terça-feira, 19 de março de 2013
PAIGC: Televisão pública boicota candidatura de Domingos Simões Pereira
A Televisão pública da Guiné-Bissau (TGB) boicotou, na passada semana, a publicação da notícia sobre o lançamento da candidatura de Domingos Simões Pereira à liderança do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Reagindo a esta situação, o Colectivo de Apoio à Candidatura de Domingos Simões Pereira alertou para que «a democracia perde expressão quando os actores não gozam de igualdade de tratamento», lê-se numa carta aberta datada de 18 de Março, na qual o colectivo sublinha que o pluralismo de ideias e a liberdade de expressão, enquanto valores axiológicos em democracia, só podem ser garantidos com uma imprensa isenta, livre e defensora dos princípios democráticos.
O grupo mostrou-se admirado com a falta de difusão da notícia em causa, alertando aos guineenses e à comunidade internacional sobre a consequência deste acto, que pode pôr em causa a eleição do candidato, caso tenha sido tomado de forma deliberada. Por outro lado, o grupo apelou os seus militantes e simpatizantes do PAIGC para que se mantenham atentos às manobras que têm como finalidade desviar atenção da candidatura de Domingos Simões Pereira.
«Considerámos ser fundamental, em qualquer processo político de debate de ideias, programas e projectos com vista a tornar o partido mais unido, coeso e capaz de vencer novos desafios», refere a missiva. A carta termina com a garantia de vitória de Simões Pereira à liderança do PAIGC. As apresentações e promoções de outros candidatos têm sido objecto de notícias na TGB, o que não aconteceu com Domingos Simões Pereira. Informações apuradas pela PNN indicam que a orientação para o impedimento da difusão desta notícia foi determinada pelo secretário de Estado da Comunicação Social do Governo de transição, Rogério Dias. PNN
ONU inicia avaliação
A ONU começou hoje a avaliar como é que as Nações Unidas podem "de forma concreta ajudar" a Guiné-Bissau a voltar a ter "uma vida normal" e promete deixar recomendações dentro de duas semanas. A missão técnica da ONU reuniu-se hoje com o Presidente da República de transição, Serifo Nhamadjo, explicando depois aos jornalistas que uma das prioridades da missão é ver junto dos parceiros nacionais e internacionais e da sociedade civil "quais são as prioridades e qual a situação" da Guiné-Bissau.
Bruno Mpondo-Epo, diretor da ONU para África e chefe da missão, disse aos jornalistas que está na Guiné-Bissau a pedido do Conselho de Segurança das Nações Unidas e lembrou que há um novo representante especial para o país, José Ramos-Horta, que tem a missão específica de ajudar o país "a ultrapassar a crise atual e regressar à ordem constitucional". LUSA
Guiné-Bissau é o país lusófono com maior risco político
A Guiné-Bissau é o país lusófono com maior risco político, indica uma classificação divulgada hoje (terça-feira) pela gestora de risco e corretora de seguros Aon, citada pela Lusa. No ranking da Aon para mercados emergentes, desenvolvido em parceria com a Roubini Global Economics - do economista Nouriel Roubini, a quem é atribuída a previsão da crise financeira de 2008 -, a Guiné-Bissau surge entre os países de risco político "muito elevado", a par da República Democrática do Congo ou Somália, devido ao golpe militar de 2012, com "prováveis focos de combate periódicos", e a ter 80 por cento da população abaixo da linha de pobreza. "A doença económica mais vasta é agravada pela redução de ajuda multilateral, devido a alegações de que o país está envolvido no tráfico de droga para a Europa, deixando o governo incapaz de responder a choques", refere a Aon, alertando para o "ambiente de negócios incerto" e "ausência de Estado de Direito".
Na mesma categoria surge Timor-Leste, onde as instituições são agora "muito mais fortes" do que durante a crise de 2005, embora ainda "fracas em áreas críticas, como a supervisão regulatória e legal" e sendo possível o "deflagrar de violência". A proposta de adesão de Timor-Leste à ASEAN é um passo "importante" para a economia, países vizinhos estão a acelerar investimentos no país e o governo tem sido eficaz na gestão da receita petrolífera, o que confere financiamento para "projectos de infraestruturas críticos".
Também São Tomé e Príncipe é considerado de risco "médio-elevado", além de ter um ambiente económico "estagnado", que reflecte a "fraca eficácia do governo e elevados riscos regulatórios", dificuldades para os agentes económicos. Moçambique é considerado um país de "risco moderado", embora "as dúvidas sobre a sucessão sejam uma fonte de incerteza". A nível económico, as infraestruturas são "inadequadas", falta mão-de-obra qualificada e há uma "elevada dependência" de financiamento externo.
