domingo, 5 de julho de 2015
OPINIÃO: Sobre o discurso do Presidente da República
"Tive o imenso prazer de integralmente escutar e ler posteriormente o discurso do Presidente da Republica (PR), José Mario Vaz (JOMAV) e confesso que, fiquei agradavelmente surprendido, por isso, lhe endereco por esta via, os meus mais sinceros parabens.
Li e reli o discurso pronunciado no dia 3 do corrente. Um discurso bem delineado, coerente, responsavel e, acima de tudo, com profundo sentido de Estado, porquanto elaborado com inegavel sensatez e portador da insigna da responsabilidade que lhe cabe como Primeiro Magistrado da Naçao. JOMAV felizmente, contrariamente ao que muitos esperavam, soube estar acima das querelas mundanas auto-propagandeadas nos ultimo dias na sociedade e nos espacos virtuais do complot politico nacional, salvo a honrosa excepcao da Ditadura do Consenso que soube manter-se a margem desse jogo de paus mandados.
O discurso do PR, sendo dirigido à Naçao pelos canais da Assembleia Nacional Popular (ANP), orgao que legitima o Governo, é de lhe louvar o elevado sentido de oportunidade, coragem e alcance politico que quiz conseguir com esse discurso à Naçao, principalmente pelo conteudo da mensagem que enderecou aos actores politicos institucionais.
Se existissem duvidas sobre a teoria da conspiracao e do "contra-poder" instalado na Presidencia, com esse discurso, o PR "ilibou-se" desse complot no que toca à sua parte, pois conseguiu desmistificar um credo que se criou e se propagou levianamenente em Bissau nos ultimos tempos. Pergunta-se com que objectivos e a favor de quem ?
Sera que esses rumores foram deliberadamente criadas para culpabilizar o PR pela instabilidade, pela eventual queda do Governo, de contra-poder ou de intromissao na esfera governativa ? Sera que, elas foram criadas com o fito de escamotear os podres e os falhancos de uma governacao à deriva, desacreditada pela incompetencia reinante, pela corrupcao que se evidencia escandalosamente no quotidiano governativo e nos circulos do poder?
Nao tenho nenhumas certezas, nem tomo nenhum partido, mas as evidencias e os factos estao indesmentivelmente no jogo dessa informacao e contra-informacao de politica encomendada.
Mas, o que fica registado para avaliacao dos passos seguintes, é que, o PR "desembaracou-se" e bem da teia da teoria da conspiracao tao propalada da Presidencia contra o Governo, pois no seu discurso, de forma solene se descarta de quaisquer intencao ou movimento tendente a obsctaculizar a accao governativa. Longe dele tais propositos, defendeu-se e bem, ao longo de todo o seu discurso.
O PR, muitas vezes com emocao à mistura, disse de forma frontal o que lhe vai na alma e, deixou entender de que, nao se deixara intimidar, nem se conformara, caso as coisas nao sigam pelo bom caminho. Deixou bem claro de que, caso seja necessario intervira, tomando as medidas necessarias para que o pais siga pelo bom rumo e para que a demanda das nossas populacoes sejam realizadas.
O PR deixou recados e deu conselhos bem direccionados, com carapucas à medida dos respectivos destinatarios. Um a um, a uns e a outros, o PR disse as suas verdades, prodigou conselhos e, mais do que isso, com legitimidade, indicou-lhes o caminho a seguir para servir o povo e alcancar o bem comum, bens esses, que assume advogar a sua defesa intransigente à que preço e custo for da sua parte. Salientou que, foi para isso que foi eleito por sufragio universal directo.
Num ambiente sensivel, adensado por uma atmosfera de deliberada hostilidade, o PR, soube ser firme, nao recuando nos seus principios anteriormente enunciados e, aprestou-se a uma licao de sapiencia politica, concedendo nas entrelinhas mais uma oportunidade à quem, teimosamente teima por enveredar por comportamentos de duvidosa idoneidade, quer pessoal, quer de membros da equipa que dirige.
Nao foi de animo leve que o PR escolheu o Hemiciclo da ANP como palco para enderecar a sua mensagem ao pais. Fe-lo por um lado, com o proposito de se dirigir aos governados (o povo) que é o principal destinatario das accoes do governo, mas tambem, quis enderecar-se aos Deputados na sua propria sede, onde bem recentemente, quica guiados por impulsos de primitivismo politico, foram manipulados a votar uma insolita "mocao de confianca" ao Governo de Domingos Simoes Pereira (DSP). Pergunta-se à favor de quem, ou contra quem foi votada essa mocao. Nao sera uma mocao Quixotiana?
Hoje finalmente percebe-se mais claramente de que, tal se tratava de uma bem delineada jogada de antecipacao fruto da mitomania do auto-criado complot da Presidencia da Republica para derrubar o governo de DSP. Hoje se confirma de que, a mocao de confianca, nao era mais do que um "escudo anti-presidente" e um selo demagogico de caucionamento de um governo fortemente sacudido por escandalos de corrupcao, irresponsabilidade governativa, desvios de bens publicos e contas com a justica (meio governo esta indiciado ou constituido arguido).
Em suma, o recado do PR, foi dado e ouvido por toda a Naçao, diaspora guineense incluida, mas principalmente, o PM e o seu Governo.O PM, esse disse, em tom meio desprezivel, ter "tomada nota" e "ir tirar as ilacoes necessarias".
Para nos que seguimos com inquietude crescente os malabarismos duma governacao sem rumo certo, esperamos muito mais do PM, muito mais do que simples tomada de notas e promessas de correcao de rumo por razoes de circunstancia.
Esperamos da sua parte, uma postural de humildade, uma resposta adequada a licao e aos recados que lhe foram enderecados pelo Primeiro Magistrado da Naçao. Esperamos dele, saber aproveitar a licao de altruismo politico que lhe foi dado, para com ela se orientar na sua lideranca governativa, comecando por se desembaracar das personnas non gratas do seu desastroso governo, assim como, ele mesmo como chefe do executivo comecar à assumir atitudes e comportamentos mais responsaveis, consentaneas com os principios e parametros de um gestor publico que se exige impoluto e longe de quaisquer suspeicoes ou de condutas duvidosas.
Infelizmente, pelo que nos é dado a constatar actualmente, o PM anda longe desses padroes de exigencia governativa e, caso persistance nesse caminho da vulgaridade, acompanhado de governantes cadastrados e de colarinho branco, parece certo de que, a medio prazo nem a sua arrogada legitimidade das urnas lhe podera valer, quando decisoes de interesse nacional se imporem ao PR.
No dia 3 de Julho o PR deu-lhe sensatamente, a bem do pais, uma segunda oportunidade. O PM, parece nao ter entendido a mensagem e, responde no dia seguinte pela petulancia de uma manifestacao carnavalesca denominado "Comemoracao de um ano de Governo". Uma manifestacao em forca e com desbarato do erario publico em mais um folclore de n'gana povo.
Uma coisa é certa, depois do discurso do PR, nada sera como dantes na Guine-Bissau. Os dias que se seguirao farao as contas do rosario, sendo certo que, amanha podera ser tarde para quem nao quis entender à mensagem que lhe foi enderecada e, assim seguira a historia o seu curso, sem vagas, na certeza de que, os maus exemplos nao deixam saudades.
Fernando L."