quinta-feira, 7 de junho de 2012
Sanções, ou... Futilidades?
Para a Comunidade Internacional
Era bom que a Comunidade Internacional (CI), deixe de ser naif e aceite compreender de uma vez por todas que o golpe de Estado de 12 de abril na Guiné-Bissau, não é mais do que uma simbiose perfeita, entre a acção militar sobejamente arreigados ao anarquismo e à impunidade institucionalizada ao nacrotráfico, com a cupidez dos nossos políticos de ascenderem ao poder por quaisquer meios, cultura suficientemente enraizada na mente de um grupo de políticos medíocres e pedantes rodados nessa prática que, fora do poder, proliferam, impunes, pela urbe de Bissau.
O nexo causal e o enquadramento entre estes dois pólos de interesses perigosamente convergentes na Guiné-Bissau estão e têm estado na génese da crônica instabilidade na Guiné-Bissau. A ligação dos políticos emergentes dessa situação da ordem constitucional no golpe de Estado último, é mais do que evidente. Aliás, de há um tempo a esta parte que sempre é assim. A realidade é inegável. Aliás, só um cego que...não quer ver, é que não sabia disso.
A postura de negação primária e sistemática orquestrada pelos cinco candidatos presidenciais derrotados na primeira volta das eleições presidenciais da Guiné-Bissau, persistindo na contestação infundada da verdade democraticamente expressa nas urnas pela vontade livre e consciente dos eleitores guineenses, não deixava antever um desfecho sereno e democrático para um processo que, no seu todo, foi reconhecido de forma unânime por todos os observadores internacionais e fontes nacionais, como tendo sido livres justas e transparentes.
Tendo Kumba Yala à cabeça, e como séquitos Serifo Nhamadjo, Henrique Pereira Rosa, Serifo Baldé e Afonso Té, muito cedo, mesmo antes da publicação dos resultados provisórios, esse grupo claramente deu sinais de que estava a preparar-sd o pior para a Guiné-Bissau. Havia indícios claros da cogitação, senão mesmo da preparação de uma sublevação que levaria à subversão da ordem constitucional na Guiné-Bissau. A eminência da vitória de Carlos Gomes Junior e do PAIGC punha em sentido de alerta toda uma estrutura pronta para a desestabilização e caucionamento da violência e deliquência com cátedra feita na Guiné-Bissau.
Assim, publicados os resultados ditos definitivos a nivel da CNE e, apesar de defenderem publicamente a recusa de quaisquer dos resultados eleitorais publicados, os supostos democratas apresentaram as respectivas reclamações e recursos legalmente previstos junto as instâncias competentes. Entretanto, igualmente, em instâncias próprias, foi-lhes negado as suas pretensões, primeiro na CNE e posteriormente, em última instância no STJ. Porém, hoje compreende-se que, a suposta capa de contestação legítima não era mais do que um pretexto para ganhar tempo e engendrar estratégias de força e de subversão para tentar inverter o irreversível: a humilhação e o fim político do 'ícone' e último lider em fase de declínio político sem retorno. Assim, a componente militar e criminal foi associada ao processo da subversão da ordem a fim de consubstanciar a inversão constitucional.
Ninguém, no seu perfeito juízo, duvidava de que Carlos Gomes Junior, apoiado pelo PAIGC e vencedor da 1a volta com 49% dos votos esmagaria inapelavelmente Kumba Yala, cujo partido, PRS, nem um congresso conseguira realizar, fruto da sua desorganização, tendo mesmo procedido à recolha de assinaturas para que Kumba fosse candidato... Seria, assim, o fim de um mito, cuja degradação física e o evidente senilismo não conseguem esconder... enfim, essas eleições seriam um golpe duro para as forças do mal e do anti-progresso da Guiné-Bissau.
Para atingirem esses maquiavélicos intentos, CGJ, foi «vendido» e catalogado de todos os nomes pejorativos e caluniosos possíveis, entre eles, como sendo defensor dos interesses coloniais e de Portugal, de colonialista, de ser contra os balantas e de querer erradicá-los das forças armadas, de possuir projectos maquiavélicos de eliminar as chefias militares, em particular as de etnia balanta, de ser contra os militares, ser o mentor de várias mortes de políticos e militares ao longo dos anos, de ter um acordo secreto com os angolanos e forças estrangeiras para aniquilamento das FA da Guiné-Bissau, de querer vender a soberania nacional a interesses estrangeiros... e, muitos outros infindáveis delírios baseados num complexo doentio, primário, eivado de complexado contra quem faz o bem e traz o desenvolvimento para o seu País e, consequentemente, para o Povo da Guiné-Bissau.