Cabo Verde é considerado país de "risco médio", com "governação forte e estabilidade política", mas com vulnerabilidades ao nível da dependência das receitas do turismo e previsões económicas "frágeis", incapazes de reduzir o elevado desemprego e assim "minando a coesão social". O Brasil surge na categoria de risco "médio-baixo", apesar do seu "elevado grau de desigualdade", afirma a Aon. A política intervencionista do governo brasileiro contribuiu para um "desempenho económico pobre" no ano passado, mas o apoio ao governo continua elevado e o crescimento potencial e demográfico criam uma tendência positiva. LUSA
PAIGC/Braima Camará: Gabu superou todas as expectativas
Depois de um grandioso meeting onde se registaram uma adesão sem paralelo das próprias estruturas regionais do Partido ao Projeco liderado por Braima Camara, bem como da parte das diferentes estruturas sociopoliticas do PAIGC da Região de Gabú, o candidato a liderança do Partido Libertador expôs de forma clara as razoes que o levaram a aceitar este desafio, sem contudo deixar de defender o que quer do PAIGC democrático e inclusivo, que considerou como um projecto de salvação e de modernização do Partido dos Combatentes da Liberdade da Pátria.
Para Braima Camará há necessidade de salvar o passado historico do PAIGC, para que as gerações vindouras possam conhecer o legado histórico de Amílcar Cabral e dos Combatentes da Liberdade da Pátria. Contudo, defendeu que paralelamente o PAIGC deve reestruturar-se de modo a estar a altura de acompanhar a evolução de um mundo em plena mutação.
O candidato a liderança do PAIGC disse haver necessidade de se salvar o legado histórico e patrimonial do Partido, criar paralelamente as condições para dotar o PAIGC, enquanto um produto credível e de marca, da sua independência económica e financeira, que considerou como condição sine qua non para valorizar e estimular o trabalho militante e perseverante dos responsáveis das suas estrutura aos níveis de secção, sectorial, regional e nacional e de permitir o normal funcionamento das suas estruturas estatutárias.
Braima Camara considerou que tendo em devida conta o peso crescente da juventude, a faixa etária maioritaria da população guineense, o Projecto que lidera apostará decididamente na modernização do PAIGC, no sentido de estar a altura de defender um PAIGC do século XXI, capaz de salvar a sua grandiosa história e de criar as melhores e mais sustentáveis condições para garantir o desenvolvimento político, cultural, social, económico e multirracial na Guiné-Bissau.
As organizações de massas do Parido, nomeadamente, a JAAC, a UDEMU, que mantiveram reuniões separadas com o Candidato a liderança do PAIGC, tendo os seus responsáveis expressado de forma convincente e categórica a sua adesão ao Projecto de um PAIGC mais democrático e inclusivo, capaz de unir e congregar em seu torno todos os seus militantes e responsáveis.
segunda-feira, 18 de março de 2013
A dor da esperança
Após a independência até aos dias de hoje, tem havido conflitos cíclicos que provocaram avalanches de dias incertos e desesperantes na Guiné-Bissau. O medo, a insegurança e a impotência criaram barreiras às expectativas do povo guineense. Desde aí, tudo parece sem graça... A vida transformou-se numa rotina massacrante:
“Chefes de famílias que não tem pão na mesa porque a entidade patronal não paga; Preces das mães para que os filhos doentes, voltem a casa sãos e salvos porque falta energia nos hospitais; Alunos que à escola não vão porque os professores estão em greve; Jovens desempregados que mergulham no mundo da criminalidade, prostituição a espera de dias melhores; A maldita droga que mata os nossos filhos; O djambakus que decapita animais para “esperançar” os aflitos; O vizinho que “tira” esmolas de água todas as madrugadas... Sete colas sete velas na alvorada; Os velhos que sentam nos bancos vazios do império e partilham o silêncio, a escuridão e a tristeza com o palácio do nosso “king” que se encontra em coma profunda”.
Infelizmente, este quadro negro pintado pelos próprios guineenses, representa a triste realidade do nosso país. Pois, a mudança (para melhor) depende exclusivamente da vontade política dos cidadãos uma vez que o país é rico em recursos (naturais e humanos) e tem potencialidades para sair em tempo record desta situação nefasta.
