"Recentemente, mais precisamente 18 de Março pp., Guiné-Bissau viu serem realizadas eleições presidenciais antecipadas, devido à prematura morte, por doença, do presidente Malam Bacai Sanhá. Disseram os números divulgados pela CNE Bissau-guineense e confirma agora o Supremo ribunal de Justiça (STJ) que os resultados implicam a realização de uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados. No caso Carlos Gomes Júnior, ex-primeiro-ministro e apoiado pelo PAIGC, e Koumba Yalá, antigo presidente derrubado, apoiado pelo PRS.
Num país democrático onde os resultados ditos pelo Povo são respeitados estaríamos a começar a olhar para a campanha eleitoral conducente à segunda volta e esperar qual o veredicto final das urnas. Num país democrático e respeitador da legalidade. Só que há muito que a Guiné-Bissau nos vem oferecendo algumas certezas quanto à dúvida da democraticidade plena dos seus políticos. Quer com os constantes “Coup d’ État” ou “Crises Sociais militarizadas” que, periodicamente, os militares provocam; quer através de manifestações anti-status provocadas por políticos (desculpem se ao apelidá-los disto, estarei a insultar os Políticos) incapazes, corruptos ou sem qualquer sentido democrático da Polis.
Uma vez mais, e logo quase no dia seguinte às eleições um grupo de candidatos menos votados, liderados por Yalá, criticou e considerou não válidas as eleições e questionou os resultados ainda antes destes serem reconhecidos quer pela CNE quer pela entidade supervisora final dos mesmos. Esqueceram-se que, em democracia, existe uma coisa chamada “contestação de resultados em local próprio”. Ou seja tanto na CNE como no STJ. Uma coisa é contestarem. Outra, bem diferente, é dizerem que o acto foi ilegal e corrupto sem darem oportunidade para as duas mais altas entidades reguladoras do acto se pronunciarem e, por causa disso, recusam-se a ir a uma segunda volta.
Com esta atitude os candidatos estão, claramente, a dizerem que não reconhecem legitimidade às duas entidades reguladoras que aceitou as suas candidaturas e tratou da efectivação do acto eleitoral. Talvez não seja estranho o facto de Koumba Yalá antes ainda do acto ter sido efectivado, já estar a reclamar vitória inequívoca logo no primeiro turno. Os resultados – se reais ou não, só à CNE e ao STJ deveriam confirmar a testar – foram contrários às suas intenções.
Koumba esperava que o facto de se ter convertido ao Islão lhe garantiria uma larga vantagem promocional e eleitoral. Esqueceu-se, todavia, que o povo Bissau-guineense já o conhecia de outros “carnavais” e, como um Povo inteligente, não tem memória curta. Ao contrário de Koumba, que pensava que bastaria uma nova cara religiosa para todos os actos menos inteligentes do seu primeiro e incompleto mandato serem esquecidos e varridos da memória eleitoral.
Como o Povo não esqueceu aliado ao facto do PAIGC ser ainda a força política com vantagem e ser superior aos interesses políticos dos independentes, acrescido ao facto de Angola estar apoiar de forma, talvez pouco subtil, o partido no poder, por via de apoio político do MPLA, ou quer pela presença das forças armadas angolanas (Missang) que estão a ser contestadas por uma forte franja dos militares Bissau-guineense, Carlos Gomes Júnior venceu a primeira volta e terá de despachar o segundo turno com o segundo mais votado, Koumba Yalá.
Recordemos que no mesmo dia das eleições uma antiga alta patente militar Bissau-guineense foi assassinada à porta de casa e que um antigo Chefe de Esatdo Maior se refugiou na legação da União Europeia, onde permanece, com a desculpa de haver um complot contra antigos militares que estão contra a presença angolana ou que, eventualmente, tenham estado ligados ao narcotráfico.
Não esqueçamos que, até há pouco tempo, a Guiné-Bissau era, não poucas vezes, acusada de ser uma plataforma para o narcotráfico e de militares e políticos seus estarem implicados no mesmo. Há alguns processos sobre o assunto que continuam nas esconsas gavetas dos procuradores judiciais de Bissau e ainda não foram resolvidos e estão em perigo de poderem prescrever. Uma das razões a falta de fundos para poderem levar os processos ao fim, e outra a contínua desestabilização da política social do País por parte de certas forças castrenses guineenses.
Por isso, não se entende a atitude dos independentes e, muito menos, de Koumba Yalá em recusarem os resultados da primeira volta e não quererem ir a uma segunda volta que poderia dar-lhes a vitória (a soma dos votos de Yalá e dos independentes garantia-lhes a presidência daquele) salvo se, outros factores mais obscuros estiverem presentes.
E aí, perceber-se-á porque é que alguns políticos e militares desejam ardentemente, fora todas as outras razões políticas subjacentes, que as há e muitas, que a Missang seja “corrida” da Guiné-Bissau tal como são vistos com alguma inquietação a eventual presença de agentes anti-narcotráfico no País… Até lá, Koumba Yalá mantém a campanha para a segunda ronda suspensa. Daí que se pergunte o que faz, realmente, correr Koumba Yalá?
9/Abr/2012
Eugénio Costa Almeida
*Investigador do CEA-IUL (ISCTE)