quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Excitação


Guiné-Bissau tem hoje um jornalismo bastante pior (E não falo dos jornaleiros, nem daqueles curiosos que se arvoram em 'jornalistas' mas que facilmente confundem a catana com a caneta...) E isso é mau, até porque devia ser melhor, por em geral dispor de outros meios e recursos, designadamente tecnológicos. Mas isso é outra história... Eu estou aqui para escrever sobre a falta de profissionalismo, e de alguma subserviência que reina na nossa imprensa.

Leia-se os jornais. Uma frase, três erros. Ninguém se dá ao trabalho, depois de escrever, de ler, reler vezes sem conta o texto. Não, para quê? Isso é uma canseira e às tantas a coisa pode ficar ainda pior. Mas, o pior mesmo, é que o guineense que compra e lê o jornal...contenta-se por ter nas mãos 12 páginas de caracteres azuis ou cor de rosa e não sei que mais, escrito num português mau, mas tão mau, tão mau, tão mau...

A imprensa guineense (para mim é católica, pois sai quando deus quer) difunde facilmente o sensacionalismo, a espectacularidade, a demagogia, a falta de rigor e, às vezes, até faltas de respeito pelas pessoas, e a sua vida privada. Temos, por isso e na minha modesta opinião – ela vale o que vale, uma imprensa baralhada que confunde factos e opiniões; que transforma os próprios políticos em «comentadores»; que tem uma tremenda falta de notícias, e notícias bem feitas (exemplo simples: ao reportarem um colóquio ou debate com vários participantes, são capazes de «escolher» o que dizem apenas dois ou três, por serem os mais badalados, não referindo sequer a presença dos restantes, ou de narrar apenas o episódico, em prejuízo do essencial); etc.

Pior mesmo só o agravamento que se tem notado ao nível do laxismo no que respeita à ética. Não há bom jornalismo, nem sequer jornalismo decente, sem escrupuloso respeito pelas normas deontológicas (ATENÇÃO que um blogue NÃO é um órgão de informação, ainda que muitos pensem o contrário: fulano, o jornalista do blogue tal. Treta da grande!).

A verdade é que a deontologia não pode ceder a nenhum tipo de conveniências (falo de jornalismo, quando é sustentado por um órgão de comunicação social. Um exemplo? Muitas coisas que escrevo no blogue, enquanto blogueiro, activista dificilmente seriam publicáveis num jornal). E devemos ser nós, jornalistas, que temos de nos bater por elas, recusando terminantemente o corporativismo que caracteriza outras profissões, incluindo as magistraturas.

Esta minha contribuição pretende ajudar no sentido de se ultrapassar práticas ou defeitos que temo estejam a conduzir a uma progressiva degradação da imagem dos jornalistas. O jornalismo é antes de tudo «responsabilidade» e não «poder». A consciência da nossa responsabilidade, uma seriedade sem mácula, uma honestidade acima de toda a suspeita, de par com o espírito livre e a independência são os primeiros passos para um exercício digno da profissão.

O jornalista não pode ser arrogante, mas deve ser sempre que necessário incómodo, sobretudo com os poderosos; tem de saber ouvir os outros e respeitá-los, não ceder ao sensacionalismo nem à facilidade, fazer da isenção, do rigor e da qualidade exigências constantes.

Enquanto blogger e activista fundamentalista, disparo a torto e a direito. Mas quando faço jornalismo puro e duro, de investigação...aí a história muda de figura, e quem me conhece bem, profissionalmente, sabe que dou o melhor que sei e posso sem pedir meças nem licença a ninguém.

António Aly Silva
Jornalista