segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Entrevista a Christophe Guilhou, Director da Paz, Democracia e Direitos Humanos da Organização Internacional da Francofonia (OIF)


Entrevista feita hoje, 17 de fevereiro, por Christophe Boibouvier (CB) da RFI ao Director da Paz, Democracia e Direitos Humanos da Organização Internacional da Francofonia (OIF), Christophe Guilhou (CG).

CB: Depois de três dias passados em Bissau, os guineenses irão finalmente ter o seu presidente e seus deputados no dia 16 de março, tal como o previsto?

CG: Tudo leva a crer que estas eleições serão adiadas pelo menos por um mês, provavelmente para o mês de abril.

CB: Por que razão esse atraso?

CG: Esse atraso deve-se a problemas de organização e de financiamento sob responsabilidade da Guiné-Bissau, da Comunidade Internacional (CI) e dos parceiros multilaterais. Porém, deve-se admitir que, apesar de tudo, muito se tem avançado nestas ultimas semanas, pois o numero previsto de recenseados era de 800 mil pessoas e foi alcançado uma margem à volta de 93%, os quais são números muito interessantes se se tivermos em conta a situação conjuntural do pais.

CB: E, relativamente aos experts da OIF que ficaram ainda no terreno, qual o seu papel?

CG: Os experts ficaram no terreno, numa primeira vertente, para ajudar a Comissão Nacional de Eleições (CNE) na organização das eleições e, numa segunda vertente ajudar o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) no que tange a questões de antecipação de eventuais recursos pós-eleitorais que é o ponto mais conflituoso no momento da contagem dos votos.

CB: Considerando que, no ultimo escrutínio presidencial de abril de 2012, o antigo Primeiro ministro em fim de funções, Carlos Gomes Junior, estava classificado em 1° lugar e nunca houve a 2a volta, dado que os militares interromperam o processo eleitoral e, hoje continuam ainda a fazer o que bem lhes da na gana no pais, qual é a legitimidade destas eleições que se prepara?

CG: É precisamente porque houve há dois anos um golpe de estado entre as duas voltas, é que a CI faz todo o possível para que a nova ordem constitucional seja reposta, com a organização destas eleições.

CB: Mas, o homem mais popular há dois anos, era o Carlos Gomes Junior, e ele foi obrigado a fugir do pais e os militares impedem o seu regresso. Nesse caso, vocês não correm o risco de estar a validar umas eleições baseado em dados falseados?

CG: Os dados das eleições não serão viciados, porquanto elas serão objecto de uma observação, de uma preparação não só da OIF, mas também das Nações Unidas (NU), da União Africana (UA) e da Comunidade Economica e de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Nos achamos que é o momento de ajudarmos os guineenses a organizarem essas eleições. E bom que saiba de que, apesar de a Guiné-Bissau estar suspensa da OIF há dois anos, mas não abandonamos a Guiné-Bissau. Tudo o que tentamos fazer, é que a Guiné-Bissau reintegre a OIF. E nesse quadro, que nos ajudamos a organizar as eleições nas melhores condições possíveis.

CB: Mas, qual é a validade de umas presidenciais, quando o homem mais popular do pais não pode apresentar-se ao escrutínio fisicamente?

CG: Até ao momento, o partido maioritário, ex-partido único, o PAIGC, ainda não designou o seu candidato às presidenciais. Nós iremos ver, no momento próprio, nos próximos dias, quem será.

CB: Não será que, o PAIGC esta também a «virar a pagina» de Carlos Gomes Junior, mais uma vez sob pressão dos militares? Numa democracia, não será que todo o mundo tem o direito de apresentar a sua candidatura, incluindo aquele que foi obrigado a fugir sob pressão dos golpistas?

CG: É às autoridades guineenses, ao povo guineense e aos partidos políticos guineenses quem caberá dizer quem devera apresentar-se às próximas eleições presidenciais.

CB: O homem forte do pais, o general Antonio Injai, é procurado pela justiça americana, acusado de trafico de droga. Porque razão a OIF, não exige o seu afastamento, a saída de cena desse oficial superior?

CG: É que, nos não devemos interferir em casos de processos judiciais. Nós estamos aqui, para ajudar os Estados a consolidar as suas instituições, fazendo com que, possam haver eleições o mais credível possível. Mas é complicado, tenho que reconhecer.

Fonte : RFI/17/02/2014