sábado, 23 de janeiro de 2016

CARLOS CORREIA: Existem "manobras para interromper desenvolvimento do país"


O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Correia, afirmou hoje que "existem manobras para interromper o desenvolvimento" do país. O chefe do Governo falava na qualidade de primeiro vice-presidente do PAIGC nas cerimónias realizadas em Morés, norte do país, para assinalar o 53.º aniversário do início da luta armada pela independência. O histórico dirigente, 81 anos, acrescentou que "as manobras irão falhar", porque, frisou, "o povo não irá deixar".

"Tentaram a mesma manobra em agosto e não conseguiram. Não desistiram e estão a tentar de novo, mas vão falhar porque o nosso povo não irá deixar", defendeu, usando um boné do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Correia presidiu hoje às cerimónias em que deveriam estar o Presidente guineense, José Mário Vaz, e o ex-primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, mas nenhum deles compareceu.

O Governo responsabilizou esta semana o chefe de Estado pela crise política no país desde que em agosto demitiu o executivo dirigido por Simões Pereira. Carlos Correia disse estarem em curso trabalhos "para mostrar ao povo quem são os verdadeiros corruptos" na Guiné-Bissau, numa referência a vários processos de inquéritos às contas públicas mandadas fazer pelo Governo e pelo Parlamento.

"O povo tem que saber quem são os corruptos", defendeu Carlos Correia, num tom de voz exaltado que não lhe é habitual, sendo conhecido pela sua forma branda de falar. O responsável político disse que se os governos do PAIGC não têm conseguido desenvolver o país desde a independência, há 42 anos, tal deve-se a "crises e entraves fabricados" por pessoas que não identificou.

Viúva de Amilcar Cabral pediu aos guineenses para "convergirem nos ideais da luta pela independência"

Convidada de honra para as celebrações, Ana Mária Cabral, viúva de Amílcar Cabral, fundador do movimento independentista, lamentou que a Guiné-Bissau "continue a ter dificuldades para avançar". A viúva apelou hoje aos guineenses, veteranos e atuais dirigentes, para "convergirem nos ideais da luta pela independência" que, disse, visavam a melhoria das condições de vida da população.

A população de Morés aproveitou a ocasião para mostrar aos jornalistas e dirigentes do partido que a vila "não tem nada": falta um hospital, não há escolas, estradas, nem água canalizada desde que o país declarou a independência em 1973, disseram. "Morés foi o centro da guerra da independência. Nós é que demos o corpo à luta para que pudesse ter o êxito que teve, mas hoje não temos mesmo nada", afirmou à Lusa o veterano Sende Bodjan, merecendo a concordância de mais de 20 antigos combatentes em redor.

Durante os primeiros anos de independência, Morés ainda teve a funcionar um internato que albergava sobretudo jovens cujos pais morreram na guerra, mas com o advento da liberalização económica e política nos anos 90, a escola fechou as portas. O internato de Morés era o centro nevrálgico da vila e com o seu encerramento "a vida desapareceu", explicou o jovem Bocar Seidi, 34 anos, mas que já se assume como velho.

Velho e decrépito é o panorama que Morés hoje ostenta, ainda que conserve sinais do passado e das infraestruturas sociais que detinha. As casas parecem não ser pintadas há décadas, os acessos são caminhos de pó, o hospital, contam os habitantes, tem as portas encerradas "quase sempre" e o mercado local, a céu aberto, quase não tem nada.

Morés "já não é o que era", enfatiza o "velho" Bocar Seidi, que guiou a Lusa numa rápida visita à vila, momentos antes das cerimónias oficiais do 23 de janeiro, que tiveram como ponto alto a condecoração de 21 veteranos de guerra com a medalha Amílcar Cabral. A distinção, a ser continuada durante todo o ano de 2016, é da direção do PAIGC. Lusa