quarta-feira, 1 de maio de 2013
Reencontro com o pai ditou destino de judoca brasileira
Após reencontrar o pai, judoca troca o Brasil por Guiné-Bissau e conquista o título africano? Poderia ser o enredo de um filme, mas a história é real. Quase dois anos após ser flagrada no exame antidoping, a judoca Taciana Lima, uma antiga promessa do esporte nacional, voltou a subir no lugar mais alto do pódio. Não pela Seleção Brasileira, mas sim defendendo as cores de Guiné-Bissau, um país africano sem qualquer tradição no esporte, no Campeonato Africano em Moçambique.
Com esses fatos, muitos cineastas já poderiam criar um documentário ou um longa-metragem. Mas a história não acaba por aí. Aos 29 anos, Taciana, que luta na categoria até 48kg, decidiu se naturalizar pelo país africano após conhecer o pai, Óscar Suca Baldé. Sem saber quem ele era até 2007, o primeiro encontro só ocorreu no fim do ano passado quando a judoca passou o Ano Novo com ele no continente africano.
– Meu pai é de Guiné. Ele estudou no Brasil durante a universidade e conheceu minha mãe. Mas quando acabou o curso, teve de voltar e eles perderam contato. Na época, ele sabia que ela estava grávida. Nasci em Pernambuco e vim para o Rio Grande do Sul muito nova. Sempre soube que ele não era brasileiro, mas nunca tinha perguntado muito – afirmou Taciana.
Brasileira Taciana Lima sobe no pódio defendendo Guiné Bissau
– Em 2007, perdi uma seletiva para a Olimpíada e me deu o estalo de procurá-lo. Deu que ele era Secretário de Estado das Pescas e dos Recursos Haliêuticos. Liguei no consulado em Campinas e, no dia seguinte, ele me ligou. No fim de 2012, no Ano Novo, foi a primeira vez que a gente se encontrou – completou.
Treinando na Sogipa, no Rio Grande do Sul, formada em Educação Física e estudante de Design de Moda, Taciana decidiu trocar de país para ter mais oportunidades. E não se arrependeu da escolha.
A lutadora se naturalizou rapidamente e teve a liberação da Confederação Brasileira de Judô. Logo na primeira competição, no Africano em abril, levou o ouro. Mas a realidade em Guiné-Bissau é outra. A atleta chegou à competição sozinha, fez sua inscrição e ainda teve de ser sua própria técnica. E entrou para a história do país. Taciana segue morando no Brasil e agora a meta é disputar o Mundial no Rio de Janeiro, no fim de agosto, e a Olimpíada de 2016. Mas tudo representando Guiné-Bissau.
ENTREVISTA COM TACIANA LIMA:
LANCE!Net: Como foi disputar o Campeonato Africano de judô neste mês?
Taciana Lima: O campeonato foi muito bom. Fiz três lutas e ganhei todas por ippon. Foi minha primeira competição por Guiné. Decidi me naturalizar no fim de fevereiro, começo de março. Foi tudo muito rápido. No início, muita gente não entendeu. Quando cheguei, foi uma surpresa, todos me olhavam. Foi muito diferente, nem sei como descrever. Guiné-Bissau não tem judô. Na final, o ginásio inteiro aplaudiu de pé.
L!Net: Você só se encontrou com seu pai pela primeira vez no fim do ano passado. Como foi isso?
TL: Passei o Ano Novo no Senegal com meus irmãos e ele. Depois, fiquei sete dias em Guiné. Tive a oportunidade de conhecer o presidente, a estrutura do país.
L!Net: Qual o motivo de decidir defender Guiné e não mais o Brasil?
TL: Decidi defender Guiné por causa da cultura esportiva do país. Lá, isso não existe. Posso conseguir criar isso, mostrar o judô para eles. As pessoas nem sabem da existência do esporte. Além disso, no Brasil é muito concorrido para participar da Olimpíada. Como tenho conseguido bons resultados nas competições, vai ser melhor para mim.
L!Net: Como foi a reação do seu pai ao saber da sua conquista?
TL: Ele foi a primeira pessoa para quem eu liguei após a competição. Ele ficou muito feliz. Até hoje, essa conquista está repercutindo. Recebi telefonema de uma rádio, mandei o vídeo do pódio, passou na televisão... Ainda não tenho tanta noção de como foi a repercussão.
A ANÁLISE DE NEY WILSON, COORDENADOR DA SELEÇÃO BRASIELIRA DE JUDÔ:
"Foi algo que partiu da Taciana. Ela nos procurou por causa do pai, dizendo que havia a chance lutar por Guiné. Colocamos a situação. Ela não está entre as três primeiras atletas do Brasil na categoria, mas é uma grande judoca. Mas, desta forma, é uma chance de ela pontuar e conseguir ir à Olimpíada. Lá, ela terá uma concorrência menor do que no nosso continente. Nos correspondemos com o Comitê Olímpico do país e criamos todas as facilidades. Com a Camila Minakawa (outra judoca brasileira, que está competindo atualmente por Israel), aconteceu a mesma situação, um pouco antes da Taciana."