quarta-feira, 16 de março de 2016

OPINIÃO: Consequências da emigração na actual crise da Europa


Diz-se e é verdade, a nossa cultura de emigração só começou no ano 80. Tirando a nossa emigração regional da etnia Manjaca inserida na região cassamanse/Senegal e depois França, aliás, esta etnia além de beneficiar de uma educação colonial porque Cacheu foi berço das famílias mais civilizadas educadas pelo colonialismo português, que deram nomes das elites guineenses como por exemplos as famílias Barreto, Gomes, Pereira, Silva e Mendes.

Esta educação colonial diga-se beneficiou principalmente ao Senegal, porque quando vemos grandes cabeças pensantes e quadros do prestígio internacional a serem referidos nos grandes certames com nomes de Mendes ou Gomes, qualquer guineense atento diz logo "é da Guiné Bissau". Isso acontece também no desporto e principalmente no futebol com nomes com Patrick Vieira, Gomes, Mendes e Evra.

Com esta pequena introdução, quero falar da situação dramática das famílias guineensess em Portugal e por esta Europa fora. A comunidade guineense já viveu momentos muito bons em Portugal no período da pujança econômica do país. Portugal restabelece a estabilidade política com a entrada dos governos de Cavaco Silva/PSD e a entrada na CEE, e foi nesse período que se deu uma emigração maciça dos guineenses.

Havia trabalho, havia circulação de dinheiro, concessão de créditos para a habitação e mais géneros. Tivemos a nossa comunidade a trabalhar na reconstrução e construção das novas infraestruturas de Portugal.

Com a crise que assola a Europa e principalmente Portugal, sobretudo com a entrada do governo de Durão Barroso/PSD, a família guineense foi atingida brutalmente. Fim do trabalho nas obras e a crise começa a entrar porta adentro atingindo as famílias. Começam problemas sociais, penhoras e despejos de casas e dívidas bancárias que teve como consequências muitas separações e destruição de famílias principalmente nas camadas mais jovens.

Esta destruição das famílias teve como consequências maiores a falta de rumo que muitas famílias não conseguiram dar aos filhos, hoje temos cadeias cheios de jovens filhos de guineenses que entraram no mundo da criminalidade. Chefes de família que tinham e alguns ainda tem a seu cargo 10 ou 12 membros nos seus agregados. Medida facilitada com a lei suicida para guineenses, lei Sócrates agrupamento familiar, apesar da bondade dessa lei que permitiu que muitas famílias se juntassem aos seus, foi também um convite para a desgraça de muita gente.

À nossa maneira guineenses, algumas famílias usaram esta lei sem nenhum plano elaborado, aumentando simplesmente o agregado familiar sem ter em conta o aspecto financeiro para suportar muitas despesas com a saúde, a educação, a alimentação, os transportes. Nessa vaga, trazem irmãos, sobrinhos, filho deste e daquele.

No início de ano 2000 começa uma nova emigração dos guineenses de Portugal para outros países da Europa, alguns ainda mantinham o sistema social atraente, principalmente os países Nórdicos, a Alemanha e a Inglaterra. Alguns refazerem as suas vidas mas foi sol da pouca dura. Todos estes países cortaram a tradicional famosas benesses sociais.

É doloroso o que muitas famílias vivem e com a crise extrema, dificuldades enormes hoje de garantir a própria alimentação em casa e garantir passes de transportes para crianças se deslocarem para as escolas. Ver as mulheres a levantarem às 3 ou 4h da madrugada para serviços de limpeza com ordenados muitos baixos e homens sentados em casa sem trabalho.

Há uma nova realidade na emigração, muitas famílias estão fazer as malas para regressar ao seu país, muitos são confrontados com a realidade da falta de suporte de condições mínimas, gente já com idade avançada e sem nenhuma possibilidade de se manter e viver na Europa. Gente qualificada e de muita qualidade que podem emprestar está mais valias adquiridas para ajudar a Guiné-Bissau.

Acredito que se os nossos governantes fizessem a exemplo do que os governos de José Maria Neves/PAICV fez em Cabo Verde, com políticas de incentivo à emigrantes cabo-verdianos principalmente os de Portugal, muitos guineenses regressariam à Guiné-Bissau com a dignidade que um emigrante merece. Já não há alternativa na Europa.

E a nossa única salvação é o nosso país, por isso é urgente ajudar a salvar famílias, homens, mulheres e jovens formados que querem trabalhar em função do estatuto.

Catio Baldé