sábado, 27 de abril de 2013

ANGOLA: "O desgaste (da Guiné-Bissau) na acção internacional, é como que um golpe"


A secretária de Estado da Cooperação angolana afirmou hoje, na Cidade da Praia, que a realidade dos factos na Guiné-Bissau demonstra "quem de facto tem razão" e desdramatizou críticas das autoridades de transição guineenses a Angola e Cabo Verde. Ângela Bragança falava aos jornalistas após um encontro de trabalho com o chefe da diplomacia cabo-verdiana, Jorge Borges, reunião que marcou o primeiro de quatro dias de uma visita de trabalho a Cabo Verde. "Isto é natural (as críticas). Mas a realidade dos factos, no terreno, vai demonstrando de que lado está a razão. Há uma deterioração da situação social, que é ditada sobretudo pela dificuldade de (o país se) autofinanciar os projetos e as ações.

É preciso que haja estabilidade para que se capte o investimento estrangeiro e a ajuda externa", sublinhou, mas "na situação em que se encontra é muito difícil". "Angola e Cabo Verde estão a fazer o seu papel, sem intromissões, estão a agir no quadro das resoluções dos órgãos internacionais e da União Africana e acho que, neste quadro, continuaremos a dar a nossa ajuda ao povo da Guiné-Bissau", acrescentou Ângela Bragança.

A governante angolana advertiu também para os perigos do desgaste da comunidade internacional em relação às sucessivas crises político-militares e à falta de respostas face aos pedidos de paz e estabilidade no país. "Começa a haver um desgaste e o desgaste, na ação internacional, é como que um golpe. Quando já começa a não haver resposta pronta às solicitações, deixa-se cair no marasmo e eu receio que aconteça isso com a Guiné-Bissau", avisou, aludindo às autoridades de transição saídas do golpe de Estado de 12 de abril de 2012.

Lembrando as palavras ditas recentemente, também na capital cabo-verdiana, pelo enviado especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau, o ex-Presidente timorense José Ramos-Horta, a secretária de Estado angolana realçou que as autoridades da transição guineense estão perante "uma última oportunidade". "Mas devemos trabalhar no quadro que está estabelecido para que o país irmão se estabilize e possa dar dias melhores à população que sofre. Hoje, mais do que nunca, a população sofrerá mais, pois não há condições financeiras nem suporte económico para desenvolver o país", sublinhou.

Ângela Bragança, considerando que a atual situação na Guiné-Bissau é "desoladora", garantiu que Angola vai, porém, continuar a apoiar os esforços de estabilização no país, dentro do quadro que está definido. "Estamos comprometidos politicamente (com a Guiné-Bissau) e com o povo guineense e a nossa contribuição vai continuar a ser dada nos quadros que estão definidos", concluiu. Angola manteve até ao golpe de Estado uma missão militar na Guiné-Bissau, fruto de um acordo nesse sentido com o Governo então deposto pelos militares, liderado por Carlos Gomes Júnior.