segunda-feira, 26 de novembro de 2012
OPINIÃO - A QUESTÃO DA GREVE NO SECTOR DA EDUCAÇÃO
A greve é, sim, um direito colectivo. É uma arma poderosa de pressão e de coerção que chega ao ponto de fazer cair um governo (com certeza que nenhuma greve fará cair o governo da Guiné-Bissau neste momento). Ninguém discute a legitimidade sindical de decretar a greve como também não se discute a titularidade do direito de greve que pertence aos trabalhadores. Por isso mesmo, convidamos a algumas reflexões sobre a oportunidade dessa greve, sobretudo, porque tudo indica que as reinvindicações não são conjunturais mas estruturais e ocorrendo no período de vida de um governo de transição. O próprio Presidente de Transição afirmou no primeiro congresso do Movimento Nacional da Sociedade Civil que “A nossa função como presidente de transição é de um bom bombeiro. Mas, posso dizer-vos que é um bombeiro que tem um cisterna de água a meio gás...”
Será que os promotores da greve não estarão fazendo o jogo daqueles que menos estariam interessados em mudanças positivas na Guiné-Bissau? Será que estão conscientes da tamanha ignorância na qual o povo foi e está mergulhado? Será que já analizaram as causas da mediocridade dos nossos poderes, e que os deputados me desculpem, em particular do poder legislativo, onde poucos sabem ler de facto?
Será que não se deram conta do aproveitamento que se fez e se faz do estado da ignorância dos nossos eleitores que resultou entre outros num parlamento com as caracteristicas que conhecemos, que permitiu que nos impõem ministros iletrados em pleno seculo vinte um e que a CEDEAO se substituisse aos eleitores, sem nenhuma resistência? Tudo isso, senhores promotores da greve, constitui a tentativa da legitimidade da ignorância e do obscurantismo! E, se por mais um deslize, isso continuar, acreditem que ainda menos será valorizado o papel que vos cabe de construir recursos humanos válidos para o país e, em perfeita igualdade de conhecimentos, capacidades e oportunidades com os demais de, pelo menos, a subregião. Será que não se deram conta que a educação deixou de ser uma referência e um trampolim para a mudança social e económica da sociedade guineense?
Já se perguntaram porque a crise no país parece não incomodar a população que vive as matanças como um destino fatal? Será que já analizaram, o impacto psicossocial da paralesia da instituição escola na vida das crianças e jovens neste momento de profunda crise? Será que têm a plena consciência da fraqueza da instuituição educativa no seu estado actual e da sua longínqua possibilidade de ser motor do fomento do desenvolvimento do país? Será que sabem que quanto mais semi-iletrados for os adolescentes e jovens maiores são as possiblidades de serem recrutados pelo narcotráfico e milicias armados?
E, quanto menos o povo for educado maiores são as possibilidades das crises se reproduzirem? Já se deram conta que os filhos dos poderosos não estudam em escolas públicas? E, que na volta, quando o estado se prezar pela boa governação, velará pelos critérios da competência para governar o país, e aí? Será que não existe outra maneira de fazer pressão para obter o que reinvidicam? Quais são as oportunidades da greve vir a ser coroada de sucesso, quer dizer ter ganhos colectivos palpáveis e objectivos sociais efectivamente realizados?
Senhores educadores, vamos repetir: “pursor tchumba, alunos passa?”. Até que ponto é oportuno continuar nessa via? Sr Luis Nancassa, conhecemos a sua firme e legitima vontade de ocupar, um dia, a magistratura suprema do país, então pare e pense. Então, crie outras estrategias, mais viáveis, mais adequadas e consequentes com o direito à educação em tempos de crise e de urgência.
Sejam patriotas! Todos para escola!
QES