domingo, 3 de março de 2013

Por inerência de funções


Mais uma vez vou evidenciar a minha célebre frase: MEMÓRIA CURTA NÃO FAZ HISTÓRIA! Quem diria que dez meses depois de ter contribuído para que esta gentalha assaltasse o Poder e de ele próprio ter assaltado a Assembleia Nacional, Sori Djaló voltaria à trincheira dos descontentes, exigindo a reposição de tudo o que um dia ajudou a destruir: competência e transparência na gestão do dinheiro público; pagamento atempado dos salários da função pública; o regular abastecimento de água potável, energia eléctrica, o normal funcionamento do sector de ensino, etc.

Sori Djaló deve estar sobretudo com imensas saudades daqueles tempos em que se podia manifestar livremente contra o Governo. Esta mudança deve-se certamente ao facto de ele ter percebido que assaltou o sítio errado, onde não há como enriquecer ilicitamente. E tudo por culpa da CEDEAO que decidiu que os assaltos deviam obedecer critérios muito rigorosos, ou seja, POR INERÊNCIA DE FUNÇÔES.

Os presidentes dos chamados pequenos Partidos (Partidos Unipessoais, Lda.) que nunca desempenharam qualquer função, optaram pelo assalto colectivo e indiscriminado (ocupar e só depois perguntar: que Ministério é este?) e estão a sair-se muito bem: as obras das casas estão na recta final; já conseguiram colocar os dentes que faltavam e agora amendoim não escapa e o caroço que se cuide; as barrigas estão a crescer muito bem graças a Deus, infelizmente o corpo não está a acompanhar essa evolução, deixando a imagem um bocadinho destorcido e cómico; alguns até pintaram os cabelos e os mais pragmáticos já têm Toca-Tocas a circular; geradores, frigoríficos, arcas congeladoras, fogões à gás, tudo novinhos em folha, só falta mesmo é as esposas aprenderem a usá-los. Estas por sua vez tiveram direito á naftalina para aniquilar os percevejos que só lembram de atacar quando os seus portadores estão num ambiente VIP; as “boqueras” foram tratadas com sucesso para permitir um sorriso mais rasgado que simbolize a bonança, resultante da desgraça nacional; As escamas e as unhas rebitadas dos pés deixaram de ser problemas, a única dificuldade mesmo é andar com os saltos altos e comer com o maldito garfo que faz tremer o braço e quando chega à boca só traz dois ou três grãos de arroz, obrigando qualquer um a perder os estribos – É O PREÇO A PAGAR PARA A INSERÇÃO NA ALTA SOCIEDADE.

De uma forma geral o balanço da transição é positivo, embora por culpa da CPLP e da Comunidade Internacional, não está a ser tão lucrativo como as outras. Mas valeu a pena o estatuto de MINISTERIÁVEL adquirido, que atribui o pleno direito de assumir altos cargos em futuros Governos de Transição, não por acaso, mas POR INERÊNCIA DE FUNÇÕES. Assistimos assim ao surgimento de uma nova classe sociopolítica – OS TRANSACIONISTAS E AS SUAS TRANSAS.

Conta a história que um destes Presidentes de um destes Partidos que proliferam no nosso País, tinha acabado de legalizar o seu Partido e regressava a casa a pé (nem sequer tinha um meio de transporte próprio) e como os Toca-Tocas não circulam no centro de Bissau, caminhava tranquilamente, com os bolsos das calças devidamente abastecidos de amendoim torrado que naquele momento sabia tão bem (passou todo o dia a engraxar aqueles corruptos do Ministério da Justiça e nem sequer tinha almoçado).

Estava naturalmente muito satisfeito por ter conseguido realizar um sonho que vinha perseguindo há muitos anos. De vez em quando abria o saco de plástico (dos supermercados) para dar uma espiadela nos documentos e imaginava-se a negociar um cargo qualquer, com um candidato aflito qualquer, que precisasse do apoio do seu partido, numa eleição qualquer e respirava fundo, convicto de que, com políticos como Kumba Ialá no terreno, não tardaria a haver uma eleição e chegaria finalmente a sua vez de resolver os seus problemas. Lembrou-se de um colega seu que nem sequer sabia ler e escrever e que tinha feito o mesmo que ele fez agora e foi eleito Deputado num Círculo eleitoral qualquer e hoje vive à Francesa.

Quando chegou ao Alto Crim, viu tanta gente aglomerada com cartazes e dísticos. Aproximou-se daquele que parecia ser o Maestro da Banda (e que actualmente manda no Parlamento) e perguntou-lhe qual era o objectivo daquela concentração. E este, muito calmamente, respondeu-lhe que era uma manifestação DE AFLIÇÃO E DESESPERO, organizada pelos Partidos de Oposição, com o objectivo de derrubar o Governo Democraticamente eleito de Carlos Gomes Júnior, que com o seu desempenho, constitui uma terrível ameaça à existência dos Partidos de oposição, ameaçando desta forma atirar para o desemprego milhares de POLÍTICOS PROFISSIONAIS, que por conseguinte poderão transformar-se em autênticos vira-latas, já que nunca aprenderam a fazer mais nada, senão farejar nos bastidores do Poder.

O nosso amigo estremeceu de alto a baixo e começou a suar copiosamente. Abriu o saco, retirou os documentos que mostrou ao outro, dizendo: Acabei agora mesmo de legalizar o meu Partido de Oposição! Este, por sua vez, voltou-se para um jornalista que se encontrava à uns escassos dez metros de distância, a entrevistar um dos manifestantes e gritou-lhe: Sr. Jornalista, acrescenta mais um Partido, já não são 15, mas sim 16 Partidos que querem a demissão deste Governo! Voltou-se então para o nosso amigo e disse-lhe para arranjar uma folha de papel ou uma cartolina qualquer, escrever uma frase insultuosa qualquer contra o Governo, melhor ainda, contra Carlos Gomes Júnior e entrar na manifestação.

Hoje, quando escrevo estas linhas, este homem faz parte do Governo de Transição. Mas não pensem que houve ilegalidades ou favoritismos na sua nomeação – ELE ESTÁ ONDE ESTÁ, POR INERÊNCIA DE FUNÇÕES. ALIÁS, COMO TODOS OS OUTROS.

Sori Djaló tem razão quando afirma que este Governo (o tal de transição para a desgraça nacional), não tem estofo para governar nada e ninguém. Entretanto, convém não esquecermos que esta associação nacional de pelintras, mentirosos e saqueadores surgiu em consequência de um golpe de Estado que teve como pano de fundo as manifestações encomendadas por Serifo Nhamadjo para desgastar a imagem de Carlos Gomes Júnior e em que o próprio Sori Djaló, aproveitando-se da sua posição de Presidente Interino do maior Partido de Oposição (o PRS), para dar um cunho étnico ao mano Serifo, fez questão de dirigir pessoalmente, até á exaustão – Antes de entrarmos num buraco, devemos certificar que é possível sairmos dele quando nos apetecer!

Cotó Sori, a política pressupõe alianças, mas não com toda a gente – Ansumane Mané, Veríssimo Seabra, Domingos de Barros, Baba Djassi, Lamine Sanhá e muitos outros, infelizmente, não tiveram tempo suficiente para perceber este princípio tão elementar que rege os bastidores da vida política.

Bô djanti bô sai pá inerência de funções.

Rui Manuel Djassy (Bá Djassy)

PORTO