O povo tem numa mão qualquer coisa parecida com a esperança e na outra, uma vida cheia de nada. A esperança é último a morrer como diz o ditado... Na verdade ela ainda existe mas, encontra-se debilitada a ponto de ser menor que a dor. Existe sim, uma esperança escondida no “barkafon” e perdida no tempo; Esperança na angústia, no desespero e na pobreza; Esperança que rói e dói que vem e vai, acorda o vulcão de sentimentos pessimistas e faz sofrer. Há quem diga que a esperança na Guiné-Bissau, é uma velhinha desdentada de corcunda que caminha para um lugar incerto com passos bem sincronizados (um para frente e dois para trás).
O guineense, assim como todos os povos, tem as suas aspirações e seus sonhos...Mas, haja paciência...! Em pleno século 21, é triste ver um povo que conquistou a sua soberania há 40 anos, ainda a alimentar-se duma esperança doentia e reduzida em coisas básicas. Em pleno século 21, é lamentável ver um povo tão inteligente como é o guineense, ainda a viver a Deus dará, sem um rumo certo para a sua felicidade.
Caros irmãos, viver de esperança sim, mas, na sua verdadeira essência e numa perspectiva mais ampla. Esperança duma vida condigna, dum futuro próspero para o país e para as nossas crianças. Uma esperança... Não direi de construir “Torre Eiffel” ou “Big Ben” mas sim, de pelo menos, acompanhar o desenvolvimento tecnonológico no mundo globalizado e porque não, transformar o país num potencial espelho e modelo de desenvolvimento para toda a África.
Como já tinha dito num dos meus artigos anteriores, repito com as mesmas palavras: A Guiné enquanto estado, deve promover a unidade dos povos! Ou a unidade se faz, ou ela se desfaz e a divisão da nação se perpétua. “OU VAI, OU RACHA!” É urgente promover a reconciliacão entre todos os guineenses (militares, civís e políticos). A Guiné-Bissau precisa duma união bem cimentada para consolidar a paz, a estabilidade e regressar a normalidade constitucional! O país precisa realmente de se entender!
O mundo abriu as mãos mais uma vez... José Ramos-Horta, declarou que apesar das dificuldades, é possivel organizar as eleições antes de Dezembro e que, há garantias financeiras e técnicas necessárias, para a realização dos escrutínios da parte da comunidade internacional. Devemos aproveitar esta oportunidade (talvez a última) para não entrar em colapso total, não ser considerado um estado falhado e consequentemente transformar num protectorado da ONU. Nós, (povo guineense) devemos usufruir dos nossos direitos fundamentais! Só assim poderemos acordar sem medo, abraçar desafios dos novos tempos, fazer crescer a nossa economia e partir firmemente para o desenvolvimento.
Haja união de todos os guineenses!
Pensamentos positivos...
Djarama!
Londres, 18/03/2013.
Vasco Barros. (Vavá)
Ramos-Horta: "É possível a realização de eleições" antes de dezembro
O representante especial Organização das Nações Unidas (ONU) em Guiné-Bissau, o antigo presidente de Timor Oriental, José Ramos-Horta, declarou ontem (15/03/2013) em Bissau que apesar das dificuldades, é possivel organizar as eleições antes de dezembro nesse, depois do golpe de estado de abril de 2012. «E possivel organizar as eleições (gerais) antes do fim do ano. Todo depende da vontade politica dos actores, isto é, as autoridades de transição instaladas com o acordo dos militares. Nos compreendemos as dificuldades que existem para a mobilização dos recursos financeiros», declarou Dr Ramos Horta no decurso de uma conferência de imprensa. «Contudo, posso garantir que, da parte da comunidade internacional, havera uma contribuição de todos, para disponibilizar os meios financeiros e tecnicos necessarios, para a realização dos escrutinios. O mais complexo são os guineenses em si», disse.
«Encontrei-me com o presidente de transição (Manuel Serifo Nhamadjo) e o president da Assembleia Nacional (Sori Djalo). Eles deram-me as garantias de que, daqui até maio, havera um governo aberto a todas as sensibilidades politicas», indicou Ramos Horta, antigo Nobel da Paz. A maioria daos parceiros da Guiné-Bissau suspenderam as ajudas as autoridades de Bissau apos o golpe de estado e exigem para a retoma da mesma, a formação de gouverno aberto a todos os partidos e inclusivo e a organização de eleições daqui até dezembro do ano em curso. A antiga formação politica no poder (PAIGC) cujos dirigentes foram depostos aquando do golpe de estado, foi excluido da transição pelas autoridades de transição, não tem acento no presente governo. AFP
ONU: Missão técnica em Bissau
Uma missão técnica da ONU estará na Guiné-Bissau entre os dias 18 e 27 para avaliar a presença das Nações Unidas no país e a situação política, de segurança e de direitos humanos. Segundo o Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS), a missão é composta por 10 elementos, provenientes de Genébra, Nova Iorque, Itália e Dacar, e vai ter encontros com o gabinete da ONU, autoridades de transição, comunidade internacional, partidos, sociedade civil e Liga Guineense dos Direitos Humanos. "O objetivo principal da missão será de o fazer recomendações sobre possíveis ajustes no mandato do UNIOGBIS, a sua estrutura e força, e de modo mais geral ao apoio que a ONU presta ao país", diz um comunicado do gabinete.
