segunda-feira, 27 de abril de 2015
OPINIÃO AAS: Mon na lama, pé na pot-pot
O principal problema da Guiné-Bissau é o guineense.
Fiz todos os planos para chegar a Bissau no dia 1 de abril de 2015 e graças a uma companhia aérea chamada Air Senegal, consegui!!! A ideia era deixar as pessoas na dúvida. Veio mesmo, ou será mais uma mentirinha do 1º de abril (fiz o mesmo no ano passado, e recebi dezenas de chamadas e mensagens. Entretanto, eu estava em Cabo Verde).
A Air Senegal - que deveria chegar a Bissau às 16 h e poucos do dia 31 - voltou a fazer das suas. Depois de quase 12 longas horas no aeroporto da Praia, com as lojas free-shop todas fechadas, mostraram finalmente quanto respeitam os guineenses. E não é que aterrei mesmo na minha terra no dia 1, depois de quase meio dia num aeroporto? O destino tem destas coisas, e o destino tem sempre a razão do seu lado.
Não sei se será Bissau a consumir-me num ápice ou o contrário. O que sei, e não me escapa, e continua a irritar-me é a má educação que se instalou nesta cidade avermelhada, perdida no tempo, húmida e poeirenta: as pessoas parece que regrediram no tempo. Eis Bissau, a capital decadente da escancarada Guiné-Bissau que já foi - presumo que nem isto supunham - a primogénita do Reino!
Viver em Bissau requer dois pressupostos fundamentais: estar preparado para tudo, para tudo mesmo, e ter paciência de chinês. São, aliás, virtudes mais do que necessárias para se sobreviver nesta utopia, onde tudo é organizadamente desorganizada.
Bissau, a cidade, está cansada e a rebentar pelas costuras. Esventrada por tudo quanto é lado, simplesmente implodiu. Não tem praticamente esgotos e os que tem estão perfeitamente entupidos e nalguns casos solidificados (a Arezky que o diga). Bissau, e não é segredo para ninguém, tem sofrido de ano para ano com a incúria dos Homens; depois, como que numa de vingança, tornou-se numa perfeita madrasta, com mais de quatrocentas mil almas - cada uma com a sua dor.
Os seus melhores terrenos e algumas casas foram sucessivamente ocupadas, algumas vendidas ao desbarato ou ocupadas pelos djintons di aonti ku di aós numa teia de interesses dúbios que ninguém no seu juízo perfeito entende. E no fim, ficará tudo por esclarecer. As usual.
No mercado do Bandim, os vendedores ambulantes queixam-se de uma Câmara Municipal que num minuto diz que os quer ver fora dos passeios, e no minuto a seguir lhes vende as senhas que lhes permitem exercer a sua actividade de chatos ao sol. Extravagâncias nossas. Desde dezembro até hoje, vão uns mesitos. Eles lá continuam, vendendo tudo no passeio. Tudo quer dizer mesmo tudo, e tudo é falso, como Judas. Como nós.
Os policias de trânsito continuam com as manhas de sempre. Estão quase sempre sujos e mal fardados, pedem dinheiro aos condutores, manga e amendoim aos vendedores. Agora, quando nada mais podem exigir a um incauto condutor, perguntam: "tem catana? Sabe, é pela sua segurança!". O tom é normalmente grave. Ah, Santa Imaculada!
Os toca-toca são um mal, ainda que necessário. Os seus condutores são dos mais mal educados e menos formados que eu conhecerei numa vida. Estão sempre sujos, conduzem de chinelos e outros estão simplesmente descalços. Ocupam três faixas, em perfeita sintonia mas em clara competição, e são eles que praticamente alimentam diariamente os polícias de trânsito. Assim, quem os multará? Ninguém. Andam nas vias que lhes estão vedadas, e, se confrontados, insultam e partem para as vias de facto.
Os ajudantes dos toca-toca serão uma espécie que terá existido na terra há milhares, talvez dezenas de milhões de anos e que nunca chegaram a evoluir. A sua especialidade? Em plena via, abrem de repente a porta, sem sequer encostar, para o passageiro entrar. Este, sem sequer pensar que o carro de trás o pode facilmente entalar, estragando-lhe o dia, alinha...
Esses ajudantes (diz-se que são eles que mandam no carro), escarram e cospem na nossa cara, bebem água e atiram depois o saquinho para a via pública numa perfeita indiferença; insultam os passageiros, quase sempre mulheres e até batem nos catraios. Não respeitam as regras de condução, não conhecem os sinais de trânsito sequer.
Enfim, nós os guineenses escolhemos a mediocridade e, perdoar-me-ão a filha da putice, mas essa merda fica-nos a matar! A pirâmide está invertida. O País precisa de ORDEM!!!
Os citadinos de Bissau, na sua maioria coitados, é que não têm para onde fugir. Estão cercados por todos os lados. Fogem mas regressam numa quase doidice e vagueiam na poeira procurando sabe-se lá que tralha. É-me bastante doloroso assitir a esta decadência em dominó.
Aqueles que se especializaram em roubar este Estado idiota, continuam por aqui. Agora, roubarão noutra freguesia: são tirados daqui e colocados além. É fartar, vilanagem! Gente que nunca teve nada na vida, de repente entra para o Estado e começa a exibir sinais de riqueza tais, que uma pessoa fica de queixo caído.
Tenho provas...e isto vai rebentar!
Onde já se viu uma via rápida, e falo da av. dos Combatentes da Liberdade da Pátria, sem uma passadeira aérea ou mesmo subterrânea na Chapa de Bissau? Sair do Alto-Crim e chegar à Chapa de Bissau é um inferno por causa dos toca-toca e dos táxis. Mas passar a rotunda da Chapa é como correr a ultra maratona no deserto do Saara!
Aqui, em plena via rápida, para além dos carros, temos de ter atenção a tudo: carrinhos de mão com carga de mais de 1 tonelada, putos de patins em linha completamente alheios aos perigos por acontecer (si bu madjan...), vendedores a cada esquina, gente a mijar nas barbas dos transeuntes e da polícia que também verte as águas onde calha.
Centenas de contentores que deixam a cidade mais suja e muito mais quente, estão plantados em tudo que é esquina ou aberta, sem qualquer preocupação de segurança. Para compor o ramalhete, ainda temos os cães - quase todos coxos, atropelados na via pública - os porcos, as manadas de vacas e de bois, os patos e toda a prole - normalmente muitos patinhos. Bissau é uma cidade suja - e não é de hoje mas também não se pode esconder; mas Bissau podia ser diferente.
Cercada por água, podia ser uma capital belíssima. Está estrategicamente implantada nesta costa. Projecta-se agora uma marginal que começará no Pindjiguiti (a praça será completamente reformulada) e desaguará na praia de Suru. Planos são uma coisa. Veremos.
Bissau é uma cidade onde a má educação dos seus munícipes e a desordem, imperam. Quem tem mais estudos mostra ser o mais bruto dos ordinários! Faz mesmo por isso, o que é uma coisa extraordinária! É a matemática da coisa.
Resumindo: Parece que nós, os africanos, temos o sexo nas mãos. Pois onde metemos a mão, fodemos sempre tudo! António Aly Silva