Todos esses boatos e calúnias falaciosas, foram ventiladas e vendidas ao longo dos tempos (com Malam Bacai Sanha e alguns assessores complexados à cabeça), que, sem credibilidade, sustentabilidade e muito menos provas, acabaram por cair no descrédito... apesar de todas as incidiosas campanhas e montagens feitas a todos os niveis e instâncias, sempre visando o seu aniquilamento politico e, até fisico, caso fosse necessário. Porém, Carlos Gomes Jr. sobreviveu a todas as tempestades e complôs urdidos contra a sua pessoa. Sofreria mais de quatro tentativas de golpe de Estado durante o seu mandato...Coisa pouca, pensariam...
Entretanto, a estratégia da 'Quinta Coluna' não se ficaria por aqui, pois esgotados os argumentos legais - reclamação junto à CNE e recursos para o STJ - que foram usados supostamente como simples fachada de aparência democraáica, passa-se à 2a fase do plano maquiavélico, montado de assalto ao poder pela força das armas com a inevitável cumplicidade dos militares, grupo castrense imbuído de um tribalismo complexado e exacerbado que têm destruido irresponsavelmente todas as bases sociais de uma convivência pacífica futura entre as várias etnias que compõem o mosaico socio-racial da Guiné-Bissau.
O mote para a subversão foi dada através de uma saída, tão surpreendente quanto fundamentalista, de um elemento do orgão de superintedência do processo eleitoral, a CNE, na pessoa do seu Secretário Executivo, que, contra a corrente das evidências e dos dados, vem, por pressão ou orientações do PRS, caucionar publicamente e sem quaisquer fundamentos as alegadas «fraudes eleitorais» propaladas patéticamente aos quatro ventos pela 'Quinta Coluna', no entanto, rejeitadas com argumentos validos pelas instâncias competentes. Como principal tenor dessa propalada "fraude", Antonio Artur Sanha... sintoma preocupante do radicalismo, sectarismo e violência do movimento..., enfim, ingredientes sujacentes à sua génese de inadaptado social de irreversível reencaminho.
Seguem-se as ameaças veladas feitas por Kumba Yala de que não heveria 2a volta das eleições. Assim dito, assim feito. Trinta (30) minutos depois das suas incendiárias declarações de 'interdição' da realização da segunda volta, a residência de Carlos Gomes Jr., candidato vencedor da 1a Volta das eleições presidenciais, foi atacada com armas pesadas, visando o seu aniquilamento. Porém, este, salvo miraculosamente do brutal assalto, foi detido, mantido em cativeiro em condições desumanas durante 15 dias até à sua saída para o estrangeiro, em condições que ainda se questiona. O resto é o que se sabe...
No entanto, internamente a participação directa dos políticos na subversão da ordem constituicional e participação no golpe de Estado, é mais do que evidente, senão inquestionável:
- O Comando militar, assume-se como parte prenante no processo do golpe, advogando a favor do PRS, dos dissidentes do PAIGC e dos partidos da oposição conjugados em coligações que perderam com os seus candidatos;
- Kumba Yala, Serifo Nhamadjo, Henrique Pereira Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé, posicionaram-se de forma inequívoca e pública como os maiores e únicos interlocutores do Comando Militar em todo o processo do golpe de Estado;
- Kumba Yala como mentor, estratega político do golpe e líder balanta que a estrutura militar presta subservência, está pretorianamente 24/24 horas guardado pelos militares do Comando Militar e milícias fortemente armadas que cortam mesmo o tránsito na rua onde este mora;
- O PAIGC, partido maioritário e apoiante do candidato vencedor da primeira volta das eleições presidenciais, foi afastado e marginalizado de todos o processo negocial e de saída para a crise;
- Os cinco candidatos contestários da primeira volta das eleições - embora tenha começado ainda antes da realização da 1a volta... - associaram-se e apoiaram, declarada, aberta e descaradamente o golpe de Estado e o Comando Militar que o promoveu;
- As negociações foram sempre realizadas de forma pública e assumida entre o Comando Militar e os partidos políticos apoiantes do golpe de Estado;
- Está provado e comprovado que a escolha do 'primeiro-minisro' dito de transição foi uma escolha pessoal e directa de Koumba Yala, tendo rejeitado, pelo menos dois nomes inicialmente avançados para ocupar esse posto. Convém realçar que Serifi Nhamadjo não era o preferido de Kumba;
- Kumba Yala e Serifo Nhamadjo participaram em total sintonia com o Comando Militar na elaboração da lista do dito Governo de transição;
- Alguns politicos devidamente identificados, participaram activamente no golpe, alguns inclusivamente fardados, armados e com escolta militarizada. Por exemplo, o meu espancamento e prisão...foi ditada por civis, que eu, perfeitamente posso identificar...
