quinta-feira, 19 de setembro de 2013

DROGA - A DEA, não desiste de capturar Indjai, o homem-forte de Bissau


Os Estados Unidos continuam decididos a capturar o general António Injai, o atual homem--forte guineense, assim que tiverem oportunidade para tal. Mas só o farão no exterior da Guiné-Bissau, garantiu esta semana ao Expresso, um diplomata americano colocado na África Ocidental. O diplomata em causa, que pediu para não ser identificado, disse que enquanto permanecer na Guiné, o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas local, acusado por Washington de tráfico de droga e de armas no quadro de conspiração contra os Estados Unidos, não corre o risco de ser alvo de uma operação semelhante à que levou à detenção, a 2 de abril último, do seu compatriota, o almirante Bubo Na Tchuto, por forças ao serviço da Agência Antidroga (Drug Enforcement Agency, DEA), dos Estados Unidos.

OLA LA LA

A fonte citada reconhece que o caso “está num limbo”, mas admite que se Injai se aventurar fora da Guiné-Bissau será abordado pela DEA. Precisou ainda que Injai vai figurar na próxima lista de barões de droga, elaborada pelo Tesouro americano. Quanto a Bubo Na Tchuto, aguarda julgamento, em princípio em novembro, tal como seus dois colaboradores, ambos da Marinha, detidos na mesma ocasião, após uma cilada montada por agentes encobertos da DEA. A sua defesa, segundo o diplomata, tem procurado fazer arrastar o processo e desacreditar, pelo menos, dois aspetos mais controversos da acusação.

Além de jogarem com o obstáculo da língua inglesa, os advogados do oficial vão questionar a armadilha que conduziu à sua captura e acusação que, ao que tudo indica, vinha sendo preparada por homens da DEA desde julho de 2012. Outro aspecto passível de contestação é o local da detenção. Os americanos alegam que foi em águas internacionais, enquanto a parte guineense considera que decorreu no alto mar, mas na parte meridional do país. Bubo Na Tchuto ofereceu-se para colaborar. O diplomata revelou que Bubo Na Tchuto ofereceu-se, há dois anos, para colaborar com a polícia americana na luta contra a droga. Contudo, a iniciativa não resultou, porque, disse a fonte, as informações de Bubo não eram relevantes.

“As informações de que precisamos estão com colombianos e europeus”, afirmou, sublinhando que Bissau apenas fica com um magro quinhão das receitas geradas pelo negócio da droga (cerca de $800 milhões — 604 milhões — em 2012 na África Ocidental). “O grosso vai para o mercado europeu, parte substancial fica em Dacar (Senegal), e na Cidade da Praia (Cabo Verde)”. Isto é que explica, na opinião do diplomata, o fecho, um ano após o mais recente golpe de Estado, do Escritório das Nações Unidas de Luta contra a Droga
e o Crime (UNODC) na capital guineense.

Não é só a pequenez do mercado guineense da droga. Também o envolvimento da hierarquia militar e da própria Polícia Judiciária no narcotráfico tornam irrelevante a presença da UNODC em Bissau”. Finalmente, o diplomata esclareceu que foi de Cabo Verde que partiram os dois civis guineenses suspeitos de implicação no tráfico de droga, levados para os Estados Unidos na mesma operação que culminou na prisão de Na Tchuto.

Português no combate ao crime organizado

O Escritório das Nações Unidas de luta contra a Droga e o Crime (UNODC), que a partir da capital do Senegal cobre a África Ocidental e Central, voltou, desde o início desta semana, a ter um perito em crime organizado na Guiné-Bissau, o português Joaquim Rodrigues. O anterior responsável também era de nacionalidade portuguesa. O posto tinha sido encerrado em abril último, alegadamente por falta de financiamento.

O golpe de Estado de 2012 e a entrada em cena de novos interlocutores não facilitou a tarefa. Os primeiros anos da presença do UNODC na Guiné foram alvo de alguma crítica, nomeadamente devido aos gastos com pessoal expatriado, que limitaram seriamente o impacto do apoio à luta contra a droga. Mesmo assim, manteve-se a execução do projeto de montagem de uma equipa nacional de especialistas em luta contra a droga e o crime organizado, implicando elementos das diversas polícias, da justiça e entidades afins. EXPRESSO