sábado, 4 de agosto de 2012

Embaixador em Lisboa confirma pedido para abandonar o cargo: «Li na internet, mas estou aguardando a notificação oficial»


O embaixador da Guiné em Portugal, Fali Embaló, confirmou hoje ter recebido instruções das autoridades de transição em Bissau para se preparar para abandonar o cargo, informação que está afixada no Ministério dos Negócios Estrangeiros guineense.
As autoridades de transição da Guiné-Bissau comunicaram a intenção de substituir os embaixadores do país em Portugal, França e União Europeia, por três novos encarregados de negócios.

Fali Embaló ainda não recebeu a «notificação oficial», nem tem a indicação de uma data concreta para abandonar o seu posto. Até lá, vai «desempenhando cabalmente» as suas funções, disse em declarações à agência Lusa. «Li na internet, mas estou aguardando a notificação oficial», referiu o diplomata, acrescentando que recebeu, «há um mês», das autoridades de transição guineenses, no poder desde o golpe de Estado de 12 de Abril, uma carta na qual era aconselhado a «preparar-se» para se «despedir» de Portugal.

O embaixador da Guiné em Portugal disse ter tomado «boa nota» pedindo para que fossem reunidas «as condições para o regresso ao país natal», nomeadamente a passagem de avião e a expedição de bagagem «com toda a legalidade». «Não sou nenhum ladrão», realçou em declarações à Lusa. Fali Embaló é também o representante da Guiné-Bissau junto da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que não reconheceu o golpe de Estado no país.

Sobre as razões apontadas pelo Governo de transição para a sua saída, adiantou: «Dizem que eu não pactuo com o golpe. Como não reconheci o golpe de Estado… é ridículo». Tudo isto – reconheceu o diplomata de carreira – «faz parte, são ossos do ofício de um embaixador, um general não escolhe a frente de combate». E garante: «Estou pronto para enfrentar [outras funções] lá onde eles [os dirigentes guineenses] acharem. Nasci na Guiné-Bissau, para mim é um prazer regressar ao meu país natal».

Porém, lembra Fali Embaló, «os embaixadores são apartidários» e não podem expressar simpatias partidárias. «Sou embaixador da República da Guiné-Bissau, Não sou embaixador de a, b, c ou d», sustenta. Sem se alargar em comentários políticos, o diplomata não deixa de considerar que as autoridades de transição guineenses deviam estar preocupadas com assuntos mais importantes do que «transferências» diplomáticas. «Acho que eles deviam (…) preocupar-se com outras questões, por exemplo a situação interna, os atrasos salariais…», enumera.

Este é o terceiro golpe de Estado na Guiné-Bissau que apanha Fali Embaló no estrangeiro. «Um general, quando atinge o patamar da sua carreira, não tem que temer nada», frisa. Lisboa foi o seu quarto posto, onde está nem há dois anos. Passou por Bruxelas (Bélgica), Paris (França) e Dacar (Senegal). Estudou em França e não conhecia Portugal até ser nomeado embaixador. «Gostei, no princípio tinha uma certa dificuldade, porque era mais francófono do que outra coisa, mas agora sinto mais à vontade», confessa.

O poeta Carlos Edmilson Vieira (conhecido como 'Noni'), até aqui representante da Guiné junto da UNESCO (agência da ONU para educação, ciência e cultura), deverá substituir Fali Embaló. Trabalharam juntos em Paris, mas o embaixador recusa comentar a escolha das autoridades de transição. Na sequência do golpe de Estado de 12 de Abril, Portugal decidiu retirar o embaixador da Guiné-Bissau, estando apenas representado igualmente por um encarregado de negócios. LUSA