domingo, 5 de janeiro de 2014
OPINIÃO: Blufo N'dam (conclusão)
«Disse no artigo anterior de que, Kumba Yala (KY) voltou a agitar a vida politica guineense com mais um anuncio aparentemente imprevisível, ao comunicar a sua renuncia à vida politica ativa, assim como a sua candidatura as próximas eleições presidenciais previstas para o 1° trimestre do ano 2014.
Neste segundo artigo (Ato II), irei dar sequência à minha analise sobre as razões subjacentes a essa, ainda questionável renuncia, primando sempre pela opinião de que, essa retirada, forçada ou não, só poderá vir a ser uma boa noticia para o Povo guineense, caso essa decisão seja sincera e seguida na pratica.
Digo isso, porque, KY graças as influências nocivas e tentaculares que tem, quer no exercito, quer no seio da sua comunidade tribal, já deu mostras de que, não precisa de estar na vida politica ativa para continuar a manipular, condicionar ou incendiar a vida social e politica da Guiné-Bissau. Sinal inequívoco dessa asserção, é que a Guiné-Bissau só conheceu períodos de paz social e politica quando KY esteve longe do pais, consequentemente "desconectado" ou dessincronizado com os meios políticos e militares, os quais manipula e instrumentaliza com incrível mestria.
Em retrospectiva, podemos dizer com total segurança de que, KY esteve presente, direta ou indiretamente em todos os atos ou acontecimentos mais nefastos que marcaram a Guiné-Bissau. Assim foi, no caso 17 de Outubro que culminou em fuzilamentos, entre outros, de Paulo Correia e Viriato Pã, figuras de proa da etnia balanta que pelo carisma e personalidade que ambos encarnavam eram fortes obstáculos a sua cobiçada ascensão à liderança da comunidade balanta. Verdade é que, KY só conseguiu granjear a esse patamar após a eliminação física dessas duas personalidades, ao que se sabe hoje, vitimas de intrigas e denuncias caluniosas, em cuja montagem, segundo fontes fidedignas, KY esteve alta e interessadamente envolvido instrumentalizado pelo então presidente Nino Vieira (NV).
Seguiram-se depois as suas conhecidas palhaçadas de comediante e figurante politico (papel que foi igualmente desempenhado pelo Partido da Convergência Democrática - PCD, de Nado Mandinga), os quais eram pagos e controlados por Nino Vieira, a fim de encarnarem a fachada da viragem do pais ao multipartidarismo.
Mercê desse papel de agente duplo, KY foi-se apercebendo de que, poderia chegar ao poder através do caos e da divisão dos guineenses. Assim, na posse desses dados, qual Maquiavel, KY passa imediatamente à ação. Vimo-lo participar ativamente no atiçar do rastilho que despoletou o terrível conflito de 7 de junho de 1998, cujas consequências estão hoje respaldadas na forte hegemonia tribal das nossas FA. Vimo-lo, ao longo dos negros anos da sua participação no cenário politico guineense, repetidamente em vários cenários de complots e de violência que deixaram rastos de morte e de sofrimento.
Penso que, ao "despedir-se" da politica ativa, KY devia antes de mais, submeter-se a um ato de contrição e pedir profundas desculpas ao Povo guineense pelo tanto mal que lhe provocou.
Kumba Yala, deve pedir ao Povo guineense as mais sinceras desculpas, pelas intrigas e complots que urdiu ao tempo dos anos e que vitimaram muitos dos seus próximos e adversários; pelas guerras e contradições fomentadas no seio dos guineenses; pelos assassínios que encomendou e mandou executar (exemplos apenas Ansumane Mané, Verissimo Correia Seabra); pelos ódios criados na sociedade; pela degradação da imagem, por vilipendiar o Estado guineense; pela vergonha que fez os guineenses sentirem pela banalização do cargo de Presidente da Republica mercê da sua figura de autêntico que exibiu aquando do exercício dessa magistratura; pela desagregação, instrumentalização e tribalização das nossas FA; pelo fomento da tribalização da politica guineense; pela negação dos princípios democráticos; pela banalização da politica e dos valores democráticos; pela promoção da violência e do medo ao dotar-se de uma milícia tribal privada promotora do medo e da violência gratuita na sociedade guineense.
Enfim, KY devia pedir desculpas aos guineenses por, ao longo dos seus anos de participação na politica ativa guineense, lhes ter tolhido a Paz, o Progresso e o Desenvolvimento e, mais ainda, que vá para longe...bem longe se possível da Guiné-Bissau e que leve consigo os seus tenebrosos tentáculos do mal. Vá para longe Dr. que o Povo não sentira saudades suas.
O Povo guineense de boa fé agradece aliviado a "retirada" do KY da cena politica ativa, porém, como atrás disse, ela só valerá, caso essa declaração, seja séria, sincera e seguido de efeitos práticos. Caso contrario, estaremos perante mais uma mise en scène, um déjà vue em que KY é useiro e vezeiro.
C. de M. C.»