domingo, 26 de julho de 2015

OPINIÃO: Não mais mil colinas


"Uma média de 8 mil tutsis e hutus moderados foram chacinados diaramente entre abril e julho de 1994 no Ruanda por conterrâneos da etnia hutu no poder. Os tutsis, mercê de rivalidade e animosidade criadas desde os tempos da colonização belga, eram tratados pelos seus conterrâneos hutus de Inyenzy, "os baratas" em kinyarwanda, língua oficial do Ruanda.

Na noite de 6 de abril de 1994, o avião do Presidente da República hutu, Juvenal Habyarimana, foi abatido quando regressava da Tanzania onde decorriam negociações de paz com os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (FPR de maioria tutsi). No dia seguinte, a primeira-ministra hutu moderada Agathe Uwilingiyimana, dez capacetes azuis da Missão de Observação das NU (MINUAR) que a protegiam e vários ministros da oposição foram mortos e assim começaram os massacres.

Segundo estimativas das NU, entre 800 mil a 1 milhão de pessoas foram assassinadas em quase com dias, na sua maioria tutsis e também hutus moderados.

Nesse genocídio, a Radio-Televisao Livre das Mil Colinas (RTLM) tornou-se no "meio de comunicação do ódio" anunciando a localização de tutsis e de hutus moderados em fuga, apelando à mobilizacao da população, grande parte da qual participaram nos assassinatos, massacres e violações em massa. Em suma, o genocídio no Ruanda foi preparado e teve na RTLM o seu meio principal de difusão, incentivando ao ódio e à vingança inter-étnica.

Na devida proporção, mas com consequências que ninguém pode antever, assiste-se hoje na Guiné-Bissau, a promoção gratuita da violência por encomenda, à deriva de comportamentos, da intolerância, da maledicência e da calúnia. Esses factos novos, que poderão trazer impactos e consequências graves na sociedade guineense, estão a ser irresponsavelmente promovidas por dois pasquins auto-intitulados de blogues, cada um aparentemente a soldo e com a bênção dos dois campos políticos em contenda actualmente no país, e a cujas posições e interesses é dado respaldo e defendidos com extremismo exacerbado.

Descarada e despudoradamente, um, supondo-se enganosamente de que se encontram no anonimato total, ameaçam de morte os adversários e contestatários do seu mentor, apelam à insurreição popular e das forças armadas para destituirem o Presidente, caso este destitua o Governo que veneram; insultam e proferem obscenidades inqualificáveis contra o Primeiro Magistrado do país e contra o Poder Judicial, acusando estes de quererem, em conluio, destituir a equipa dos seus mentores.

O outro, um autêntico perigo público, geneticamente psicopata, esquizofrênico, meio iletrado (sem muito a dever ao outro pasquim), age também ele, na maior impunidade e sem esconder a proveniência e alcance dos seus recados. Insulta tudo e todos, ameaça de morte as pessoas, promove a devassa da vida privada das pessoas por encomenda ou suborno, incentiva ao ódio, à caça ao homem, faz apologia à tomada do poder pela força, cria falsos testemunhos contra os seus alvos, inventa cenários surrealistas de complots e intrigas.

Surpreendentemente, perante essa guerra de terrorismo verbal, nenhum dos campos que deliberadamente eles convictamente defendem se desmarcou ou se posicionou, no sentido de pôr termo a essa verboreia desqualificada, cujas consequências ninguém pode prever, se se tomar em consideracao de que, na realidade o país não anda bem, as três instituições cimeiras do Estado estão de costas voltadas e a Quinta Coluna ainda é uma incógnita, tanto mais que, do meu modesto ponto de vista, a aparente conversão à agricultura do seu conhecido fazedor de reis não me convence minimamente.

É preciso pôr cobro imediatamente a essas derivas de comunicação baseado na insanidade, na mentira e na promoção da insubordinação social, ao ódio, à vingança e à morte. Há meios técnicos para o fazer em menos de 24 horas e quiça o país se livre de situações que, pela aparência, são inofensivas mas que podem trazer consequências nefastas para a Guiné-Bissau a curto prazo, num momento em que a viragem de comportamento e de rumo é primordial para fazer o país crescer e encontrar a tão almejada estabilidade.

A um e outro, existem factos mais do que suficiente para que as instâncias competentes da República tomem medidas para pôr termo a essa deriva interna de comunicação que atiça os guineenses ao conflito e à divisão. É urgente agir contra essas duas monstruosidades de agitação de consciências e modo de estar que se quer implementar na Guiné-Bissau, isto, sem deixar de prestar um olhar atento a uma outra semente do ódio semeado algures na diáspora e germinado num complexo intrínseco de vitimização em que se apregoa pateticamente consciências, ora de círculo de "intelectuais", ora a de "judeus guineenses" e, paradoxalmente, pretende ser a nossa "raça ariana". Hum...!

Despeço-me, agradecendo ao Ditadura do Consenso a particularidade da sua maturidade, patriotismo e consciência nacional.

Mantenhas.
A.A.A."