quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
No dia do medo
Este discurso devia ter sido lido no dia 12, mas com as ameaças...foi cancelado. Agora todos podem ler:
"Apelo
É chegada a hora de dizer basta!
A 11 de Abril de 2012 tínhamos um Governo eleito e legitímo!
A 11 de Abril de 2012 tínhamos um Presidente da República interino e legítimo!
A 11 de Abril de 2012 a composição da Assembleia Nacional Popular reflectia a vontade do povo!
A 11 de Abril de 2012, após o fim da primeira volta das eleições presidenciais, e na véspera do arranque da segunda volta da campanha eleitoral, Carlos Gomes Júnior, candidato do PAIGC, estava a frente na corrida eleitoral, com 49% dos votos validados e reconhecidos pela comunidade internacional.
Se este processo não tivesse sido interrompido pela força das armas e em nome de interesses sectários de uma minoria, hoje, dia 12 de Janeiro de 2014, a Guiné-Bissau estaria seguramente diferente. E para melhor.
Com um Presidente eleito, em sufrágio universal e directo.
Com um novo Governo, legítimo e eleito pelo Povo.
Com uma ANP legítima e legitimada pelo Povo.
Antes de falarmos da Guiné-Bissau, dos guineenses e do nosso futuro, permitam-nos umas breves palavras de indignação relativamente ao que tem sido o comportamento de alguns militantes do PAIGC. É com desânimo e pesar que assistimos à forma como o Partido se tem comportado nos últimos meses. Não nos entendemos para a realização do próximo Congresso.
Partidários de candidaturas à liderança deste nosso grande Partido têm tido comportamentos que em nada respeitam a memória do nosso saudoso fundador Amílcar Cabral.
Não respeitamos a actual liderança que só cessa funções na próxima reunião magna e que, por vicissitudes conhecidas por todos, está impedida de regressar à Guiné-Bissau.
Guineenses!
Que ensinamentos nos legam a nós, juventude partidária?
Como compreender esses comportamentos e as lutas de poder e cisões criadas?
Em nome de quê? Ou de quem?
Guineenses!
Digo-vos isto, com toda a certeza. Se o Presidente do Partido estivesse aqui ao nosso lado, nada destes comportamentos indignos de nós próprios teriam lugar.
Por isso vos digo. Devemos olhar para o passado, viver o presente, mas não ter medo do futuro.
Temos de ter um PAIGC unido, em face dos desafios que se avizinham.
As próximas eleições, apesar de decretadas por um Presidente e governo ilegítimos, são vistas por nós, jovens guineenses, como a última oportunidade para acabar com esta vergonha que se tornou este processo, conduzido mais por interesses pessoais do que por quem deveria zelar pelo interesse de todos os guineenses. Vemos com alguma desconfiança o desenrolar de todo este processo eleitoral.
Guineenses!
Lanço aqui algumas perguntas:
• Acreditam na idoneidade do processo de recenseamento?
• Quantos de vós já se registaram?
• Quantos dos vossos parentes e amigos nas tabancas sabem sequer deste processo?
• Quem já não ouviu falar de fraudes, atrasos e ameaças no recenseamento?
• Quem já não ouviu falar em dinheiro e favores que passam de mão para mão?
• De supostos políticos que avançam ou não, como se de um negócio se tratasse?
• Como acreditar que, com todas estas dúvidas, estaremos perante um processo eleitoral livre, justo e transparente?
• Como garantir eleições livres, transparentes, justas e inclusivas sem liberdade de expressão e manifestação? Sem imprensa livre?
• Como pode Carlos Gomes Júnior regressar se tudo estão a fazer para impedir o seu regresso?)
• O que receiam e de quem têm medo?
Todos e cada um de nós sabe a resposta a qualquer uma destas perguntas. Neste contexto, o que vale a nossa opinião?
Medimos todas e cada uma das frases aqui ditas. Todas as perguntas formuladas são fruto de uma indignação geral que atravessa a sociedade guineense em geral e os jovens em particular.
Guineenses!
Todos nós tememos e devemos temer. Todos nós conhecemos as ameaças que pairam nas sombras que se movem após o crepúsculo.
Todos nós conhecemos, amigos e familiares que foram arrancados dos seus leitos, de suas casas, por pessoas que envergonham a sociedade guineense. Todos nós corremos riscos.
Mas é chegada a hora de dizer basta!
Guineenses!
De Bissau para todos os guineenses, de Bissau para a diáspora, de Bissau para o mundo, lançamos aqui o apelo e o desafio à comunidade internacional:
Vocês, comunidade internacional exigem eleições livres, transparentes, justas e inclusivas.
Vocês, comunidade internacional, disponibilizaram meios financeiros e materiais para o processo eleitoral em curso.
Mas vocês, comunidade internacional, estarão a acautelar o que defendem?
Findo o processo de recenseamento, vão dizer que decorreu sem precalços?
Que foi justo, transparente e inclusivo?
Vão dizer que estão reunidas as condições de segurança e liberdade para que todos os guineenses que queiram voltar, votar e ser candidatos podem fazê-lo?
Quais as garantias concretas que nos podem apresentar, a nós, guineenses, que ansiamos por um País próspero, com estabilidade política e em Paz?
Da nossa parte, temos uma certeza. Sabemos que Carlos Gomes Júnior vai regressar. Mas também sabemos que há receios e forças que tudo farão para impedir o regresso inevitável deste filho da Guiné-Bissau, mesmo que isso implique continuar a adiar as eleições gerais e prolongar o sofrimento do nosso Povo.
Por isso desafiamos e exigimos a quem de direito que nos informem quais as medidas concretas já tomadas para que a campanha eleitoral decorra com a normalidade democrática necessária, com imprensa livre e com liberdade de manifestação.
E que, finda a campanha, que as eleições possam acontecer também num clima de liberdade e segurança para que sejam reconhecidas por todos, guineenses e comunidade internacional, como livres, transparentes, justas e inclusivas.
Mas todos sabemos que a Guiné-Bissau vive num clima permanente de instabilidade.
Por isso perguntamos:
• Findo o processo eleitoral, reconhecidos os novos titulares de soberania guineense e aceites os resultados, que garantias temos que este novo Governo e novo Presidente ficarão nos cargos até novo golpe de Estado?
• Que garantia temos que a história não se repetirá?
Guineenses!
Para concluir, lançamos este apelo:
• Garantias de maior celeridade no processo de recenseamento, que se pretende transparente e inclusivo;
• Garantias de liberdade de expressão, manifestação e reunião de todo e qualquer guineense;
• Garantias que Carlos Gomes Júnior poderá regressar brevemente e em segurança para votar e ser candidato, retomando o caminho iniciado e interrompido pelo golpe de 12 de Abril de 2012;
• Garantias de eleições livres e justas, reconhecidas não apenas pelas autoridades nacionais, como pela comunidade internacional;
A Guiné-Bissau não pode perder mais tempo!
Apelamos, por isso, o retorno à ordem constitucional, o respeito pelos Direitos Humanos e Liberdade de Expressão para podermos dizer de viva voz o que pretendemos: o regresso de Carlos Gomes Júnior, Presidente do PAIGC, à Guiné-Bissau.
Brigadeiro Abel Djassi"