sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Presidente da TAP admite que houve “ordens superiores” para embarcar passageiros sírios


O presidente da TAP admitiu nesta sexta-feira que houve “ordens superiores” para terça-feira de madrugada embarcar os 74 passageiros sírios em Bissau, o que levou à suspensão da rota por parte da companhia de aviação portuguesa. À margem da reunião anual da Star Alliance, onde se encontram todos os responsáveis máximos das transportadoras aéreas que integram a aliança, Fernando Pinto quis deixar claro que “não houve demonstração de força perante a tripulação”, com se tem especulado. O gestor brasileiro esclareceu que “a maior pressão foi feita sobre o chefe de escala”, responsável pela ligação entre Bissau e Lisboa.

Questionado sobre o tipo de pressão exercido, o presidente da TAP disse que “vieram ordens superiores para embarcar”, com a ameaça de que, se tal não sucedesse, “o avião ficaria retido”. Fernando Pinto preferiu, no entanto, não especificar de quem vieram essas ordens. Ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Delfim da Silva, já tinha comentado: “Não estou a ver gente com armas a obrigar a tripulação a embarcar os passageiros”. Hoje, disse: "São detalhes que vão demorar a ficar esclarecidos." Uma comissão de inquérito foi já anunciada pelo primeiro-ministro.

A companhia não descarta a hipótese de retomar os voos, mas apenas “se não voltarem a acontecer situações deste tipo”, referiu o gestor, frisando que “o aeroporto tem de oferecer uma condição de conforto à empresa”. Quanto às negociações que estarão a decorrer entre os governos dos dois países para resolver a situação, o presidente da TAP não quis responder por se tratar de um “assunto de Estado”.

Uma das soluções poderá ser retomar o apoio do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) em Bissau. Até há um ano, era desta forma que funcionava a operação da TAP no país, mas “foi proibido pelas autoridades locais”, adiantou Fernando Pinto. “Agora há a hipótese e esse seria um caminho inteligente”, admitiu.

Delfim da Silva defende a reactivação do protocolo, que vigorou ao longo de 2012, de forma a ultrapassar o problema que este episódio criou entre os dois países. Conforme o acordo, inspectores do SEF faziam um controlo de passageiros à entrada do avião. Por esta via, as autorizades portuguesas terão conseguido reduzir de forma significativa a entrada de cidadãos oriundos da Guiné-Bissau com documentos falsos em território nacional. Findo o acordo, tudo terá regressado à estaca zero. Reactiviar o acordo não lhe parece complicado. Na opinião do ministro, seria uma forma de "criar confiança". PÚBLICO