sábado, 4 de agosto de 2012
Guiné-Bissau: uma reflexão patriótica – Parte 3
CEDEAO vs CPLP? Eis a questão! Será?
A crise politica que se vive neste momento no país levantou discussão sobre o papel/importância da CPLP (Comunidade dos Países de Língua oficial Portuguesa) e da CEDEAO (Comunidade dos Estados de Africa Ocidental) no passado e sobretudo no presente e futuro da Guiné Bissau.
O tema tem levado a vários debates, discussões, perplexidades e comentários que foram e teem sido expostos em todos os quadrantes no país e na diaspora entre outros. Até houve da parte de quem neste momento dirige os destinos do país comentários do tipo " CPLP está num beco sem saída ", houve ainda quem pusesse em causa a continuidade da GB nesta organização, entre outros. Mas também houve quem tivesse a humildade de pedir diálogo, cooperação e compreensão à CPLP.
Perante todos cenários, dei me ao trabalho de fazer uma reflexão com o objectivo de comparar estes 2 blocos (CPLP e CEDEAO) em relação a 2 indicadores a saber: Crescimento económico e PIB per capita (total da riqueza produzida a dividir pelo nº de habitantes). Esta comparação poderá, por um lado esclarecer a opinião pública e não só, sobre a realidade nos 2 blocos e por outro lado, ajudar a quem de direito (sei que sabem, percebem e veem o que todos sabemos, percebemos e vemos) na elaboração dos planos de orientação estratégica do desenvolvimento económico da Guiné Bissau.
Em termos de crescimento economico e PIB per capita, a comparação é feita tendo em conta quatro (4) aspectos: 1 - Cabo verde faz parte dos 2 blocos e por isso entra no cálculo da média dos 2 blocos garantindo por isso um efeito neutral; 2 - A Guiné Bissau não entra no cálculo da média dos 2 blocos; 3 – houve o cuidado de expurgar o efeito dos não PALOPs (Brasil, Portugal e Timor Leste), centrando a análise nos PALOPs (Países Africanos de Lingua oficial Portuguesa), permitindo uma comparação mais objectiva. 4 – O periodo de análise é o compreendido entre os anos 2003 /2011 (últimos 9 anos).
A)- Em termos de crescimento económico, de acordo com dados oficiais, a zona CEDEAO, teve uma média de crescimento real do PIB no periodo em causa de 4,48%, enquanto a zona CPLP teve uma média de 5,51%. Expurgando o efeito dos não PALOPs temos uma média de 6,67%. No mesmo periodo a média de crescimento do continente Africano foi de 5,2%, inferior em 1,47% da média dos PALOPs mas superior em 0,72% à média da Zona CEDEAO.
B) – O PIB per capita na Zona CEDEAO é de 2.754 $ (USD), enquanto na Zona CPLP é de 6.364 $, portanto mais do dobro. Limitando os calculos aos PALOPs, podemos constatar que o valor atinge os 3.437 $. Em África, o PIB per capita é de 3.025 $. Aí podemos constatar que o PIB per capita nos PALOPs supera o do continente em 411,55$ e da zona CEDEAO em 682,57$, sendo que há uma diferença brutal se compararmos o indicador nos dois blocos CPLP/CEDEAO (3.610$).
Ademais, em termos de cooperação Sul-Sul, os principais doadores da Guiné- Bissau nos ultimos anos tem sido a Angola, Brasil e China sendo que essa traduz se no financiamento de projectos de infra-estrutura, e assistência técnica de diversa ordem totalizando mais de 20% do PIB do país.
Com tudo isso podemos concluir que estratégicamente, o nosso desenvolvimento tem que passar pela aposta e reforço da cooperação no seio da CPLP, sem pôr de parte a cooperação com os vizinhos da CEDEAO, porquanto pertencemos a mesma união monetária (UEMOA). O paradigma tem que mudar focalizando-o em países como Angola, Portugal, Brasil e Moçambique, sem negligenciar o exemplo de boa governação de Cabo verde.
Angola, sendo o segundo maior exportador de petróleo em África a seguir á Nigeria, tem tido crescimento na ordem dos 2 digitos nos ultinos 10 anos e tem alargado a sua àrea de influência a todo o continente. Segundo um relatório recente do "Economist Inteligence Unit", a Angola deverá ultrapassar até 2016, a África do Sul, actualmente a maior economia do continente.
Quanto ao Brasil, temos o privilégio de pertencer a uma comunidade que tem um dos paises que faz parte do G20, e dos países que faz parte dos chamados emergentes ou seja BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul) com os beneficios daí subjacentes sem esquecer a afinidade linguistica que há.
Portugal, além dos laços históricos, culturais e linguísticos, é um interlocutor privilegiado junto da União Europeia, um dos maiores parceiros económicos da Guiné Bissau. Apesar da crise e de estar debaixo de assistência económica e financeira, tem dado provas de apoio total a todos os esforços de consolidação da paz e desenvolvimento do País.
No seio da CEDEAO, podemos destacar 2 paises (as 2 economias mais poderosas) a saber: a Nigéria e a Costa de Marfim. O 1º, apesar de ser o maior produtor de petróleo de África e ser uma grande economia, está megulhado numa profunda crise estrutural, politica e social por via dos problemas causados pelo fundamentalismo islamico/guerra entre religiões do BOKO HARAM e não só, com reflexo na coesão social do país. Por isso, a Guiné Bissau nunca seria uma prioridade para a Nigéria. A Costa de Marfim também se depara com guerras tribais, resquícios da luta entre facções rivais (pró Ouatará e pro Gbabo), tendo causado milhares de mortes nos ultimos anos e que está a minar o desenvolvimento deste país. Resumindo e concluindo, instabilidade no seio da sub-região com efeitos na Guiné Bissau.
Pelo atrás exposto, julgo ser razoável apelar ao bom senso de quem de direito para que seja estabelecido um plano a longo médio/prazo inclusivo (CPLP- CEDEAO), mas direccionado para a consolidação da nossa presença na CPLP, bem como ao reforço da cooperação com os países que fazem parte dela.
PS: eu, lusófono me confesso…
Fonte dos dados: FMI, Banco Mundial, OCDE, EUROSTAT, Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), PORDATA, African economic Outlook, Economist Inteligence Unit etc
Eduardo Jaló
Licenciado em Gestão e Administração Pública
Técnico Superior na AT