"É minha, que me veio de minha mãe Sycorax,
Esta ilha que me roubaste! Quando aqui chegaste,
A princípio eram só afagos, tudo atenções, e davas-me
Água com bagas dentro; ensinavas-me
O nome da grande luminária e o da mais pequena
Que dia e noite brilham; e ganhei-te assim afeição
E mostrei-te então todas as qualidades da ilha;
Frescas torrentes, poços salobros, os sítios áridos e os férteis"
Lamento de Caliban n'A Tempestade
Uma senhora do Iowa (EUA) escreveu a Ernest Hemingway:
"Li há alguns anos o seu livro 'Na Outra Margem Entre as Árvores' quando foi publicado em folhetim na Cosmopolitan. Depois da bela descrição inicial de Veneza, esperava que o livro prosseguisse no mesmo tom, e se revelasse de peso considerável, mas fiquei desapontada...
Mais tarde foi publicado 'O Velho e o Mar' e eu pedi ao meu irmão, que é um homem maduro, e passou quatro anos e meio na tropa durante a LL Guerra, se este livro seria mais maduro emocionalmente do que o Rio e as Árvores e ele fez uma careta e disse que não.
Hemingway, no livro, responde à sra G.S. Held
Via-se que esta senhora não tinha gostado nada do livro e tinha todo o direito de não gostar. Se estivesse no Iowa tinha-lhe devolvido o dinheiro que tinha gasto para recompensar a eloquência dela e a referência à LL Guerra. Parti do princípio que queria dizer II Guerra e não Longa e Lamentável...
Era um prazer estar ali sentado a uma mesa da tenda vazia da messe a sós com a minha correspondência e a imaginar o irmão dela emocionalmente maduro a fazer uma careta talvez na cozinha a trincar um croquete tirado do frigorífico, ou sentado em frente da televisão a ver Mary Martin no Peter Pan e pensei em como tinha sido simpático da parte desta senhora do Iowa ter-me escrito e em como seria agradável ter aqui neste momento o tal irmão emocionalmente maturo a abanar a cabeça com uma careta. Não se pode ter tudo, velho escriba, disse eu filosoficamente para os meus botões...
Mandei para o diabo aquela estúpida cabra do Iowa a escrever cartas a pessoas que não conhece sobre coisas de que não percebe nada e desejei-lhe a graça de uma morte feliz o mais brevemente possível...
Ernest Hemingwai em "Verdade ao Amanhecer" - págs. 250/251