quinta-feira, 22 de novembro de 2012
CEDEAO: O mal maior
A intervenção desacertada e nebulosa da CEDEAO no processo da crise da Guiné-Bissau acabou por reforçar em mim a convicção de que, essa organização regional, mais do que resolver os problemas dos paises membros, cria-os e os agudiza ainda mais, tal é a incompetência e a incapacidade que demostram no terreno dos acontecimentos, seja dos seus orgãos, seja das suas estruturas, quando se trata de resolver a minima crise regional que seja. Tal como o seu estado-mater, a Nigéria, a CEDEAO é o cumulo da desorganização e de interesses mafiosos.
A crise guineense, traz à luz a fragilidade e a desorganização dessa instituição no capitulo da resolução de conflitos e da gestão de crises dos paises membros. Alias, essa fragilidade estrutural organizacional ja era evidenciado pelo não cumprimento arreigado de varios dos seus membros dos principios comunitarios de base apregoada por essa organização, como é o caso do principio da livre circulação de pessoas e bens no espaço comunitario. Basta sair de Bissau para ir a Dakar ou vice-versa para se sentir no bolso o peso da incoerência de principios, dessa organização. No minimo dos minimos, por cada um dos sete chek-points de contrôlo terrestre estratégicamente instalados, os policias senegaleses e gambianos de um lado e do outro, subtiram aos pobres cidadão guineenses 1.000 Francos Cfas (1,6 euros) por carimbo. Se se recusar a pagar, o cidadão corre o risco de ali ficar dias... ou, para melhor convencê-lo a pagar, ameaçam-os com a cadeia ou recâmbio.
Essa conclusão, decerto têm-no também neste momento a maioria dos guineenses que, assistem impotentes e incrédulos o seu pais ser desbaratado e anarquizado por uma sanha tribal e criminal sem precedentes na historia do seu pais mercê de uma decisão politica aberrante, roçando o banditismo de estado que foi tomada pela CEDEAO, ao apoiarem e abençoarem o golpe de estado de 12 de abril de 2012 levado a cabo por Antonio Injai e Kumba Yala.
O que ainda é mais paradoxal, na crise guineense, é que, ela esta a ser tratada de uma forma sectaria mente enfeudada por um grupo de quatro chefes de estado da organização (Nigéria, Senegal, Burkina e Costa do Marfim), os quais de uma forma ou outra possuem interesses inconfessaveis sobre a Guiné-Bissau. Diz-se enfeudada, pois não se compreende que uma comunidade constituida de quinze paises é deixada refém do ego-centrismo de interesses de quatro chefes de estado mafiosos que, prevalecendo-se oportunisticamente da sua condição delegada de «mediadores» de um conflito entregaram irresponsavelmente um pais aos desmandos da anarquia e a brutalidade de uma elite militar sanguinaria com ligações comprovadas ao narcotrafico e o banditismo armado. O Burkina-Faso que faz parte do Bando dos Quatro, embora não sendo estado mediador, foi o pais chave no golpe de estado, porquanto, o aval da acção interruptiva do processo eleitoral para impedir Carlos Gomes Junior ganhar as eleições presidenciais em curso, veio comprovadamente desse pais.
O incômodo que o posicionamento e a importância que a acção de Angola junto ao Estado da Guiné-Bissau estavam a criar a esses paises, em particular a Nigéria e Senegal, face ao contexto geo-politico e de interesses de recursos regionais em disputa, de forma alguma, podera servir de pretexto de tão aberrante e desencontrada intervenção que, catastrôficamente e contra todas as previsões, acabou por mandar as calendas gregas a propalada «tolerância zero contra golpes de estado» para..., paradoxalmente premiar golpistas militares, caucionando um golpe de estado e a tomada do poder pela força. Enfim, uma decisão de gravidade extrema e por demais razões que possam existir incompreensivel e injusticiavel perante o direito e a democracia que paulatinamente se estava edificando no nosso marterizado pais.
Porém, em tudo isso, é preciso tentar encontrar as razões, o clik detonador, que deve estar na base dessa decisão incrédula da CEDEAO que conheceu o ponto de reviravolta no encontro de Dakar em maio ultimo, em que uma suposta reunião do grupo de mediação parab a Guiné-Bissau fora surpreendentemente transformada em mini-cimeira de chefes de estado por representação delegada. Efectivamente, entre o periodo que mediou o golpe de abril e essa reunião, algo de muito grave se decerto se tera passado e, é mais do que certo que, jogadas de bastidores maquiavelicamente montadas acabaram por traçar esse inusitado e inesperado desfecho de apoiar o golpe.
Sobre essa ante-câmara do golpe, é bom lembrar que, como consequência dessa cimeira da discordia, registaram-se posições contraditorias não negligenciaveis, tal como, a colérica reacção do chefe de estado gambiano, Yaya Jhyamey ao constactar a montagem de Dakar, assim como o abandono putativo do presidente da Guiné-Conakry da chefia de mediação do processo bissau-guineense, que se diz, devido as interferências grosseiras e constantes de Blaise Campaoré no processo. Por tudo isso, cada vez mais me convenço de que a crise guineense, não foi um caso tratado de forma normal e pelas vias da coerência pelas instâncias da CEDEAO.
Como um mal não vem so, também a instalação ilegal e abusiva das forças da CEDEAO na Guiné-Bissau, em nada veio alterar no sentido positivo a situação de crise na Guiné-Bissau..., pelo contrario piorou ainda mais com a sua presença, pois com ela no terreno, as manifestações politicas foram proibidas, os politicos e activistas dos direitos humanos e associações da soceidade civil continuam a ser perseguidos e amedrontados, as pessoas são presas diariamente de forma arbitraria, pessoas (civis e militares) são raptados à luz do dia ou a calada da noite, politicos e contestatarios do golpe são espancados e abandonados a sua sorte, pessoas comuns são assassinadas a um ritmo de serial killer, algumas desses assassinatos foram executadas sumariamente, o numero de presos e desaparecidos em parte incerta aumentam a cada dia... devido a perseguição e temerem pelas suas vidas as fugas para o estrangeiro de politicos e de altos quadros acentua-se todos os dias. Enfim, cada um a seu jeito, a CEDEAO ensombra o pais com a sua inutil presença, enquanto os militares se divertem a matar o Povo e a afundar o pais.
Este estado de coisas, por culpa e cumplicidade da CEDEAO, que esta a conduzir o pais a um autentico atoleiro regional, como palco de crimes, da impunidade e do narcotrafico, respalda a forma, leviana, irresponsavel, roçando mesmo o menosprezo, com que essa organização que não se respeita a si mesma, trata as questões da Guiné-Bissau, das nossas populações e das nossas instituições.
Somos tratados de uma forma porca e desrespeitosa pelos nossos supostos estados-pares, isto é, como um estado membro de segunda categoria, um povo mal-adoptado, um autentico out-sider numa sociedade, qual hidra de cabeças vampiricas maioritariamente francofonas e anglofonas.
Ainda assim, o que me deixa mais triste, é ver e constatar de que, ha guineenses que, na vã ansia de mandar servem cegamente de séquitos e cumplices dos criminosos do seu Povo.
Porém, estou certo de que, um dia a justiça lhes batera à porta.
Carlos Té