sexta-feira, 25 de maio de 2012

Tristeza e impotência



Oi irmão,
Segue este texto que te agradecia se possivel publicar no teu blog. A situação passou-se com a senhora minha mãe.
Um abração.
 
Eis o texto :
 
Estimado Sr Aly Silva,

Permita-me através do teu famoso e reconhecido blog, dar a conhecer uma situação que presenciei ontem, e que, pelo desmesurado comportamento dos intervenientes e a aparente injustificação do acto, merece a minha modesta indignação.

Ontem, fazendo o meu percurso habitual de regresso a casa apôs mais um dia de «paka-paka pa intchi barriga», um burbúrio de contestação no passeio por onde passava via sede dos Bombeiros Humanitarios junto à Presidência da República, chamou inadvertidamente a minha atenção.

Motivo : um pequeno grupo de jovens, maioritariamente moradores na zona rodeavam uma Senhora (cujo nome faço questão de omitir porque não me deu autorização para tal) que, inconsolávelmente abanava a cabeça, como que, a procurar compreender a razão para o que lhe acabara de acontecer.

Facto : funcionários da EAGB, segundo disseram, sob ordens expressas da Casa Civil da Presidência, vieram retirar de forma grosseira e com requintes de humilhação os cabos de alimentação da corrente eléctrica da sua moradia, cuja fonte de alimentação partia do posto da Presidência. A razão dessa conexão, tal como quase todos os seus co-vizinhos, deve-se ao facto de a Presidência ter a dita «corrente permanente», o séssame que todos procuram devido a permanente falta de energia electrica que assola a cidade de Bissau. Da conversa, constatei, que a corrente não era fornecida gratuitamente, porque ela passa pelo contador da EAGB e a referida Senhora tem os pagamentos das suas facturas em dia.

O insólito : a referida Senhora foi a única, entre todos os outros beneficiarios dessa fonte de ligação na referida zona, a ser alvo dessa inusitada medida de restrição. Soube ainda que, tal deve-se ao simples facto, de ser familiar proximo do deposto PM, vencedor da 1a volta das eleições presidenciais anuladas por kumba Yala e o Comando Militar e,... e como tal, ela é natural e logicamente contra o golpe de estado. Alias, sentimento comungado por uma esmagadora maioria da população da Guiné-Bissau. Foi esse o unico «crime» dessa Senhora.

Sentada numa cadeira de plastico no passeio contiguo à sua casa, a Senhora mantinha-se cabisbaixa e rodeada dos seus «mininus di casa» que não paravam de a consolar. Perante quadro tão triste e impotente de amarfanhada amargura..., sem dar conta, acheguei-me a ela e, instintivamente, toquei-lhe no ombro, quiça para lhe afagar e solidarizar-me; disse-lhe com voz um pouco embargada : tia sufri. Sentindo o «toque estranho», ela levanta a cara, olhando para mim... olhos ja meio embaciados e uma voz que não escondia a tristeza e amargura, disse-me:

Es i ka nada nha fidju. Ami, n'kustuma sufri... N'passa dja pior na vida.
Pide lébam nha hômi, é prindil 5 anu na calabus, ma i riba casa i nô cria nô fidjus na coitadesa di Deus. Kil dia qui riba casa n'ka lembra di kil 5 anus ku passa. Tudu ta passa si nô téné fé na Deus.
I ka tém nada nés mundo ku tem kunsada ku bu ka ta odja si fim.

Fiquei mudo de emoção e o trajecto do sitio do «crime» até o meu cubilo... algures em Pilum de baixo, pareceu-me ontem mais longe... tanto era o peso da tristeza que teimava em acompanhar-me na minha meditação sobre a essência dos homens.

Sera que vale tudo na vida ?
 
PL