A “normalização” assim alcançada da actividade parlamentar, de facto paralizada desde o golpe de Estado, contornou intentos anteriores (AM 708) no sentido da sua dissolução

e criação de um Conselho Nacional de Transição. O Pacto de Transição, nunca subscrito pelo PAIGC, vai também ser reformulado e adoptado pela ANP.

2 . Em Out havia já sido assinalado um episódio ilustrativo de anormal mal estar; a direcção do partido interditara as suas instalações ao exercício de actividades de uma colectividade, Frenagolpe, conotada com C Gomes Jr e cujo objecto consistia em reclamar o regresso à ordem político constitiucional anterior ao golpe de Estado.

Na forma e no espírito de uma carta, 11.Out, que serviu de reacção de C Gomes Jr às restrições impostas à Frenagolpe, haviam já sido identificados sentimentos de reserva e/ou desconfiança do mesmo em relação à lealdade de elementos da direcção, incluindo alguns, próximos, como António Barbosa “Cancan” e Adietu Nandigna.

O distanciamento em relação a C Gomes Jr notado no comportamento de dirigentes do partido e da própria direcção, é remetido, entre outros, para factores decorrentes da convicção de que o status quo pós golpe se consolidou o suficiente para tornar impossível o cenário de uma restauração da ordem política anterior ao golpe de Estado.

De acordo com uma leitura da situação perfilhada por parte substancial dos dirigentes do partido em Bissau, não sendo politica e materialmente possível o “regresso” de C Gomes Jr, por rejeição do regime saído do golpe e, de forma velada, pela própria CEDEAO, seria negativo condicionar a política do partido a tal pressuposto.

3 . C Gomes Jr reafirma a intenção de se voltar a recandidatar à liderança do PAIGC no congresso de Jan. É, porém, pouco provável que isso se concretize. É imperativa a sua comparência física no congresso, mas é corrente a avaliação de que não dispõe de condições mínimas de segurança para se deslocar a Bissau.

A convicção de que C Gomes Jr não se apresentará ao congresso (agora, eventualmente, também por estar ciente de que já não dispõe de apoios internos capazes de garantir a sua eleição), converteu-se num novo elemento impelidor da eventual candidatura de Braima Camará “Bá Kekuto” (AM 696), que provavelmente sairá ganhadora.

B Camará não anunciou até agora a intenção de se candidatar – o que provavelmente só acontecerá depois de uma reunião do CC marcada para o princípio de Dez. Alguns factos verificados, sugerem, porém, que a ideia se encontra em marcha, contando para tal com amplos apoios internos no PAIGC – inclusive no plano regional.

A única candidatura até agora anunciada, a de Domingos Simões Pereira, ex-secretário executivo da CPLP, aparenta estar a atravessar uma fase de diminuta vitalidade. Os excassos apoios internos que a candidatura despertou são considerados reflexo do nítido favotismo com que B Camará se apresenta.