quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Jovens guineenses contra a mutilação genital feminina


Fonte: EXPRESSO
Autora: Carolina Rico

"Eu carrego o nome dos meus pais" é o nome do estudo efetuado em três países, incluindo Portugal, para apurar a opinião dos guineenses sobre mutilação genital feminina e o casamento forçado.A maioria dos jovens originários da Guiné-Bissau a viver em Portugal é contra a prática da mutilação genital feminina e encaram-na como uma violação dos direitos humanos. Ainda assim, o respeito pelos mais velhos faz com que não se sintam capazes de fazer valer a sua opinião e intervir na comunidade.

Esta é uma das conclusões do estudo sobre a "opinião dos jovens acerca da mutilação genital feminina e o casamento forçado dentro das suas comunidades", que será hoje divulgado pela Associação para o Planeamento da Família (APF), no âmbito do dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina que hoje se assinala.

"Eu carrego o nome dos meus pais" é o nome do estudo efetuado em três países, no Reino Unido, Holanda e em Portugal, e que foi entregue esta manhã, num gesto simbólico, a Teresa Morais, secretária de Estado dos Assuntos Plamentares e da Igualdade de Género.

Na análise feita em Portugal, onde a comunidade guineense ultrapassa as 45 mil pessoas, os jovens manifestaram ainda o desejo de não perpetuar a prática no futuro, e dizem-se incapazes de sujeitar as filhas à mutilação genital, até porque, na maioria dos casos, esta é realizada pelos mais velhos, portanto, questioná-la "seria uma ofensa à cultura e um desrespeito aos anciãos".

"A intervenção do Estado é necessária, mas para erradicar a mutilação genital feminina os jovens têm de se insurgir contra a tradição", disse ao Expresso Miguel Feio, que entregou ao Governo o estudo da APF, cuja parte feita em colaboração com os outros países ainda não foi divulgada.

Tolerância Zero na Comunidade Europeia

Também a Amnistia Internacional lança esta quinta-feira uma campanha europeia destinada a incentivar os candidatos às eleições para o Parlamento Europeu a comprometeram-se a agir contra a prática da mutilação genital feminina.Teresa Pina, diretora executiva da Amnistia Internacional, disse ao Expresso que é fundamental "resolver o problema em casa". E um dos caminhos seria os deputados do Parlamento Europeu assinarem a Convenção de Istambul (Convenção do Conselho Europeu sobre a prevenção e combate à violência contra as mulheres).

"A ação da Amnistia não se pode dirigir aos países africanos, onde a prática é mais incidente, sem antes se manifestar junto das comunidades Europeias", comenta.Por isso, a Amnistia convida todos os candidatos às eleições de maio a assinarem uma declaração de compromisso pelo fim da mutilação genital feminina.

Graças à campanha da Amnistia Internacional "Fim à Mutilação Genital Feminina", no último trimestre de 2013 a Comissão Europeia lançou uma estratégia contra a mutilação genital feminina, que inclui a intervenção nos sistemas de saúde e serviços de proteção e apoio de menores, e criação de indicadores para se conhecer o número real de raparigas e mulheres afetadas na União, assim como o número daquelas que se encontram em risco.

Amnistia Internacional pediu também que os candidatos às eleições facilitem, no âmbito dos seus mandatos, a proteção das mulheres e raparigas em risco de serem submetidas à mutilação genital feminina dentro do enquadramento legislativo de asilo existente na União Europeia.

500 mil mutiladas

O Parlamento Europeu estima que cerca de 500 mil raparigas e mulheres a viver na Europa foram submetidas à mutilação genital feminina, e outras 180 mil se encontram em risco todos os dias.

Segundo os últimos dados da Organização Mundial de Saúde, mais de 125 milhões de mulheres foram sujeitas a alguma forma de mutilação genital feminina nos 29 países de África e Médio Oriente, onde a prática se concentra. A mutilação genital feminina é mais comum entre crianças e jovens até aos 15 anos e em mulheres adultas em observação de costumes e rituais regionais, podendo resultar em inúmeras complicações ou na morte da vítima.