Assim, perante estes e outros factos aqui enunciados, alguns não, ora por desconhecimento, ora por omissão, não se compreende que, até à data presente, certos políticos activamente envolvidos na alteração da ordem constitucional na Guiné-Bissau não constem ainda das listas, quer as publicada pela União Africana, quer na da União Europeia ou das Nações Unidas. Esses políticos têm nome e são, sem quaisquer duvidas: Kumba Yala, Serifo Nhamadjo, Henrique Pereira Rosa, Afonso Té, Fernando Vaz, Artur Sanha, Faustino Imbali, Umaro Embalo (Cissoko) e tantos outros que seria fastidioso enumerar.
Perante este perigoso «descuido» da CI, com respaldo gravemente nocivo no actual cenario político-militar na Guiné-Bissau, corre-se o risco de que todas as decisões que possam tomar em relação aos militares sejam uma perfeita «sinfonia para surdos»..., pois para esses, ser interditado ou sancionado é como se fosse NADA. Ao Bicho do Mato a cidade e as viagens não interessam para nada, pois como Bicho que é...gosta é de viver no mato, no meio da desordem e da anarquia.
E bom que a CI entenda de uma vez por todas que, sem se envolver esses politicos maliciosos e criminosos que estão comprovadamente envolvidos na situação de instabilidade na Guiné-Bissau, no lote das pessoas abrangidas pelas sanções, tais como os seus cúmplices militares golpistas, NADA SE RESOLVERÁ e tudo continuará na mesma na Guiné-Bissau, isto é... na passivel e pachorenta impunidade a que o nosso País, infelizmente, já está habituado.
Se a CI persistir em fechar os olhos e fingir não ver essa realidade tão evidente e escandalosa, deixando de lado os mentores morais e manipuladores do golpe de Estado e da instabilidade na Guiné-Bissau, livres de quaisquer constrangimentos ou medidas de limitação, de circulação ou de acesso aos seus bens de forma impune e criminosa.... a saga da desordem e desconstrução do Estado de Direito, continuará imparável e impune, até que a Guiné-Bissau acabe exanque... morto por abandono e omissão de auxilio da Comunidade Internacional.
Em suma, limitando a CI as suas sanções e restrições meramente aos militares já enumerados, nada mudará: esses não viajam para a Europa, muito menos para os EUA e, provavelmente, nem possuem contas bancárias no exterior, porquanto os seus rendimentos provindos de serviços de interposição, recepção e estocagem da droga trazidos pelos cartéis colombianos, venezuelanos, marroquinos, entre outros, no território da Guiné-Bissau e ou para o exterior, é pago a pronto 'cash', sem interposição ou intervenção bancária... tendo assim, muitos lugares e meios por onde guardá-los com total segurança.
Essas sanções, é bom que se diga, não aquecem nem arrefecem os militares (Antonio Injai disse-o ontem claramente no Repórter África), pois o seu ganha pão e o seu império da violência e da anarquia estão na Guiné-Bissau, onde são reis e senhores absolutos. Os descarregamentos e transposições de lotes de droga no interior (entre Cassolol e Varela) e as ilhas bijagós da Guiné-Bissau aumentaram exponencialmente desde fins de abril último. Os aviões já nem aterravam, lançam a mortífera carga... E, na falta de clientes para descarregar o lucrativo negócio da droga, os próprios militares metem maos à obra. E há, ainda, o suculento erário público para delapidar a granel...
Estou certo de que, a esses políticos citados, comprovadamente envolvidosao até o tutano no golpe de estado de 12 abril, far-lhes-ia diferença serem interditados de viajarem para o exterior, de terem acesso às suas contas bancárias no exterior congeladas, às suas casas corruptamente adquiridas confiscadas, não poderem visitar os seus filhos e as suas famílias principescamente instalados no estrangeiro... a esses, sim, ha interesse e objectividade em lhes serem aplicadas as sanções e restrições impostas aos militares.
Para se aplicarem essas sanções PROVAS NAO FALTAM: existem e são mais do que suficientes.
Às entidades que aplicam essas sanções, cabe ver a pertinência deste meu ponto de vista, senão, tudo o que se faça, dará inevitavelmente em NADA, tudo que se faça será FÚTIL e, inevitavelmente o Povo da Guiné-Bissau continuará a sofrer, a ser espezinhado e a ser violentado e estirpado dos seus direitos mais elementares por uma associação restrita, prenhe de malfeitores, e constituído por militares, alguns deles criminosos, outros ainda narcotraficantes e os seus acólitos de políticos de igual estirpe.
Deixem de lado, a diplomacia, sejam realistas, tenham dó de todo um povo que esta à mercê da bárbarie, ACUDAM o Povo da Giné-Bissau. António Aly Silva