terça-feira, 5 de março de 2013

O que a sociedade civil disse ao Ramos-Horta


ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL PROPÕEM AO RAMOS HORTA SUA VERSÃO DE ROTEIRO PARA A TRANSIÇÃO POLÍTICA
 
 
Na reunião com as organizações da sociedade civil, que ocorreu nas instalações das Nações Unidas em Bissau no dia 22 de Fevereiro último, o Representante do Secretário-Geral das NU na Guiné-Bissau, o Prémio Nobel de Paz, Ramos-Horta ouviu coisas interessantes e tomou boa nota.

Após uma breve introdução sobre os objectivos do encontro, Ramos Horta falou da visita que efectuou às casernas dos militares e que a deixou perplexo devido ao estado miserável das infra-estruturas que abrigam os soldados. Porém, a reacção não se fez esperar. Eis algumas das coisas que Ramos-Horta ouviu das bocas das diferentes personalidades que estiveram nesse encontro:

- Sr. Representante ficamos todos satisfeitos em saber que o senhor visitou as casernas dos militares e que saiu de lá triste por aquilo que viu. Se as casernas dos militares encontram-se num estado lastimável seria bom que o Senhor Representante visitasse também a casa dos Generais militares e as suas quintas, para ver o estado dessas;

- Se as casernas dos militares encontram-se num estado lastimável, os carros de luxo com que andam dariam para reparar essas casernas;

- Somos controlados mais no nosso próprio país (com inúmeros controles dos militares um pouco por todo o país), do que no estrangeiro, não há liberdade, mas sim abuso de poder;

- Senhor representante, o que vos pedimos, nós os jovens, é para falar com o Senhor António Indjai e o Senhor Presidente da República para que deixem os jovens falar à vontade, não há liberdade, mas sim medo;

- O que queremos pedir ao senhor Representante é que diga a verdade na cara dos políticos e militares que andam a fazer mal ao país. Muitos representantes das NU passaram neste país, assistiram impávidos a assassinatos e crimes, mas ninguém fez nada. Essas pessoas estão por aí a passear de um lado para o outro. O nosso saudoso bispo Ferrezzetta nos dizia “Só a verdade vos libertará”. Portanto não tenha receio e diga-os na cara a verdade porque tem toda a legitimidade para isso;

- Os nossos governantes são todos uns lupens, só conseguem sobreviver a custa do dinheiro e dos bens do Estado;
 
- As eleições devem ser feitas ainda este ano, pois só um governo legitimado nas urnas pela vontade popular pode fazer as necessárias reformas no aparelho do Estado. Além disso, o país não pode continuar a viver neste isolamento, é preciso pois restituir a ordem constitucional. Este governo não só é ilegítimo como também é incompetente;

- Sr. Representante das NU, avizinha-se a campanha de comercialização de castanha de cajú, num momento em que o país está praticamente parado, a economia familiar está estagnada e os camponeses abandonados a sua sorte, não há investimentos no sector agrário. Estas coisas não são da preocupação do governo, que apenas quer perpetuar-se no poder;

- Sr. Representante das NU, as organizações da sociedade civil estão dispostas a propor a sua visão de roteiro para a transição, porque entendemos que o direito de participar na “renovação da democracia” não é uma exclusividade apenas dos políticos e militares, também as diferentes organizações da sociedade civil e o sector privado têm esse direito.


NOTA: Estiveram presentes no referido encontro 23 personalidades representando 19 diferentes organizações da sociedade civil, desde sindicatos, organizações das mulheres, ONGs, associações juvenis, académicos, juventude islâmica, UNTG, Movimento Nacional da Sociedade Civil, Liga dos Direitos Humanos, entre outras.