sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Guiné-Bissau: A SIDA em risco


O Secretariado Nacional de Luta contra a Sida (SNLCS) da Guiné-Bissau lamentou, na terça-feira, que mais de 20 anos após o primeiro caso notificado no país “o estigma continua a ser um dos maiores obstáculos” no combate à pandemia. João Silva Monteiro, secretário executivo do SNLCS, disse que, até hoje, nunca alguma figura pública se assumiu como seropositiva, porque, apesar de todas as campanhas, se “teme a exclusão”.

“Outro sinal triste da estigmatização prende-se com o facto de muitos guineenses escolherem a calada da noite para procurar anti-retrovirais”, disse o responsável, que criticou “os próprios serviços do Estado que praticam a estigmatização” quando exigem o teste de Sida a candidatos a bolsas de estudo no exterior. João Monteiro disse à agência Lusa que há países, como a China ou a Rússia, que exigem esse teste, mas que os serviços competentes o fazem mesmo para candidatos a bolsas para países como Brasil ou Portugal, que não têm essa exigência.

“É contra a lei e é desumano”, disse, acrescentando que é também “monstruoso” que se tenha chegado ao ponto de impedir uma pessoa de ser jornalista por ser seropositiva. O SNLS começou na terça-feira em Bissau um encontro para debater a lei 5/2007, de prevenção e tratamento da Sida, na tentativa de, através de melhoramentos na lei, se chegar “à realização plena e universal dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais”. O secretário executivo referiu que, “se há discriminação, é porque a lei ou não foi suficientemente divulgada ou porque tem lacunas ou está desactualizada”. 

Um relatório divulgado na terça-feira pelas Nações Unidas aponta que pelo menos 2,5 milhões de pessoas contraíram o vírus da Sida em 2011, com a África subsaariana a ser a mais afectada. A Guiné-Bissau está no grupo de países onde houve um aumento  de pelo menos 25 por cento de novas infecções. Em Setembro passado, as organizações de luta contra a Sida na Guiné-Bissau já tinham alertado para a situação “muito delicada” em que estava o país, quase sem apoios depois de o Fundo Global (organização internacional de apoio à luta contra a malária, tuberculose e SIDA) ter cancelado a cooperação.

Os cortes começaram há um ano, mas agudizaram-se depois do golpe de Estado de 12 de Abril passado, referiram. O país ficou durante algum tempo quase sem reservas de medicamentos e de suplementos alimentares. João Monteiro disse, na terça-feira, que os problemas começaram antes, por alegadas irregularidades na gestão do dinheiro do Fundo Global, mas considerou que o país viveu “uma sanção” (pelo golpe). “O Fundo anunciou que vinha. Antes, diziam que não vinham por motivos de segurança”, disse, precisando que a delegação do fundo chega a Bissau no início do próximo mês para negociar um novo programa, mas mais reduzido”. LUSA