Sonhei esta madrugada que morri. Tinham-me encravado um punhal longo e fino, que atravessou o peito e ficou enterrado no colchão.
Acordei, e estava vivo. Não havia punhal nem sangue. E nem um cadáver. E lembro-me de pensar: "ainda não morreste, safado dum raio!"... Mas também eu não levo a morte a sério. Há que aceitá-la, como simples impostora que nunca deixará de ser.
Perguntaram uma vez ao Ernest Hemingway a sua opinião sobre a morte: "Outra puta" - disse o escritor de "O Velho e o Mar", que lhe valeu o Pulitzer e, mais tarde, o Prémio Nobel da Literatura. Aliás, Hemingway repetiu sempre que um homem pode ser destruído, mas não pode ser vencido.
Parafraseando Mário Vargas Llosa (Prémio Nobel da Literatura 2010), a quem as más-línguas atribuem um romance com a mulher de Gabriel Garcia Márquez (outro Nobel da Literatura), disse isto da morte, numa recente entrevista ao EL Pais Semanal:
"A verdade é que nunca parei. E não penso parar enquanto tiver ilusões e curiosidade, e enquanto a cabeça funcionar - por agora, acho que continua a funcionar. A velhice não me assusta desde que possa continuar a deslocar-me. Aproximo-me da morte sem pensar nela, sem a temer. Enquanto estou a trabalhar, sinto-me invulnerável". AAS