terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ELEIÇÕES(?) 2014: Discurso de Domingos Quadé na apresentação da sua candidatura


Caros compatriotas,

Pouco depois do início da Luta de Libertação Nacional registaram-se desmandos inumeráveis, capazes então de desvirtuar os objectivos da mesma e transformá-la em mera rebelião armada. Em resposta, Amílcar Cabral insurgiu-se e convocou o 1º Congresso do PAIGC na localidade libertada de Cassacá para reorientar o processo de luta e trazer à luz a génese e os primeiros ensaios de uma organização do Estado com a criação de Saúde de Base Popular, Escolas Piloto, Armazéns do Povo e Forças Armadas Revolucionárias do Povo bem disciplinadas. Tudo isto trouxe resultados gigantescos ao permitirem a reconquista do prestígio do nosso processo independentista, tendo, no plano externo, Cabral sido convidado a visitar vários países com os quais firmou acordos, efectuado visita à Santa Sé e o discurso na plenária da Assembleia Geral das Nações Unidas, actos reservados só a Chefes de Estado.

No plano interno, Cassacá trouxe a independência nacional e a implantação da autoridade do Estado na sua fase inicial com resultados orgulhosos no campo económico como a infra estruturação e a industrialização geral do País. A título de exemplo, é caso para lembrar aos mais velhos e ensinar os novos a heroicidade e as grandes conquistas deste povo em vários domínios: o Complexo Agro-Industrial de Cumeré, a fábrica de Hanura em Bolama, a Cerâmica de Bafatá, a Guimetal, Volvo e N’Haye além de frotas de transporte por terra (Silô Diata), mar (Sambuia, Cassacá, Ermon-Kono, Komo, Caiar, etc e Naguicave) e por ar (Sakala e Companhia Aérea LIA) e da rede eléctrica (Gazela, Escorpião, etc). Infelizmente tudo isto cedo se perdeu por nossa acção ou omissão colectiva, enquanto povo. Assim, tal como na era de Cassacá, sente-se hoje a necessidade de re-erguermos este poderoso edifício posto vergonhosamente em ruínas.

Deste modo e com vista a mudar, com inteligência e sem violência, o rumo dos acontecimentos na Guiné-Bissau, país onde se conheceram fases contínuas do medo, torturas, assassinatos políticos, corrupção, narcotráfico, empobrecimento generalizado, emergiu a preocupação de lembrar o velho para encontrar novo Cassacá, lançando esta candidatura presidencial independente para o bem da Pátria muito flagelada.

Por conseguinte e no respeito pela interdependência funcional com todos os demais órgãos de soberania competentes, esta candidatura, quando eleita, apostará no re-nascimento dos valores da Pátria através da criação de mecanismos e condições de implementação das políticas de:

A. um Estado forte que implante o império da lei sobre a força do homem, ou seja tudo deve fundar-se dentro da lei e nunca fora ou acima dela. A ordem no seu sentido institucional, estrutural e funcional, o rigor na gestão da coisa pública e a organização do aparelho do Estado vão voltar a ser realidade neste País através da urgente adopção de critérios rígidos de gestão e de combate à cultura de homem poderoso e intocável, sem prejuízo do reconhecimento de personalidades notáveis;

B. Um Estado justo que crie mecanismos práticos e eficientes de acesso universal à justiça e ao direito e de credibilização do sistema judiciário nacional através da garantia da aplicação justa, eficaz, imponente e atempada da lei na justiça de casos concretos e da promoção de inspecção regular à actividade magistral;

C. Um Estado reconciliado consigo próprio, ou seja, que crie e introduza condições favoráveis à mudança tranquila e não violenta e ainda à verdadeira e sincera reconciliação nacional. Para isso é defensável a criação de uma comissão integradora, a partir de uma Conferência Nacional, com amplos poderes de identificação, investigação, julgamento e, eventual, perdão/amnistia de responsáveis pela comissão de vários crimes políticos deste País. O que se deverá seguir, pro futuro e com carácter consultivo vinculante, de institucionalização de um fórum de reconciliação e promoção de diálogo nacionais, integrado por representantes de poder tradicional, anciãos, reformados, políticos, sociedade civil, sociedade castrense e intelectuais.