Além de avaliar a situação da Guiné-Bissau, a missão vai ainda avaliar como estão a ser implementados os principais desafios atribuídos à UNIOGBIS. A presença da missão da ONU coincide com a presença também em Bissau, na próxima semana, do secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A Guiné-Bissau vive desde maio do ano passado um período de transição na sequência de um golpe de Estado, em abril, que derrubou os dirigentes eleitos. A maior parte da comunidade internacional não reconhece as autoridades de transição e cancelou os apoios. É a primeira vez desde então que um dirigente da CPLP vem a Bissau. LUSA
domingo, 17 de março de 2013
Militares invadem matas de Mansaba
Mais uma dezena de militares, fortemente armados, estão neste momento nas matas de Mansaba, alegadamente por causa do abate indiscrimiado de madeiras, soube o ditadura do consenso através de uma fonte. Fizeram-se transportar numa carrinha Canter, e numa Nissan Pathfinder preto, sem matrícula, de vidros fumados. "Vamos em missão, enviados pelo CEMGFA António Indjai", disseram. A fonte do ditadura do consenso mostrou-se indignado: "O que têm os militares a ver com o abate de árvores? Não há guardas florestais, polícia?" - perguntou. Uma boa resposta para...o chefe dos militares, o CEMGFA António Indjai, responder... AAS
sexta-feira, 15 de março de 2013
Adiado sine die a eleição do presidente da CNE
O Parlamento da Guiné-Bissau encerrou hoje (sexta-feira) mais uma sessão plenária sem eleger um novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), como estava prevista na agenda dos trabalhos iniciados a 15 de fevereiro último. Após um mês de debates, o Parlamento guineense encerrou os trabalhos para ser retomado em sessão ordinária no mês de Maio, mas o presidente do órgão, Ibraima Sory Djaló, disse ser possível que haja uma sessão extraordinária nos próximos tempos a pedido do Governo para discussão do Orçamento Geral do Estado de 2013.
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Simões Pereira responde a Pansau Intchama
Domingos Simões Pereira, um dos candidatos à presidência do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), esclareceu hoje que a filosofia de todo o tipo de golpes de Estado na Guiné-Bissau não faz parte da sua vida, numa referência à sua alegada participação política no caso de 21 de Outubro, revelado pelo capitão Pansau Intchama, que está a ser julgado pelo tribunal militar de Bissau.
Domingos Simões Pereira diz "estar tranquilo", pedindo de seguida calma aos sues apoiantes. "Sei que muitos de vós vieram cá um pouco preocupados com ruídos que passam sobre a minha pessoa. Golpes não fazem parte da minha filosofia de vida", disse o candidato, classificando este comportamento como sendo de "kakris na kabas"... AAS
Uma liderança em cada atitude
Pela sempre incontornável verdade dos factos, o PAIGC, embora sendo a força política visada, de forma mais directa, pelo último golpe, nas nossas aspirações ao merecido progresso, enquanto sociedade, ainda assim, esse conturbado partido, continua na posse, não do poder de autoridade efectiva, mas do poder de influência permanente, que democraticamente legitimado na vontade popular, segue beneficiando duma enorme alavanca, na pronta condenação e consequências, que chegou da parte mais significativa, dos nossos parceiros internacionais, repudiando as maliciosas intenções, dos identificados e crónicos prevaricadores. É nisso, e mais outros tantos factores de relevo, que os actuais dirigentes do PAIGGC, envolvidos nessas desnecessárias negociações, para a formação de um eventual governo de inclusão, devem apoiar com total firmeza, para se reabilitarem como políticos credíveis, ao mesmo tempo que poderão salvar o país, desse autêntico envenenamento em curso, denominado período de transição.
Como guineense, e com relativo conhecimento da nossa castigada realidade, compreendo que seja quase impossível, a esses referidos políticos, homens e mulheres do PAIGC, aguentarem na incerteza dos longos dias, à constante ausência da satisfação de certas necessidades, que as suas pesadas reputações inventaram, para uma adequada sobrevivência dependente. Mas deverão impor condições favoráveis aos avanços da democracia, mesmo sabendo que isso os vai custando algumas restrições, aceitando com coragem política, e física, caso seja inevitável, esses sacrifícios dignificantes, num inteligente aproveitamento desse momento crucial, que sem dúvidas maiores, revelará, verdadeiramente impulsionador, para a viragem qualitativa, na nossa gloriosa caminhada.
