segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Opinião: Colapso Total


«O Povo Guineense tem um triste balanço a ponderar. De 12 abril de 2012, altura do golpe de estado que interrompeu o processo eleitoral democrático em curso, a esta data, a Guiné-Bissau encontra-se num colapso total enquanto Estado. O pais encontra-se completamente isolado e sem reconhecimento internacional credível, salvo exceção de quatro estados golpistas da CEDEAO (Nigéria, Senegal, Costa do Marfim e Burkina Faso) e da China Comunista que, mercê de uma politica sem escrúpulos, aproveita os estados de exceção dos países frágeis para a delapidação depravada dos seus recursos (exploração abusiva dos nossos mares, abates de arvores, extração de areias pesadas e explorações geológicas e ensaios prospetivos clandestinos);

O ensino publico completamente paralisado e parte do privado encontra-se inoperante por falta de ingressos e faltas de pagamentos dos encarregados de educação sem recursos para pagar a escola dos seus filhos; A saúde publica não funciona e a cólera, as doenças endémicas e transmissíveis ganham terreno de forma desenfreada e impõem as suas leis. A cólera só por si, já ceifou neste momento mais de três dezenas de vidas humanas;

Não há luz nem agua potável meses sem conta;

A justiça não funciona, porquanto hipotecada e enfeudada ao poder político-militar instalada com o golpe de estado ; A função publica e os serviços do estado estão paralisados com greves em quase todos os sectores dos serviços públicos já de si inoperantes e quase inexistentes; O Estado social esta exangue e os seus parcos bens estão a ser vorazmente dilapidados por governantes corruptos e sem escrúpulos sendo o caso do INPS o caso mais recente da voracidade insaciável desse regime de energúmenos;

O empresariado nacional esta falido e inativo, salvo exceções dos novos empresários, fachadas dos negócios interposto de elementos do regime que, através de negociatas e portas travessas se enriquecem escandalosamente, enriquecendo igualmente os seus promotores/padrinhos político-militares; Negócios ilícitos envolvendo recursos do pais proliferam como cogumelos (concessões de exploração pesqueira, mineira e de recursos naturais diversas estão a ser negociadas à socapa e à surdina a troco de "comissões chorudas" que vão directamente para os bolsos dos governantes do regime ou do poder militar;

Um regime transitório que, sem legitimidade politico constitucional, de forma irresponsável e descarada propõem-se ilegitimamente "realizar" reformas de fundo sobre o funcionamento dos órgãos e instituições do Estado, incluindo jogadas mafiosas visando a "privatizações" de bens públicos estratégicos, destacando-se os casos dos Portos de Bissau e as Redes de Telecomunicações; A violência campeia e a violação dos Direitos Humanos, civis e políticos dos cidadãos é uma constante diária, destacando-se neste particular actuações violentas e criminosas de elementos das forças armadas que mais agem como guardas pretorianas e forças milicianas ao serviço do poder militar e do PRS;

Um estado de insegurança generalizada e galopante, com destaque para agressões e assaltos à mão armada, mesmo à luz do dia, factos que se tornaram banais no quotidiano guineense e cada vez mais, com o envolvimento provado das forças da ordem que se constituem em bandos organizados para pilhagens e assaltos violentos; Raptos, privação indevida da liberdade, espancamentos, torturas, intimidações e coação física e moral de cidadãos e figuras da sociedade civil e órgãos da defesa dos direitos humanos são factos corriqueiros da vida dos passiveis citadinos guineenses;

Tendo sempre actores (alguns casos foram flagrados), elementos das Forças Armadas afetos ao General Injai, os casos de mortes suspeitas e casos de execução sumaria atingiram números recordes no pais desde o fatídico 12 de abril : mais de três dezenas de mortes confirmadas e vários desaparecimentos até agora não esclarecidos; Privatização e tribalização das forças armadas e das forças da ordem e de segurança, acentuando-se os sinais de exclusão nas fileiras das forças armadas (no geral, mais de 85% de uma só etnia, atingindo 93% nas forças especiais), realização de recrutamentos não autorizados à revelia do "poder civil" e de quaisquer regras de disciplina militar ;

Apesar de aparente acalmia, os organismos de monitorização do trafico de droga na África Ocidental, assinalam nos seus relatórios, um aumento crescente de movimentos ligados ao trafico de droga, registando a afluência, movimentações e contactos discretos de enviados de figuras destacadas do narcotráfico latino americano com elementos ligados as forças armadas, de segurança e alguns destacados políticos ; Todo este cenário de catástrofe e declínio de um Estado refém tem um rosto e responsáveis bem identificados que são : António Injai e o seu grupo de generais golpistas (os autores materiais), Kumba Yala (o mentor, eminência parda do descalabro da crise), Manuel Serifo Nhamadjo (um dos principais instigadores e co-mentores do golpe, onde se incluem o falecido Henrique Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé).

Igualmente, como responsável moral desta deplorável situação, se nada for feito atempadamente, o Povo da Guiné-Bissau considerara para a historia, o Representante Especial do Secretario Geral das Nações Unidas, José Ramos Horta, como um dos principais responsáveis dessa hecatombe social e politica, acusando-o, de inércia, omissão de auxilio, escamoteamento da realidade dos factos, faltar a verdade e conivência passiva com a opressão e o regime instalado.

B.F., Sociólogo
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