É nossa inabalável convicção que só deste modo podemos conquistar, tal como Cabral o havia conseguido em seu tempo, três níveis de confiança, absolutamente indispensáveis para a garantia do nosso processo de desenvolvimento socioeconómico e para o contexto sociopolítico de hoje: a confiança do cidadão no processo de credibilização e do desenvolvimento do seu País, o que evita a fuga do capital e do talento; a confiança de países amigos que quase nos abandonaram devido a desastres contínuos e incomportáveis por que temos vindo a passar e a confiança do empresariado estrangeiro sério capaz de promover o comércio e a indústria para a geração do emprego – base de constituição e sustento de família - e a percepção de impostos.

Por tudo isto, comprometemo-nos contribuir, designadamente, para:

a) enraizar uma nação sã, unida e em paz, prevenindo e banindo quaisquer acções que visem aniquilar a unidade nacional, os valores basilares da sociedade e do Estado ou que visem criar ambiente favorável aos conflitos e à guerra;
b) trabalhar com fidelidade e franqueza com qualquer Governo saído das urnas;
c) inculcar no homem guineense os valores insubstituíveis do trabalho, disciplina e da democracia pluralista e responsável;
d) pugnar pela/o:
i) abolição das más práticas como as torturas, os assassinatos políticos, a corrupção e o narcotráfico, através de desenvolvimento de acções concertadas interna e externamente;
ii) prosperidade auto-sustentada ao serviço do bem estar do povo;
iii) prestígio dura e exemplarmente conquistado durante a Luta de Libertação Nacional através de acções que visem travar o deslize contínuo em direcção à dependência com a consequente perda de dignidade e desbaratamento da soberania nacional;
iv) boa gestão da coisa pública;
v) reforma – no sentido da modernização orgânica e funcional - profunda do Estado, nomeadamente nos sectores da justiça, defesa, segurança e administração pública;
vi) valorização dos recursos humanos e naturais deste País, criando para estes condições extractivas para o bem do nosso povo;
vii) desenvolvimento das potencialidades locais através da implementação da politica de descentralização administrativa e da criação de diferentes tipos de incentivos ao exercício pleno da cidadania;
viii) promoção e valorização da cultura e da igualdade do género;
ix) aposta no futuro melhor da criança, da juventude e da nossa diáspora.
No plano externo, comprometemo-nos a:
a) respeitar e a reforçar a nossa identidade e vocação lusófonas e ainda a contribuir para a promoção da nossa cooperação com todos os países falantes da mesma língua seja no plano bilateral seja no da CPLP;
b) reforçar as nossas relações nomeadamente politicas, económicas, diplomáticas e culturais com a vizinhança;
c) apoiar as acções concertadas de consolidação da nossa integração em organizações sub-regionais, designadamente a CEDEAO e a UEMOA e regionais como a União Africana;
d) promover as bases de cooperação com todos os países amigos quer no quadro da ONU quer bilateralmente.

Estes são os fundamentos do CASSACÁ 2 que subscrevemos para a Guiné-Bissau nesta candidatura!

Caros compatriotas,

Antes de me levantar, auscultei-me. A terra que me viu nascer e formou não pode afundar-se, inclusive comigo lá dentro, mantendo-me, entretanto, impávido e sereno. Eis a razão!

Assim, não se estranhem, em mefistofélica malícia, que, após alguma reflexão profunda, tenhamos optado assumir e liderar os desafios do Cassacá 2 que, confessamos, se tivéssemos que escolher algo polémico não poderíamos ter encontrado o melhor. Na verdade não fomos nós a escolher e nem a nossa intenção é polémica mas sentimo-nos caídos num turbilhão problemático no qual tentaremos manter a nossa identidade, ou seja não procuramos a outrance o vosso acordo, embora para nós fosse de grande honra e conforto, nem intentamos provocar o vosso desacordo, o que nos afligiria. Trata-se, pois, de uma decisão pessoal, responsável e imbuída de vontade unicamente de melhor querermos servir.

Daí que vamos com Bob Marley quando defendeu a ideia de que ‘não cruze os braços diante de uma dificuldade, pois o maior homem do mundo morreu de braços abertos’ e com a Madre Teresa de Calcutá que havia dito que ‘o importante não é o que se dá mas o amor com que se dá’. Neste sentido seguimos Cabral: ‘jurei a mim mesmo que tenho de dar toda a minha vida, capacidade e energia que possa ter como homem ao serviço do meu povo e da humanidade, para que a vida do homem se torne melhor no mundo.

VIVA CASSACÁ!
VIVA O TRABALHO E A DISCIPLINA!
VIVA O HERÓICO POVO GUINEENSE UNIDO!
VIVA A GUINÉ-BISSAU!
MUITO OBRIGADO!