sábado, 26 de maio de 2012
DE MISSANG A NEOCOLONIALISTAS PORTUGUESES, PASSANDO PELA ONU
Os argumentos dos golpistas guineenses, tentando justificar o golpe de estado e toda a ridicularidade que envolveu e envolve as recentes nomeações do Presidente e Primeiro-Ministro de Transição, estão a esgotar-se e a angariar cada vez menos simpatizantes guineenses e entre os principais parceiros económicos do nosso país! Actualmente, a “fuga em frente” no contexto político actual tem dessas coisas, principalmente quando estamos a falar de um dos países mais pobres do mundo e mais dependente das ajudas externas. Quem se aventurar em desrespeitar as regras da política económica internacional, inicialmente pode até angariar algumas simpatias pontuais e conseguir limpar alguns obstáculos do seu caminho, mas acaba-se sempre por “espetar com a cabeça na parede” e perceber que atitudes revolucionárias do género terão de ser muito bem justificadas para acolher alguma simpatia das potências económicas internacional, caso contrário, acabam a falar sozinhos.
Quanto mais tempo passar depois do golpe de 12 de Abril, mais os aventureiros golpistas vão aperceber-se do isolamento internacional a que submeteram o país e o seu povo e que a ajuda de alguns países regionais não chegarão para cumprirem com o mínimo necessário para a satisfação das necessidades da população. Por isso, quem se aventurou neste governo de transição, só pode ser ingénuo ou ambicioso e sedento do poder, porque é sabido que, no contexto actual, qualquer governo tem mais probabilidades de falhar e criar má imagem perante os eleitores, do que propiamente deixar saudades aos guineenses…
Antes de voltar aos argumentos dos golpistas a tentar justificar o injustificável, queria afirmar de forma clara a todos os guineenses que, este golpe não teve outra motivação que não a sede da manutenção do poder dos militares que têm consciência que uma reforma séria da defesa e segurança do país acabaria com o domínio que eles ainda detêm sobre o povo, que se encontra personificado no CEMGFA António Indjai, associada a sede do poder dos cinco candidatos contestatários das eleições.
Cada vez mais vai ficando mais claro que as motivações do golpe foram esses e desenganem-se os que pensarem o contrário. Felizmente que são cada vez menos! Os poucos civis que ainda se manifestam a favor do golpe, são apenas aqueles que sempre tiveram algum órgão visceral e pessoal ao CADOGO Jr. e ao seu enriquecimento. Esse enriquecimento, lícito ou ilícito, só ao Ministério Público e aos tribunais competem investigar, não passando todos os comentários de rua ou virtuais ao nível da insignificância onde se colocam os boatos… Estranho é que essas manifestações críticas ao Cadogo Jr e o seu governo, tenham carácter e intensidade periódica, chegando a haver alturas (de Maio de 2010, até a morte de Bacai Sanhá) em que não se viu publicações do género, com excepção do blog Ditadura do Consenso...
Voltando aos argumentos dos golpistas para justificar o golpe, primeiro agarraram-se à capacidade bélica da MISSANG e à necessidade da “defesa da soberania nacional”. Só que esqueceram-se que, numa democracia, o detentor do poder da defesa da soberania nacional é o povo, que elege nas urnas os seus representantes políticos que, por sua vez, definem os actos e declarações que constituem a ameaça á soberania nacional e os meios e métodos a usar para a sua defesa. Salvo raras excepções, a força militar é apenas um instrumento para a objectivação da defesa da soberania e, não pode transformar-se de forma leviana em detentora dessa soberania, mesmo contra aqueles a quem o povo confiou a condução do país
Quando se aperceberam que MISSANG era um argumento perigoso, muito carente de popularidade, pelo contrário, até motivou manifestação popular a solicitar a permanência dessa força estrangeira no país, rapidamente surgiu a carta que Cadogo Jr. escreveu a ONU, a solicitar a intervenção na Guiné, como se ao nível da política internacional é assim que essas coisas se processam e que o contingente militar da ONU representa ameaça aos militares dos seus países membros!
Agora, querem estimular o sentimento nacionalista e ultrapatriótica do povo, contra o ex-colonizador e a CPLP, tentando garantir a simpatia popular e, ao mesmo tempo, tentarem angariar algum parceiro europeu que lhes abrissem algumas portas aos financiamentos externos. Por isso, decidiram declarar guerra verbal a esses dois países, com acusações já gastas da era pós-independência, de sentimentos neocolonialistas do nosso ex-colonizador.
Um dado curioso, é ouvir o porta-voz do Comando Militar a dizer que Paulo Portas devia preocupar-se com quem está a servir o café da manhã e o jantar, insinuando que esse (o Cadogo Jr. Jr.) é que é o dono da empresa de controlo das bagagens no aeroporto, portanto, na lógica de um doutorando em direito, torna-o automaticamente suspeito de participar ou facilitar o tráfico de droga!!! Nos seus “brilhantes” conhecimentos de direito, como é que Daba Na Walna enquadra legalmente aqueles que protegem e facilitam a aterragem de aviões carregados de droga, em aeroportos desactivados? Será que o melhor enquadramento legal para esses traficantes é nomeá-los CEMGFA? Julgo que Daba Na Walna deve preocupar-se mais com quem anda a bajular, do que Paulo Portas com quem anda a servir!
Esses dois últimos argumentos, só colheram simpatias dos mesmos que eu já tinha referido acima e que de noite para dia tornaram-se Constitucionalistas de qualidade superior a aqueles detentores de títulos académicos que se pronunciaram sobre a legalidade da candidatura presidencial de Cadogo Jr.
O povo, esse continua a exigir o retorno à legalidade constitucional e ao respeito as suas vontades expressas nas urnas, apesar das restrições e espancamentos a que são submetidos…
Jorge Herbert