sábado, 28 de abril de 2012

Geoestratégia

"Exmo Senhor Aly Silva,

Sem querer antecipar o destino que podera dar a este meu texto de contribuição permita-me humildemente enaltecer o trabalho de informação responsavel e de qualidade que tem dispensado ao Povo Guineense, principalmente para nos que nos encontramos na diaspora por razões de varias ordem. Saber que trabalha por imperativo de patriotismo, alheando-se ao dinheiro e tentativas de manipulação da sua linha editorial, realça o penhor dessa admiração que, pode crer tem um alcance que decerto não calcula. Mais ainda, ficou acrescida essa admiração e gratitude, quando, foste selvaticamente agredido, privado da liberdade, tendo os teus preciosos bens de trabalho confiscados, por gente que, so sabe roubar e matar.
Haja bem à tua vida e aos teus projectos. Nos rezaremos por ti.

GEOESTRATEGIA DO SUB-DESENVOLVIMENTO

Meus irmãos e compatriotas,

Alguns de voçês, de entre os que tiverem a possibilidade de ler esta minha humilde contribuição, decerto me reconhecerão, ou pelo nome de registo que me identifico, ou pelo «nome de minineça» que acompanhara o texto. Espero, que me julguem por aquilo que interpretarem da mesma. Porém, quaisquer que seja a leitura exponho-me ao vosso «juizo» na certeza de que, fi-lo no estricto espirito de participar no esclarecimento do presente debate militar-politico que traz a Guiné-Bissau à actualidade do mundo. Estamos efectivamente perante uma querela militar-politico, porquanto as regras dos recorrentes conflitos da Guiné-Bissau, foram neste contexto particular completamente invertidas, isto porque, uma facção do Poder Militar (aqueles que detêm efectivamente o poder bélico nas mãos), no pleito eleitoral, tomou partido de forma ostensiva e sectarista de uma parte derrotada nas recentes eleições Presidenciais.

Comunicado Final da CEDEAO e «posição» dos Militares Golpistas.

Hoje, assiste-se a uma vã tentativa de disvurtação do Comunicado Final da Conferência de Chefes de Estado da CEDEAO de 26 do corrente por um putativo Doutor-Militar, hoje designado Porta Voz do famigerado «Comando Militar». Um novo rosto da alimaria de, um « Comando » sem comando, um «Comando» sem rosto, senão a berbarie das suas acções em defesa de um status quo da impunidade de um grupo sectaria e étnicamente circunscrita. Porém, vamos ao que mais interessa, nessa divagação sem rumo nem argumentos do New killer-intelected.

E bom que os Guineenses não se deixem enganar com interpretações enganosas e tendenciosas que tenho ouvido insistentemente da «boca» desse Senhor.

O Comunicado Final da Conferência de Chefes de Estado da CEDEAO de 26 do corrente, não pode e nem deve ser desassociada de três documentos e ou decisões fundamentais que são, respectivamente :

- O relatorio do Presidente da Republica da Guiné-Conakry, Professor Alpha Condé, Mediador da CEDEAO para o conflito da Guiné-Bissau ;
- O comunicado do Presidente da Comissão da CEDEAO, Sua Exa, Sr Désiré Kadré Ouedraogo e ;
- O Discurso do Presidente da Côte de Ivoire, Presidente em exercicio da Conferência de Chefes de Estado e de Governos da CEDEAO.

Esses três supracitados documentos retraçam sem quaisquer equivocos, as posições que se seguem

- O restabelecimento imediato da ordem constitucional violada com o Golpe de Estado ;
- O retorno imediato e sem condições dos Miliatres às casernas e que se abstenham de se imiscuir e de intreferir na vida politica ;
- Repudio e não reconhecendo quaisquer «ditos orgãos de transição» criados pelo Comando e os seus aliados politicos golpistas ;
- A libertação incondicional das Autoridades legitimamente eleitas, ou seja o Presidente Interino e o Primeiro-Ministro Candidato (realce-se que este é sempre tratado em todos os documentos, sempre como PM e, nunca como ex-PM ou Candidato, porquanto assim é de facto e de direito em face à Constituição e a Lei ;
- A aceitação sem condições pelos miliares a deslocação e instalação de uma Força de Interposição com vista a garantir a segurança e a governabilidade das instituições repostas em consequência da sua legitimidade eleitoral ;
- A reposição em estado de governabilidade as Autoridades legitimamente eleitas ;
- Criação de um dispositivo constitucional «transitorio» conforme a Constituição assim como ;
- A continuação do processo da segunda volta das eleições Presidênciais que, segundo os termos de todos os documentos, «foi ilegitimamente interrompido» por um golpe de força de militares à guiza de um grupo de candidatos derrotados.

Em suma, são estes os pontos que estão consubstanciados e explicitamente plasmados no Comunicado Final da Conferência de Chefes de Estado da CEDEAO de 26 do corrente mês. Um conjunto de decisões claro como a luz divina e limpida como a àgua benta.

