sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
OPINIÃO: Complexos de colonizador?
"Depois de se ter estoicamente assumido contra o golpe de estado ocorrido na Guiné-Bissau em abril de 2012, Portugal foi perdendo gradualmente protagonismo na procura de soluções para a resolução dessa crise que abalou fortemente as estruturas da jovem e frágil democracia guineense e cujas consequências se fazem hoje sentir de forma nefasta nessa sua antiga colonia.
O recuo do intervencionismo português na crise guineense, começou desde o momento em que, erradamente Portugal pensou que o seu papel pudesse ser aparentemente substituído, consubstanciado na sua participação colegial no quadro da CPLP. Pensar isso, foi um erro estratégico grave, isto, quando na verdade, o que se pretendia era esquivar-se de que o seu envolvimento direto fosse conotado com uma "intervenção neocolonialista" e, quiçá também, queria evitar um confronto diplomático com a França (outra parte interessadíssima no processo guineense) ao nível da comunidade que partilham. De uma forma ou outra, a estratégia escolhida não foi a mais adequada e tão pouco a mais eficiente para o peso da sua historia nesse pedaço de terra prenhe de conflitos e matanças.
Para os que conhecem as relações entre Portugal e a Guiné-Bissau, é difícil compreender esse "afastamento" estratégico e tão pouco, pode-se compreender a razão pela qual, Portugal não assumiu uma posição unilateral nesse conflito, utilizando todas as suas influências na abordagem e resolução da crise guineense, tal como a França sem complexos de antigo colonizador, o fez em relação ao Mali e mais recentemente, esta em vias de fazer, em relação à Republica Centro Africana.
Esquivando-se ao desafio, Portugal abdicou de por ao serviço do Povo da Guiné-Bissau o seu insubstituível peso e a sua incomparável influência que poderiam, logo à nascença fazer lograr os intentos golpistas de 12 de abril. Portugal abdicou desse seu papel fundamental esquissando na CPLP (bloco sem vocação nem experiência para estes cenarios), foi a CEDEAO, em particular um grupo restrito dessa organização, que aproveitaram, fazendo da Guiné-Bissau o Estado calamitoso que hoje se conhece.
No caso da Guiné-Bissau, é inegável que, Portugal como antiga potência colonial e conhecedor profundo dos complexos males que gangrenam esse pais, fugiu às suas responsabilidades de ajudar o Povo da Guiné-Bissau num momento crucial da sua vida. Teve oportunidade de o fazer, pois a ocasião assim proporcionou, quando unanimemente, o golpe de estado de 12 de abril foi amplamente condenado por toda a Comunidade Internacional (CI), incluindo a própria CEDEAO, que apos brandir a sua famosa tolerância zero deu uma volta de 180° passando a apoiar e a sustentar o regime golpista de Bissau, cuja elite governante, quer politica quer militar são comummente associados ao narcotráfico internacional e negócios obscuros.
Portugal, bem podia e melhor faria, em posicionar-se de forma unilateral, sem paternalismos e sem complexos, como um pais com responsabilidades históricas única para com a Guiné-Bissau e, estou certo de que as coisas não teriam o desfecho dramático que esta a ter infelizmente hoje. Esse posicionamento de quem tem "autoridade de bem-estar" podia ser concomitantemente agilizado no quadro da CPLP (onde Angola teve e tem até hoje um papel reconhecidamente penhorado pelo Povo guineense), assim como da UE e das NU.
Ao "ausentar" da crise de Bissau, fugindo a sua intransmissível responsabilidade, Portugal mostrou-se um pais frágil aos olhos do Povo da Guiné-Bissau, mostrou-se débil perante o mundo e mostrou-se complexado perante a CEDEAO, que agradeceu o complexo, ocupando e mal o seu lugar natural.
Enfim, é pela falta de firmeza e de convicção que demostrou na crise guineense, que Portugal hoje se expõe a afrontas de um vulgo marginal, como o Fernando Vaz, dito Ministro de Estado do governo golpista de Bissau que, apos comer do bom bacalhau regado do seu bom vinho, lhe arrota na sua cândida figura, desaforros e trocadilhos dignos de um meliante de terceira categoria.
Revejam a vossa politica em relação a Guiné-Bissau, que o Povo agradece de certeza.
P.B."