sexta-feira, 25 de setembro de 2015
LIVRO/OPINIÃO: A desesperança no Chão da Guiné-Bissau
Aos guineenses, na terra e na diáspora, e aos numerosos amigos da Guiné-Bissau dedicou Tony Tcheka (pseudónimo de António Soares Lopes Júnior) o seu livro "Desesperança no chão de medo e dor", em Setembro lançado na Alemanha e em Portugal e que em Outubro o deverá ser na própria cidade de Bissau.
Inspirado na palavra do escritor uruguaio Mário Benedetti, segundo a qual um homem não se deve render, nem ceder, o autor de "Noites de Insónia na Terra Adormecida" e de "Guiné Sabura que Dói", surgidos respectivamente em 1996 e em 2008, entregou-nos mais 50 poemas, em português e em crioulo, para nos falar de uma Guiné-Bissau maltratada, onde por vezes nem sequer há energia eléctrica, nem água potável, a correr das torneiras.
Tony Tcheka, que já foi director do jornal "Nô Pintcha" e correspondente tanto da BBC como do jornal PÚBLICO, de Lisboa, tenta, pela poesia, libertar-se da tão grande desesperança que ameaça os naturais da Guiné-Bissau, 42 anos depois de terem proclamado unilateralmente uma independência que teima em não florir tanto quanto se desejaria.
Os seus poemas são um fruto da política menos correcta que se tem feito da terra onde nasceu Amílcar Cabral e onde foram assassinadas pessoas como o Presidente Nino Vieira.
Neste livro, ilustrado por Ismael H. Djata e editado pela Corubal, de Bissau, notamos bem que o medo é o "traje que veste a alma" da Guiné-Bissau, onde ainda em Agosto o Presidente José Mário Vaz decidiu afastar o primeiro-ministro Domingos Simões Pereira e promover um Governo que só se aguentou 48 horas , até finalmente ser chamado como novo primeiro-ministro o veterano Carlos Correia.
"O tempo passa./amassam-nos/bloqueiam as artérias/mantendo-nos fora/do espaço dos ponteiros do tempo./e o tempo passa ./e nós a sobra do prato vazio/definhámos...".
O tempo vai passando; e os guineenses, resignados, desfazem-se no tempo que passa e ficam como náufragos, na terra adiada.
Urge encontrar a canoa que leve a bom porto o povo guineense. É o que parece dizer-nos Tony Tcheka, de 63 anos, que já tem sido referenciado na França, no Brasil, na Alemanha e no Reino Unido.
O livro de que desta vez aqui falamos inclui textos que sobre o poeta em questão escreveram Odete Semedo, Robson Dutra Unigranrio, Maria Estela Guedes, Arlinda Mártires Nunes, Moema Parente Augel e J. Adalberto Campato.
Jorge Heitor