Porém o New-Killer-Intelected (NKI) quer fazer querer aos Guineenses uma outra realidade, perdendo-se em interpretações «juridicas» perversas e posições contraproducentes com a realidade com o fito unico de, servir o seu recém criado clientelismo politico. Essas posições do NKI, não faz mais do que, ir agravando e desconsiderando as Forças Armadas Nacionais aos olhos dos nossos parceiros regionais e internacionais. Assim é, porque, manobrando na contracorrente da realidade politica-diplomatica, o NKI, quiça, por ambições inconfessaveis de ascensão militar ou politica (na terra dos cegos quem tem umolho é Reis), tenda, com subtileza atabalhoada, colar a questão guineense à questão maliana (duas realidades distintas e com pressupostos de decisões igualmente distintas).

O NKI, tenta criar similitudes virtuais através de jogos de interpretações juridicas dubias e maquiavélicas enganar os incautos com a situação do Mali onde os dois termos de «transições» não têm nada a ver um com o outro, porquanto a realidade politico-militar conjunturalmente são completamente diferentes. O pretenso militar com capa de intelectual, pretende subrepticiamente convalidar a «transição maliana» numa «transição à Comando Militar». Isto porque, o Comunicado Final dos CEG da CEDEAO, é claro : Os miliatres devem voltar as casernas e não se imiscuirem nas questões.

A suposta TRANSICAO com a qual o «intelectual» do Comando pretende manipular os Guineenses e a situação politico-militar é uma falsa intrepetação e tem fins meramente oporunistas e politicos.

Por isso, modéstia à parte sinto-me na obrigação de alertar os meus concidadãos de que, a dita «transição», deve ser imperativamente realizada nos moldes seguintes:

- sob exclusivo auspicio e mediação da CEDEAO, porém, sempre nos moldes previstos na Constituicional (o «Comando sem Rosto» não é aqui dado nem achado);
- com as autoridades legitimamente eleitas, o que significa com o Partido que venceu as Eleições Legistavivas cuja Legislatura esta em curso. Significando isto…, com o Governo do PAIGC, governo pretensamente destituido pelo «Comando» ou, eventualmente com um novo Governo a constituir-se para a vigência dos 12 meses. Quaisquer desses cenarios deve ser, sempre no pleno respeito do quadro Constitucional em vigôr, ou seja com o PAIGC, partido vencedor das Legislatura em curso, tanto mais que, não esta em causa a legitimidade Legislativa, mas sim a interrupcção de um processo de eleição Presidencial que estava na sua segunda e fase final ;
- essa « transição » dum periodo até 12 meses (que não implica obrigatoriamente a sua total decorrência), não significa nada mais do que a passagem da eleição e investidura de um novo Presidente eleito subsequente ao falecimento de um precedente. Esse periodo que não pressupõe quaisquer exigência de outra ordem, foi previsto para evitar imprevistos imponderaveis, isto porque, a deslocação e instalação das Forças de Interposição e Proteção das Autoridades, leva o seu tempo e tem os seus constrangimentos e afinamentos técnico-militar, acrescido ao facto de que, a reposição da Autoridade do Estado é crucial para a conclusão do processo.

Resumindo sobre este aspecto, o «Comando sem Rosto», deve assumir as suas responsabilidades, em particular, os seus erros que compremeteram seriamente o pais numa face de restabelecimento da sua credibildade e, em consequência mandar parar a saga manipuladora e vergonhosa do seu dito Porta-Voz, pois, caso contrario comprometera ainda mais, quaisquer tentativa de saida séria e responsavel a presente crise, em que eles, os MILITARES, são os unicos e exclusivos responsaveis.

Os bastidores da Conferência

Caros irmãos e compatriotas,

As incidências desta ultima Conferência da CEDEAO deixou-nos um sinal e um aviso muito sério a ter em conta no nosso contexto sub-regional. A Guiné-Bissau, por essencia, tanto no aspecto cultural assim como, civilisacional é um pais lusofono e, consequentemente « descartado » do espaço de jogos de interesses dos outros paise que compõem a CEDEAO.

Essa asserção de co-optação geo-socio-regional foi preceptivel nessa ultima cimeira, tendo-nos valido o peso, a sagacidade e a argucia da diplomacia dos paises irmãos da lusofonia, nomeadamente de Angola e Cabo-Verde, mas também, de um outro pais irmão a Guiné-Conakry. Também de forma compreensivel e salutar, quiça por sofrer dos mesmos males de obstrução a um desenvolvimento autonomo, a Gâmbia foi um aliado incondicional em advogar a nossa causa. Enfim uma atitude a reter e a retribuir. O Ghana, a Nigeria e a Côte d’Ivoire seguiram os principios basicos assim como os outros paise que abstenho de referir.

