quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Rainha de Inglaterra

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«Se Bubo Na Tchutu abandonar as instalações das Nações Unidas será preso e será julgado». Foi um Primeiro-Ministro decidido, aquele que os guineenses e o mundo ouviram. Mas foi sobretudo um Primeiro-Ministro assustado - vocês é que não repararam.

Porém, antes mesmo de tudo isto, Bubo havia sido acusado – cozinhado pela sinistra DINFOSEMIL – de conspiração num hipotético golpe de Estado para derrubar ‘Nino’ Vieira.

FACTO: Bubo era o mais fiel aliado que o assassinado Presidente tinha no exército.

Preso na sua residência, nada mais restava ao Contra-Almirante. A fuga estava iminente. Bubo saiu de Bissau por terra, dormiu calmamente em Varela, num único quarto, atafulhado com meia dúzia de homens armados até aos dentes, e, manhã cedo, enfiou-se numa piroga que o conduziria à Gâmbia.

E por lá permaneceu, no seu exílio dourado, durante mais de um ano. Foi a Lisboa e Madrid. Participou numa conferência e tudo o mais. A primeira vez que Bubo falou à imprensa, ainda na Gâmbia, foi ao então repórter da Capa TV, Stéphane Bentura, para a reportagem «Africa Stups», em que orgulhosamente participei.

Começou por negar a acusação do Departamento do Tesouro norte-americano, que o classificou (sem no entanto apresentar nenhuma prova) de narcotraficante. Ou seja, seria como eu passar dos carretos e acusar Obama de ser...taliban. Ainda que sem provas.

Nessa entrevista, Bubo negou qualquer envolvimento no narcotráfico, e acusou o seu chefe directo, Tagmé Na Waié. «Perguntem-no, eu recebo ordens directamente dele. É ele o meu chefe». E ofereceu-se à Justiça: «Se me chamarem hoje, eu vou e respondo em tribunal». Ninguém o chamou. Nem a Justiça. Até que, um dia, o nome de Bubo veio novamente à baila.

De partida para a Gâmbia, com a intenção de enterrar ainda mais o Contra-Almirante, Zamora Induta, de peito feito, enfrentou os jornalistas. «Sr. Almirante, vai falar do Bubo Na Tchuto?», perguntaram. «Esse (Bubo) não é uma preocupação nossa» - foi a resposta de Zamora, em vez de... «Por causa dele, nem durmo à noite».

E uma bela manhã, com o sol nos píncaros, a notícia espalhou-se: Bubo está na sede das Nações Unidas, casa de ilustres hóspedes, uns com passagem breve, outros com longas estadias, com uma paisagem de cortar a respiração: o ilhéu do Rei, a ilha dos pássaros, uma estrada de merda na margem e, mesmo ao lado, coladinho, a Marinha de Guerra!

Pode parecer mentira mas chegou o 1 de abril (a tropa normalmente não escolhe datas por acaso) e, na rotunda do Império, a RDP-África, que comemorava mais um aniversário, estava entretida na montagem da tenda. A festa não podia esperar, o golpe em curso, sim! Haveriam de acordar com um post do Ditadura do Consenso e ficariam irremediavelmente para trás, metendo os pés pelas mãos. Comme d´habitude.

Resultado: Bubo saiu, comandou tudo, foi a tribunal, viu ser-lhe retirada a acusação e, depois, calmamente, reclamou o seu posto de volta. O que acabou por acontecer hoje, tomando posse daquilo que lhe competia.

Não precisamos de um Primeiro-Ministro com os poderes da Rainha de Inglaterra - que são... nenhuns! AAS