segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Matança em Cumeré: Médicos civis(?!) foram vítimas
O ‘famoso’, descontrolado e assassino recrutamento militar de Cumeré não passou de areia para olhos menos atentos. Ditadura do Consenso foi mais fundo e revela dados até agora desconhecidos.
O CEMGFA António Indjai, do alto da sua esperteza, matou dois coelhos de uma só cajadada: à pala de um acto de ‘juramento de bandeira’ (adiado vezes sem conta), Indjai aproveitou e meteu no mesmo cesto toda a sua guarda pretoriana – os jovens que foram os operacionais do golpe de Estado 12 de abril.
Houve, no entender de uma fonte militar, um acordo tácito: se o golpe falhasse, a tropa encarregar-se-ia da sua ‘prisão’, remetendo-os ao tribunal Militar. Este por sua vez acusá-los-ia do crime de ‘traição à pátria’, mas a sua liberdade chegaria logo depois; se o golpe vingasse, seriam pagos como qualquer mercenário e iam às suas vidas. Mas as coisas sairiam trocadas, e foram simplesmente integrados nas forças armadas. «Mandaram-nos fazer o golpe, e depois disseram que não havia dinheiro para nos pagar» - contou ao DC um elemento do grupo de insurrectos.
Com a prisão do Bubo Na Tchuto, apertou o cerco ao tráfico de droga. E sem dinheiro para pagar, Indjai foi obrigado a ceder. Seria a integração (sem planeamento, sem orçamento, sem qualquer base legal, o ministério da Defesa não foi tido nem achado, e o ministro não ousou sequer perguntar.) Indjai está, assim, preparado para o que der e vier. Que corram então rios de sangue...
Médicos enganados... e espancados.
O mais grave, porém, foi a baixa provocada entre os profissionais da saúde – CIVIS - nesse recrutamento. MÉDICOS civis recém graduados e outros graduados há cerca de um ano, e também enfermeiros - tudo misturado - foram também vítimas de espancamento. Uma enfermeira desabafou ao DC: «Na sua maior parte, são colegas de trabalho que foram enganados com a promessa de patentes, nomeadamente de major, e até agora nada. Foram falsas promessas e ainda por cima foram maltratados fisicamente».
DC soube no entanto que os antigos médicos, todos militares de carreira, discordaram com o estado-maior por não terem sido promovidos, e tudo voltou à estaca zero. Invocaram ainda uma das regras do hospital militar: para trabalhar lá tens que ser militar. Em desespero, Indjai não teve outro remédio: incorporá-los nas fileiras da 'sua' FARP.
A nossa fonte revela ainda que foram prometidos aos médicos salários na ordem dos 350 mil FCFA (pouco mais de 500 euros). «Por isso muitos lá foram porque o salário de um médico normal é de 130 mil... um médico não militar que está afecto à função pública. Por causa dessa diferença salarial muitos não pensaram bem e abandonaram os seus postos rumo a Cumeré, passando um mês de formação e muitos quiseram desistir mas já não podiam», conta angustiada.
Quanto ao número de mortos, a nossa fonte não tem dúvidas: «Houve três mortes, e há ainda muitas pessoas internadas em estado considerado muito grave», no hospital militar em Brá, nos arredores de Bissau. AAS