quarta-feira, 9 de maio de 2012

Opinião: O delírio dos militares e políticos guineenses


Em momentos de crise, o cidadão comum e as famílias prezam por ouvir vozes que as possam tranquilizar, vozes que transmitem alguma dose de esperança, de confiança e do acreditar no futuro. Mas os dias vão passando devagarzinho, as angustias aumentando e o sonho desmoronando.

Vozes essas surgem todos os dias, num ritmo imparável, excelentemente penteados e decorados pelas nossas rádios. Essas vozes penetram todos os dias os nossos lares, fustigam a moralidade familiar, destorcem a mente dos jovens, e assim vamos paulatinamente reconstruindo um novo padrão do pensamento colectivo. Estamos a caminhar para o suicídio social, estamos lentamente a destruir a nossa história, e toda a base que sustenta o sentimento da solidariedade e camaradagem construídas ao longo dos anos.

Aqueles que outrora dignificaram a terra, que escreveram os seus nomes com letras de ouro nas páginas da história contemporânea do nosso país, pela sua ousadia e patriotismo, são os mesmos que hoje resolveram construir esta Guiné moribunda, feia e triste. Porquê? Como explicar o inexplicável…

E ninguém consegue por o dedo na consciência e voltar para trás. O nosso orgulho cego e estúpido empurra-nos para frente, para o confronto, e pelo endurecimento de posições. As sanções chovem contra o povo (não apenas contra os golpistas, pois esses têm famílias, e é bom não esquecer que na Guiné nós todos somos famílias), mas os actores envolvidos no confronto não querem saber, como se a terra fosse uma propriedade privada deles, e a legitimidade de participar na renovação da democracia seja uma exclusividade apenas deles.

A luta pelo poder e pelo acesso as estruturas de privilégio social fez-nos todos virar lobos, começamos a olhar um para o outro com a imagem do inimigo na cabeça, apenas porque não conseguimos aceitar e gerir de forma pacífica as nossas diferenças. A democracia exige o respeito pelo próximo, exige o confronte de visão e projectos de sociedade, os argumentos e as ideias sobrepõem-se as armas e as vontades de grupos. É preciso que esta retórica seja interiorizada e cultivada por todos. Que pobre miséria de espírito é esta a do guineense.

As famílias, as comunidades, os cidadãos comuns, as incansáveis mães e mulheres trabalhadoras, os jovens abandonados aos seus destinos aclamam por vozes de homens e mulheres com caracter, com carisma, que as possam fazer acreditar e voltar a sonhar. Mas por favor, não as vozes de gente ligada ao jogo baixo, de gente com estrutura mental talhada para a conspiração com intuito de ascender ao poder, e muito menos vozes de gente ligada ao narcotráfico, crime organizado e pedofilia. Por favor poupem-nos.

É a hora dos guineenses se levantarem em massa, aos milhares, para manifestar a sua indignação com a situação, contra a penúria e o isolamento a que um punhado de abutres está a transformar este martirizado país. Que o exemplo da Primavera árabe nos sirva de inspiração, até que cheguem os capacetes azuis, vermelhos ou verdes, poderá ser tarde demais.
Bem haja

A.C.F.