segunda-feira, 27 de maio de 2013

Há mar e vir


Tal como no poema de Garcia Lorca «a las cinco en punto de la tarde», fui ver o mar. Há não sei quantos dias eu carregava comigo duas obsessões: ver o mar e estar com o meu filho. Agora, contudo, a obsessão é estar perto do Guilherme. Ainda não vi o meu filho (está para muito breve), mas vi o mar. Foi melhor que nada, foi imenso!

No mar, pensei em coisas que magoa descrever. Também pensei em sonhos, esperanças, histórias com final feliz. Enfim, fiz o que pude para justificar o privilégio que tive de estar a ver o mar. Senti também um cheiro inebriante a verde, que me sugou, o calor, a humidade que cola à pele, o ruído dos carros na ponte, as canoas com gente a pescar ao largo, mulheres à procura de caranguejo, crianças chafurdando na lama cinzenta, a ponte que nem sequer oscila.

Eu continuo na margem. Sentado naquilo que já foi uma canoa. Mão direita a suportar o queixo, olhando coisa nenhuma. Mas mesmo daqui, pesem todas as adversidades, mantenho o deslumbramento. Quem viu o mar, nem que seja um pedaço de mar, não esquece mais. No estado em que me encontro tudo isto me parece fantástico. Entretanto tremo de frio, procuro entender os segredos da vida. E no meu espírito desorganizado duas imagens de alguma forma me animam. Ela, e ele – o meu filho. Dormia agora - com a vossa licença - o sono mais profundo da minha vida. N’kansa.

António Aly Silva, 2009