segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Meu. Quebo.


Quem me conhece bem sabe que não sou pessoa de desistir facilmente. Tenho, de resto, o empenho estampado no rosto. Gosto do meu País. Dez minutos depois de atravessar as suas fronteiras, começo a sentir arrepios. Bom, dez minutos talvez seja exagerado; Que sejam cinco. Mas de certeza que de trinta minutos não passa.

Pessoalmente, tenho dificuldade em orgulhar-me das coisas que me acontecem por casualidade. Fernando Pessoa escreveu: «O lugar onde se nasce é o lugar onde mais por acaso se está» - uma frase com a sua piada.

Eu nasci na Aldeia Formosa (actual Quebo). Já fui ao Quebo umas vezes, passei outras tantas sem parar e confesso que nem de uma nem de outra vez senti grande coisa. Nem um arrepio na alma. Não me vieram - ao contrário dos piegas - lágrimas aos olhos, nem me deu vontade de escrever contos. Nem sequer um poema.

Pouco me importa que milhão e meio de guineenses desconheça onde fica a vila do Quebo, ou quantos habitantes terá ou teve em tempos. Ou sequer se tem tradições, e já agora quais serão.

Trata-se de um sítio, e pronto. Um sítio de merda, como o são aqueles sítios onde por nada deste mundo assentamos arraiais, ainda que por breves momentos. Passámos, e às vezes desviámos o olhar, talvez envergonhados.

O facto de eu ter nascido na Aldeia Formosa, não transformou o Quebo num lugar especial - e é assim que está bem. Um sítio banal, aquele onde eu nasci. Talvez seja por isso que eu vivo de forma espartana. E não me tenho dado mal.

Mas não trocaria o Quebo por nenhum outro lugar. E com a vossa licença vou embora já. Vou para o outro Sul - e será sempre o eterno Sul cheio de estrelas e de noites intermináveis.
António Aly Silva