Devem saber os actuais dirigentes do PAIGC, protagonistas nessas negociações, que, nas circunstâncias em que o país se encontra, ao integrarem… Adriano Gomes Ferreira, mais conhecido por Atchutchi, na sua mais que conceituada andança; líder carismático, com uma visão dos mundos, para além de todos os amanhãs; um monumento vivo da nossa cultura, que com as suas virtudes e os seus defeitos, vai contribuindo para a grandeza de toda uma alma nacional… Sabe, existem raras personalidades na nossa sociedade, com elevadíssimos valores espirituais, ao ponto de poderem um dia merecer, incontáveis multiplicações, assim que os poderosos autorizarem a clonagem humana. Ups! Desculpe. É que está a passar aqui em áudio, enquanto escrevo o presente texto, uma das relíquias musicais do célebre Super Mama Djombo, um dos eternos prazeres, que acabou por desviar o sentido da minha reflexão.
Estava eu a falar dos aspectos a ter em pertinente consideração, pelos protagonistas do PAIGC, durante o percurso desses armadilhados corredores das negociações. E dizia o seguinte: ao integrarem um tal governo de transição inclusivo, sendo eles, elementos do partido maioritário na Assembleia Nacional Popular, o órgão da soberania, que apesar de debilitado, ainda está ao serviço da democracia, estarão a comprometer todos os nossos parceiros, a aceitarem esse período de excepção, como viável, e desbloquearem os canais diplomáticos e de financiamentos, o que servirá para os usurpadores profissionais, começarem a esfregar as mãos. Portanto, não deverá existir um acordo facilitado, só para garantia de lugares oficiais, despidos de conteúdo válido, na tomada das mais importantes decisões governativas.
Não se deverá aceitar sequer, condições para um acordo político, sem que haja uma garantia formal e exequível, da parte em posição de domínio, inclusive, todos os responsáveis do contingente da CEDAO no nosso território, de que será assegurado, um inteiro exercício de direitos à qualquer tipo de manifestações popular, para a reivindicação de prerrogativas, expressas nos diferentes preceitos constitucionais, desde que sejam devidamente organizadas.
Não se deverá aceitar sequer, condições para um acordo político, sem que haja uma garantia formal e exequível, da parte em posição de domínio, inclusive, todos responsáveis do contingente da CEDAO no nosso território, de que será assegurado, o regresso de todos os guineenses, sejam eles actores políticos ou simples eleitores, a viverem afastados, num asilo injustificado, independentemente das funções que tenham desempenhado no passado, e das suspeições sobre eles pendentes, para que o poder judicial, de maneira autónoma, venha a actuar em relação à qualquer dos casos, se assim entender, no restrito âmbito das suas atribuições constitucionais.
Até porque, constará como questão de honra, lembrarem durante todas as diligências negociais, que entre os muitos compatriotas nossos, submetidos ao asilo forçado ou voluntário, estão neste momento, o presidente e um dos mais destacado membros do próprio partido. Se por ter escrito uma carta destinada ao então Secretário-Geral das Nações Unidas, entre outros falatórios mais, carecidos de fundados esclarecimentos, Carlos Gomes Júnior, mereceu ser afastado abusivamente do poder, e remetido ao asilo, o que fez Raimundo Pereira de tão grave, para merecer alguma vida longe da pátria, com tudo o que isso implica, nos planos de um homem feito?
Os entendimentos diplomáticos mais favoráveis, aos ventos de uma mudança positiva, colocaram o timorense, José Ramos Horta, como representante do Secretário-Geral das Nações Unidas, no nosso território. Uma figura política decente, com devido reconhecimento internacional; laureado com um Prémio Nobel de Paz; e que chegou a experimentar durante uns anos, a amargura de um asilo político forçado. Por isso, espero que essa memória sirva ao seu melhor empenhamento na avaliação, e um competente auxílio, ao nosso complexo processo de reconciliação.
Com mais esta, a nossa sociedade enfrenta sim, sérias adversidades, e de uma transversalidade bem vincada, que nem está a deixar de fora, a parte dela na diáspora. Mas também, estamos perante uma oportunidade singular, e com potentes hipóteses, de finalmente, mudarmos para melhor, o rumo das nossas vidas.
Ser, Conhecer, Compreender e Partilhar
Flaviano Mindela dos Santos
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