sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
OPINIÃO: Democracia selectiva
«Seguimos a novela guineense, de uma tão propalada Democracia, ou projecto da mesma, uma vez que finge-se votar, os militares voltam à carga e impõem as suas regras de “fazedores de reis”, mostrando descaradamente ao mundo, que são eles quem mandam efectivamente na Guiné-Bissau.
Povo de brandos costumes, vamos solicitando ao mundo que resolva os nossos problemas crônicos, enquanto se olha para o lado e, sem darmos conta, vamo-nos acomodamos eternamente no surrealismo do nosso trágico destino, que é, de sermos reféns permanente da saga étnica dos militares.
Vivemos hoje em dia numa sociedade de valores invertidos, em que analfabetos funcionais enchem os cafés querendo fazer-se de opinion makers, tudo sabem, mas que na hora de pagar um simples café, vêm com a lábia do costume : “nha ermon, tempacença pagam um café”. Na Guiné-Bissau, infelizmente, bajulam-se os traficantes de droga, admiram os marginais que vivem à custa de golpes nas finanças e nas alfandegas e, como diz uma música popular guineense “malilas toma conta di praça, santchus toma conta di terra, djintis rucudji mato”.
Não querendo, é claro generalizar, mas muita boa gente fica sem chão, viver nesta sociedade em que reina a mentira e a maledicência do boato, não é tarefa fácil. As verdades de hoje, serão mentiras amanhã, ninguém tenta parar para analisar com espirito critico, se existe verdade ou não sobre o que se “diz” ou se determinado facto tem um fundo de verdade ou não. A maioria limita-se a espalhar os boatos da sua conveniência, sem se preocupar com as consequências... porque, simplesmente estas não existem!!!.
Mas o que interessa, é que, brevemente seremos chamados de novo às urnas, para se cumprir mais um dever cívico de escolher um Governo e um Presidente da Republica, como se oi dizer, “legitima e democraticamente eleitos”. Mas pergunto ! Sera que esse desiderato será alcançado?? Será que os direitos de escolha soberano do Povo Guineense será respeitado??
Parecendo banal, é uma pergunta de pertinente actualidade que se impõe face aos recentes acontecimentos que redundaram na interrupção do ciclo eleitoral de 2012, porque um candidato potencialmente vencedor não era do agrado dos militares e de alguns patrões mafiosos da sub-região. Essa pergunta se impõe, quando temos, uma Forças Armadas (FA) que nos atormenta, que nos persegue, que impede manifestações politicas, cívicas e da sociedade civil.
Umas FA improdutiva, que vive de mordomias, recebendo salários faraônicos e desmesurados pagos pelo Governo do seu Estado, os quais derrubam quando lhes da na gama, ora impelidos por interesses de composições étnicas, ora quando os seus próprios interesses (narcotráfico e contrabando de armas, por exemplo), ou dos seus aliado, possam ser eventualmente postos em causa ou em perigo.
Neste cenário de indecente promiscuidade politico-militar, o mais triste de tudo, é ver a indecorosa atitude dos ditos políticos, que não passam de projeto de tal, em alianças golpistas com a cúpula narco-militar guineense. Esses mesmos políticos de pacotilha, que ontem aplaudiram o golpe de estado de 12 de abril 2012 (que com ele, se vão beneficiando, sustentando-se e enriquecendo-se com o status quo criado há quase dois anos), hoje transvestem-se de democratas, enganando a comunidade internacional com engenhocas da Democracia Selectiva, arquitectura de fachada maquiavelicamente promovida por um sistema de génese golpista que, enganosamente “vende e promove” uma falsa inclusão, mas que não passa de um sistema já de si viciado, cujos pressupostos de continuidade estão a ser congeminados no atabalhoado recenseamento ora em curso.
Digo e repito “DEMOCRACIA SELECTIVA”, pois é triste e dá vergonha, ver os ditos apregoadores dessa “solução miraculosa” tentarem vender aos guineenses e a Comunidade Internacional, um produto politico de fins ignóbeis.
Dai, lançar aqui publicamente um desafio a todos os senhores democratas e candidatos as presidenciais de 2014, que tenham a coragem de assumirem defenderem publica e inequivocamente o direito e à liberdade de todos os guineenses, sem exclusão, poderem participar e se candidatarem livremente sem quaisquer constrangimentos às eleições previstas para o ano em curso. É um repto que lanço aos candidatos presidenciais até aqui declarados, que se assumam como verdadeiros democratas que apregoam, ao invés de sorrateiramente atiçarem os militares para que se oponham ao regresso ao pais de Carlos Gomes Junior, vencedor incontestável das ultimas eleições presidenciais interrompidas pelo golpe politico-militar de abril de 2012.
Digo isto, pois temos visto alguns candidatos que se propalam de democratas “impolutos”, a tentarem ganhar terreno politico, utilizando à socapa jogadas de baixo nível de incentivo à exclusão da candidatura de Cadogo Jr as eleições de 2014. Tal evidência, é irrefutável, pois, em nenhuma ocasião, nenhum dos candidatos, se dignou posicionar-se sobre o direito à candidatura desse incomodo adversário as suas pretensões presidenciais.
Por isso, lanço aqui um repto aos candidatos que hoje se perfilham para as eleições deste ano, para que se posicionem publicamente sobre este assunto que diz respeito à larga maioria do Povo guineense que se revê nessa candidatura, exigindo de forma clara e coerente as suas posições, sem subterfúgios e tentativas de exclusões encapotadas de adversários políticos incômodos. Estou certo de que, a larga maioria dos guineenses, exige, para que, DEIXEM O POVO ESCOLHER QUEM ELES QUEREM QUE SEJA O SEU PRESIDENTE, pois eu sou dos que acreditam, como uma larga maioria dos meus compatriotas, de que, quem fez, fará, um só povo, uma só Nação.
Digo isto, porque, estou ciente de que, os que temem a candidatura de CADOGO JR, não são só os militares, mas também e, em larga escala os políticos que hoje postulam ao cargo e não só. Os militares, esses, são manipulados com intrigas e suspeições pelos próprios políticos contra CADOGO, pois a reforma é incontornável para eles e sabem que, com ele, ou sem ele haverá imperativamente a reforma para o bem do pais e da sub-região.
Para terminar, gostaria de chamar a atenção aos potenciais candidatos às presidenciais de 2014, para que parem de apregoar medidas e programas demagógicas, que sabem perfeitamente ser da competência do Governo e não da Presidência, caso contrario que se candidatem ao posto de Primeiro Ministro e não de Presidente e, caso contrario, se não conhecem as competências e prerrogativas constitucionais de um Presidente da Republica no quadro jurídico-constitucional guineense, que se abstenham de aventurar-se em áreas de responsabilidade de respaldo nacional.
D. D.»