Por outro lado, dois paises, o Burkina-Faso e o Senegal tentaram nessa Conferência torpedear o processo de retoma da normalidade constitucional na Guiné-Bissau, criando « nuvens de interpretação » asssombrosas ao desfecho legal e firme desse processo, tentando sempre condicionar a clareza das leis e tentando, criar situações tortuosas para a nossa crise. Assim, chama-se à atenção para a concidência de posições, orientações e de atitudes entre esses dois paises e uma facção do dito Comando Militar, em particular do seu Porta-Voz.

Nessa saga de tentar «enterrar» a Guiné-Bissau como um «Estado Falhado», compreendo até certo ponto a posição do Senegal, pois este pais, simplesmente confirmar o seu interesse egoista sobejamente conhecido de querer ser um Estado omnipresente em todo o continente, em particular na zona oeste africana.

O Senegal, sempre quis ver a Guiné-Bissau como um Estado falhado, carente de soluções proprias, um pais necessitado da sua caridade e protecção para, subrepticiamente melhor delapidar os nossos recursos. Alias, o Senegal, malgrado a mudança do Presidente, continua a crer ver e trabalha arduamente para que, o nosso pais seja, fruto de permanente instabilidade, para assim continuar a ser, uma extensão da sua Casamança Natural, ou seja uma extensão do seu «Celeiro Agricola» e fonte de exploração incontrolada dos nossos recursos halieuticos.

Ao Senegal interessa e sempre lhe interessera a instabilidade crônica da Guiné-Bissau para dai tirar dividendos economicos e politicos. Mesmo com a eleição do novo Presidente Macky Sall, nada me permite dar-lhes até agora o minimo de beneficio de duvida de boa-fé ao encontro da Guiné-Bissau face aos ultimos acontecimentos desta Cimeira de muitos e sinuosos segredos de corredores. Para mim, Senegalês é sempre Senegalês, por isso, não acredito. Por outro lado, a permanente instabilidade alimentada pela classe castrense, não devera estar alheia à «mão» externa vizinha.

O antigo Presidente Abdoulaye Wade, funcionava quase de facto, como o nosso Comandante em Chefe das Forças Armadas tal era o nivel de manipulação das altas estructuras da classe Castrense contra o poder politico utilisando-os a seu bel prazer e convinência conforme as circunstancias. Essa manipulação foi sempre mais evidente contra os Governos mais consistentes do pais, em particular, o de Carlos Gomes Junior. Verdade é que, sempre que este conseguia, com o seu rigôr governativo dar algum destaque ao pais era-lhe submetido a uma insubordinação ou sublevação militar. Porém, em todo este cenario de suposto complôt a nossa atenção, não deve também deixar de lado, a quase « perpétua » presença do Embaixador do Senegal na Guiné-Bissau, General FALL (quase 20 anos), facto que, devera significar algo em todo esse palco de desordem politico-militar na Guiné-Bissau que, estranhamente, ja dura também quase 20 anos.

No que toca ao Burkina-Faso, o seu posicionamento dubio durante a Confereência, contrapondo uma posição, firme, coerente e legal dentro do quadro Constitucional Guineense proposto quase unanimimente pelos outros Chefes de Estado, sem quaisquer sombras de duvidas, parecendo à partida incompreensivel e até inadequado, tem as suas razões de ser face ao doentio protagonismo e ecocentrismo do seu eterno Presidente Blaise Campaore que quer ter mãos e contrôle em quase todos os conflitos africanos, em particular os da Africa Ocidental.

Alias, o posicionamento obscuro e dubio do Presidente Burkinabè face ao presente conflito na Guiné-Bissau podera até ter explicações até agora incompreensiveis, caso não se conheça as relações nebulosas e aparentemente mafiosas entre o Presidente Blaise Campaore e o pomposamente dito Comandante Umarou Cissoko (amigo de intimo de Kadafi e outros ditadores). Ao que se sabe foi este inigmatico comandante quem negociou o financiamento do Presi Burkinabe ao candidato Manuel Serifo Nhamadjo. Porém, atenção caros cidadãos…, muitas vezes, uma simples arvore pode esconder uma imensa e densa floresta que esconde sombrias e tenebrosas historias onde nos seus rios esquiosos se lavam imenso e sujo dinheiro do narcotrafico.

Em suma, sabe-se que nesta Cimeira extraordinaria dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, o Senegal e o Burkina-Faso destoaram da solidariedade que se requer numa união, e acabaram por formar no conjunto dos Estados da CEDEAO, de forma subtil e pretensiosa, uma cobarde coligação anti-democratica contra a paz na Guiné-Bissau.

Que estes dados nos sirvam de lição e saibamos, destinguir, entre os que são nossos verdadeiros amigos e os nossos supostos amigos. Para mim, seguramente, estes dois paises não o são para a Guiné-Bissau e, é preciso ter atenção e cuidado com as suas movimentações ao longo deste processo de restauro da ordem Constitucional na Guiné-Bissau.

Por isso, sejamos atentos e vigilantes.

Bem haja a Guiné-Bissau

Elautério Sousa (Teio)
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