domingo, 29 de novembro de 2015

DSP discursa na Internacional Socialista


De 27 a 28 de novembro, sob a égide MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola foi realizado em Luanda, a segunda reunião anual do Conselho da Internacional Socialista, que contou com a participação de mais 160 representantes oriundos de diferentes países, daquela que é considerada a maior organização mundial dos partidos políticos sociais-democratas, socialistas e trabalhistas.



Neste encontro, o país esteve representado ao mais alto nível. O PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, através do seu Presidente, Domingos Simões Pereira, acompanhado pelo Secretário Nacional, Aly Hijazy e pela Secretária para a Organização das ações políticas e estratégicas, a Combatente da Liberdade da Pátria, Teodora Inácia Gomes tomou parte nesta reunião.

Foi ocasião, para o Presidente do PAIGC proferir um discurso para os seus camaradas socialistas, espelhando o difícil cenário que a Guiné-Bissau vem passando, após a vitória do seu partido, nas urnas com a maioria absoluta, nas eleições gerais de 2014, que passo a citar, em baixo, na integra:

Senhor Presidente


DOMINGOS SIMÕES PEREIRA, Presidente do PAIGC

Senhores membros da nossa grande família política

Muito nos regozijamos por estar de volta à Cooperação e à partilha com os partidos irmãos da esquerda, partidos da orientação socialista.

Isso nos lembra que o socialismo e a esquerda são antes de mais uma ideologia, uma explicação do mundo - uma capacidade de visar a justiça colocando o homem em primeiro lugar.

A esquerda e o socialismo são sobretudo o princípio da defesa dos direitos fundamentais das sociedades pela igualdade e fraternidade. A identificação com a esquerda deriva ou depende da capacidade em produzir políticas que colocam o Homem e não o capital em primeiro lugar.

Essa capacidade fez lendários os líderes como Agostinho Neto, Kwame N’Krumah, Patrice Lumumba e Amílcar Cabral ao lançarem o princípio do não alinhamento e a luta pela soberania e a autodeterminação dos nossos povos.

E, se hoje constatamos tantas dificuldades de afirmação em muitos dos nossos países que no momento da independência constituíram tantas promessas, será sobretudo porque em algum momento sob a pressão do liberalismo e outros condimentos democráticos, abandonamos a nossa ideologia e a defesa dos nossos princípios.

Eis o que está na base da teoria filosófica que sustenta a incompatibilidade entre o exercício democrático, a defesa da soberania e a promoção do crescimento económico. Eis as razões porque a Europa e grande parte das potências Europeias, insistem em encontrar solução á crise prevalecente, através de reformas financeiras e não económicas. Eis porque actual o ensinamento de Amílcar Cabral, “temos de pensar com as nossas próprias cabeças…” e, de acordo com Carlos Lopes “procurar o rumo e não o norte porque agora o rumo pode ser a sul”.

Tal é o caso do meu país, a Guiné-Bissau que tanto já sofreu e continua a sofrer.

Não tendo tempo nem espaço para recuarmos tanto no tempo, faço uma simples actualização sobre a situação política presente no país.

Muitos de Vós acompanharam os acontecimentos que se seguiram à demissão do meu governo no dia 12 de Agosto de 2015 por um decreto presidencial. Um governo resultante das ultimas eleições legislativas que deram uma maioria absoluta ao meu partido, o PAIGC.

Aliás, mesmo o Presidente da República, para ser eleito contou com o apoio do nosso partido o PAIGC.

Foi no entanto exactamente quando considerávamos estarem criadas as condições necessárias , ou sejam:

• eleições transparentes e resultados aceitados por todas as partes;

• formação de um governo de base alargada com a participação de outras forças políticas;

• consenso nacional a favor da paz e da estabilidade

Que o Presidente decidiu se converter na força da oposição, tentando bloquear o desenvolvimento, todo o sucesso do governo.

Muitos não compreenderão, mas para nós é evidente que essa situação resulta da falta de ideologia, da falta de uma visão estratégica que coloque o país em primeiro lugar e sobretudo pela falta de um compromisso com o futuro de todo o nosso povo;

Contudo, felizmente que da Guiné-Bissau não trazemos só más notícias. No ano e meio de governação, o primeiro governo do PAIGC por mim liderado, foi capaz de implementar um programa de urgência que enfrentou com visível sucesso os desafios mais imediatos e de curto prazo. Paralelamente, pôde conceber e apresentar um Plano Estratégico e Operacional que foi batizado de “Terra Ranka” e que obteve a maior adesão nacional e o apoio da Comunidade Internacional.

Estando em vésperas da COP 21 de Paris, é relevante mencionar que Guiné-Bissau colocou a biodiversidade no centro da sua estratégia de desenvolvimento e apresenta indicadores muito importantes sobre a preservação das espécies e a qualificação das zonas protegidas.

Apesar disso, há que reconhecer a sua enorme fragilidade. Constituída de uma extensa zona ribeirinha e de muitas ilhas e ilhéus, está exposta (sobretudo as zonas de produção rizicola) aos efeitos nefastos da subida do nível médio das águas do mar, ligadas este ao sobre-aquecimento global.

Por tudo isso, é do interesse da Guiné-Bissau uma abordagem combinada com base numa visão partilhada para a concepção de uma política equilibrada sobre a Justiça climática, a criação de um fundo verde do clima, a questão dos subsídios para combustíveis fosseis, um imposto sobre o carbono, entre outros.

Para isso, o PAIGC irá apoiar os esforços do governo, exortar a uma participação dinâmica e efectiva, tanto a nível sub-regional e global como contando com o apoio dos amigos no quadro da Internacional Socialista.

Bem hajam!”